Italiana Riva negocia com a Vale usina de placa no Brasil

09/01/2009

Projeto prevê produção de 1 milhão de toneladas de aço

O grupo italiano Riva Acciao, um dos maiores da Europa e décimo-primeiro do mundo, negocia com a Cia. Vale do Rio Doce a construção de uma usina de aço semi-acabado (placas) no Brasil. A preferência, segundo uma fonte da empresa, é a região de Vitória, no Espírito Santo. O argumento é que as duas empresas já possuem uma antiga joint venture ao lado do porto de Tubarão, a Itabrasco, que produz pelotas de ferro, usado em alto-forno para fazer aço.

O desenho do projeto seria para fabricação de no mínimo 1 milhão de toneladas de placas por ano. De acordo com a mesma fonte, o presidente do grupo Riva encontra-se no Brasil em conversações com a alta direção da mineradora, comandada por Roger Agnelli.

A Vale confirmou que foi procurada há duas semanas pela cúpula do grupo italiano, interessado em ser sócio em uma usina de placas de aço, num investimento da ordem de US$ 300 milhões.

Houve uma conversa inicial entre representantes da Riva e Agnelli, sobre o empreendimento, conforme informou sua assessoria. O executivo da Vale ressaltou, aos italianos, que o aspecto da infra-estrutura para desenvolver o projeto tinha que ser analisado com mais detalhes. A Vale não fez menção ao local onde poderia ser instalada a nova usina.

Com base na Itália e operações em diversos países da Europa, como Alemanha, Espanha e França, além do norte da África, a Riva produz por ano 16 milhões de toneladas (dado de 2003, segundo o Instituto Internacional do Ferro e Aço-IISI). Cerca de 60% da produção são aços planos (laminados, com alto grau de acabamento) e os demais 40% de produtos longos, como vergalhões, perfis e fio-maquina.

Atualmente, a Riva enxerga barreiras para crescer sua fonte de material semi-acabado (caso de placas) na própria Europa. Um desses problemas é o custo do transporte do minério do Brasil para o outro lado do Atlântico. Ficaria mais competitivo levar o produto semi-acabado para suas laminações.

Há uma corrida para montar bases de produção fora das regiões com elevados custos de mão-de-obra e fortes restrições ambientais para instalar novos e manter em operação altos-fornos. Se a Arcelor e a Posco já definiram estudos para usinas de placas no Maranhão, porque não fazer o mesmo, argumenta o pessoal de planejamento estratégico da Riva.

O grupo siderúrgico alemão Thyssen estaria seguindo a mesma trilha, segundo declarou seu presidente em Istambul. Uma fonte brasileira presente no evento, encerrado ontem, informou que há conversações em andamento com a direção da Vale do Rio Doce. “É um processo mais demorado, mas que está em andamento”, afirmou.

Esse projeto, com valor estimado em pelo menos US$ 1,5 bilhão, é do mesmo porte da usina que a Vale, Baosteel e Arcelor estão estudando há mais de um ano para instalar em São Luis (MA), com capacidade na faixa de 4 milhões de toneladas ao ano. Mas, no caso da Thyssen, o Brasil estaria disputando com outros países, como Rússia e Austrália, locais onde há disponibilidade de minério de ferro. A Austrália dispõe também de carvão mineral para fazer coque.

A Vale tenta contornar uma questão um pouco delicada para agrupar diferentes produtores em um mesmo pólo siderúrgico no Maranhão. Conforme divulgado recentemente, o BNDES dispõe-se a financiar até um terço dos US$ 11,5 bilhões que custariam as três usinas. A direção da Vale está preocupada em não criar mal estar ao por lado a lado concorrentes na mesma região. Por exemplo: Arcelor e Thyssen ou Thyssen e Riva, bem como Nippon e JFE (ex-Kawasaki e NKK) ou JFE e Posco.

Por isso, as discussões com a Thyssen levam em conta uma outra localidade que não São Luis. A preferência dos alemães é a região de Itaguaí, ao lado do porto de Sepetiba, onde há um terminal que pertenceu a Ferteco, mineradora de ferro que a Vale adquiriu da Thyssen em 2001.

Valor Online
07/10/2004