Juros em queda e as dúvidas do investidor: aplicar em renda fixa ou DI?
07/06/2009
Com a taxa básica de juros (Selic) em queda, surgem dúvidas sobre aplicações com remuneração atrelada a esse indicador. Como escolher entre fundos de renda fixa ou fundos DI? Qual a melhor opção?
Ao compararmos a rentabilidade destas categorias nos últimos 12 meses, pelos dados da Anbid, não é possível ter uma ideia clara de por qual fundo optar. Entre maio de 2008 e abril de 2009, a renda fixa levou uma pequena vantagem: rendeu 12,96% ao ano ante 12,53% dos fundos referenciados DI e 12,39% dos fundos de renda fixa com médio e alto risco.
Mas a rentabilidade média não é apenas o único fator que se deve observar na escolha da aplicação. A diferença começa a ficar mais clara quando se observa a variação da rentabilidade mínima e máxima obtida em cada uma das categorias, fruto essencialmente da gestão e do nível de risco de cada uma.
Por isso, a resposta sobre onde aplicar sempre varia de acordo com o perfil de risco do cliente. Como lembra o professor da Faculdade de Engenharia e Administração da USP, Luiz Jurandir, o investidor tem que entender que investimento é igual remédio: pode ser bom ou ruim, vai depender da doença e do paciente. Antes de optar pelo fundo DI ou fundo de Renda fixa, portanto, o melhor é conhecer a diferença entre cada produto.
Fundos Referenciados DI
Os fundos referenciados DI são investimentos considerados conservadores e costumam ser usados para proteger o patrimônio do investidor, pois são atrelados à taxa de juros interbancária, o chamado CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que por sua vez acompanha a variação da taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic.
Quando a Selic aumenta, o rendimento do fundo DI sobe; quando a Selic cai, o mesmo ocorre com o fundo DI. Como estamos em um processo de queda da taxa de juros, a rentabilidade dos fundos DI tende a cair também.
As regras da CVM (Câmara de Valores Mobiliários), que regulamenta o setor de fundos, são bem rígidas quando se trata de fundos referenciados. Estes devem conter na sua denominação o seu indicador de desempenho (no caso, o CDI), e devem atender todas as seguintes condições: ter no mínimo 80% de seu patrimônio líquido em títulos emitidos pelo Tesouro Nacional ou Banco Central ou títulos e valores mobiliários de renda fixa cujo emissor esteja classificado na categoria baixo risco de crédito, com certificação por agência de classificação de risco localizada no País (por exemplo, CDB de grandes bancos).
Além disso, 95% da carteira destes fundos deve ser composta por ativos que visem acompanhar a variação desse indicador de desempenho. A atuação no mercado de derivativos também deve ficar restrita a operações que tenham objetivo de proteger as posições.
Com todas estas regras, o que faz a diferença de rentabilidade para estes fundos é a chamada taxa de administração, que varia bastante entre os gestores. Essa diferença fica clara quando se observa o quadro das rentabilidades mensais divulgado pela Anbid. Em abril de 2009, a rentabilidade mínima destes fundos foi de 0,20% e a máxima alcançou 1,20%. Uma diferença de 500%.
Com o atual nível de taxa de juros, uma taxa superior a 1,5% ao ano já faz com que a rentabilidade do fundo DI perca da caderneta de poupança, lembra o professor Luiz Jurandir, pois sobre esta não incide cobrança de Imposto de Renda nem taxas de administração. (Vale lembrar que tramita no Congresso Nacional uma proposta de lei para tributar aplicações acima de R$ 50 mil na caderneta de poupança).
Fundos de renda fixa
Pelas regras da CVM, os chamados fundos de renda fixa devem possuir 80% da carteira em ativos relacionados diretamente aos principais fatores de risco da carteira que podem ser a variação da taxa de juros do país ou um índice de inflação, ou ambas.
Como estes fundos buscam uma rentabilidade mais elevada do que a dos fundos DI, trabalham com um nível de risco também maior. De que maneira? Os gestores compram ativos prefixados ou pós-fixados, que podem ser títulos do Tesouro e do Banco Central, além de CDBs, RDBs e debêntures, dependendo da expectativa de queda ou elevação da taxa de juros do país.
Mas, diferentemente dos fundos referenciados DI, em que 80% dos títulos têm de ser obrigatoriamente de baixo risco, nos fundos de renda fixa não existe essa obrigatoriedade. Daí o risco maior.
Dentro desta categoria de fundos encontram-se os renda fixa tradicionais e os que embutem médio e alto risco, inserindo em suas carteiras ativos que oferecem uma maior probabilidade de ganho, mas que também podem representar perdas expressivas no patrimônio de seus clientes. Também pelas regras da CVM, todos os fundos que operem com derivativos capazes resultar em perdas patrimoniais ou, em especial, levar à ocorrência de patrimônio líquido negativo, deverão conter esta advertência ao investidor logo na capa do prospecto e também em todo o material de divulgação.
Por tudo isso, é necessário que, antes de alocar recursos em um fundo, o investidor tome alguns cuidados básicos como ler o prospecto, verificar taxa de administração e outras possíveis taxas cobradas, como taxa de performance, acompanhar e comparar a rentabilidade do fundo e também a condição do gestor.
Para se ter uma ideia da possibilidade de variação da rentabilidade desse tipo de fundo, observemos os dados da Anbid relativamente ao mês de abril de 2009.
Nesse período, a rentabilidade mínima dos fundos de renda fixa foi de -1,73% e a máxima chegou a 2,63%. A rentabilidade média desse segmento ficou em 0,70%.
No mesmo período, os fundos de renda fixa com médio e alto risco alcançaram rentabilidade mínima de -0,93% e máxima de 1,67%. Na média, a rentabilidade dessa categoria foi de 0,80%. Mas entre a média e o rendimento máximo nota-se uma diferença de 275,71% no primeiro caso e de 108,75% no segundo. Pode-se creditar a variação às escolhas feitas pelos gestores de cada fundo. Daí a importância de se avaliar bem onde colocar o seu dinheiro.
Fonte:
Uol Economia
Sophia Camargo