Iraque procura fornecedores no Brasil

09/01/2009

Com o intuito de inserir o Brasil nos negócios da reconstrução do Iraque e ampliar o intercâmbio de relações comerciais, uma delegação oficial do governo iraquiano está em São Paulo para conhecer produtos brasileiros e iniciar negociações de parcerias com empresas do setor privado. É a primeira visita oficial em 14 anos.

Até o momento nenhum contrato foi fechado, mas de acordo com um levantamento realizado pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Iraque – entidade que tem como objetivo intermediar e facilitar a relação entre exportadores e importadores – o volume de negócios entre os dois países poderia atingir US$ 6 bilhões até 2010. É muito mais que o volume atual, que nos oito primeiros meses do ano alcança apenas US$ 100 milhões.

Entre janeiro e agosto deste ano, as exportações brasileiras para o Iraque somaram mais de US$ 60 milhões. Segundo a delegação, a expectativa é de que elas cheguem a US$ 100 milhões no fechamento de 2004.

Neste período de reconstrução, o Iraque precisa de todo o tipo de produtos, desde alimentos até peças para automóveis e empresas que trabalhem com construção civil, afirma Abdul Hadi K. Abid, diretor-geral do Departamento de Desenvolvimento do Setor Privado do Ministério do Comércio Exterior.

O diretor explica que o Iraque está em busca de produtos de qualidade e com os “melhores preços possíveis”, por isso o interesse em fazer negócios com empresas brasileiras. “O Brasil tem preços muito competitivos”, ressaltou. Por enquanto, na América Latina, a iniciativa de uma Câmara de Comércio só existe no Brasil, que é visto como um “país amigo e com grande potencial de negócios com o Iraque”.

Dentre os produtos que mais interessam ao governo iraquiano, Abid cita trigo, arroz, açúcar, chá preto, detergentes e outros produtos de limpeza, além de óleo de soja, sal, extrato de tomate, queijo, leite em pó e grãos variados. Questionado sobre os problemas de segurança no Iraque, o diretor amenizou a questão e disse que o governo iraquiano já aprovou uma lei de investimentos estrangeiros que dentre outros incentivos, oferece vantagens em impostos.

Abdul Hadi Abid, diretor do Ministério do Comercio do Iraque, minimiza os problemas de segurança no seu país
Apesar de admitir que o país foi bastante prejudicado e que precisa de um esforço concentrado para sua reconstrução, Abdul garante que a escassez de capital não preocupa. “Dinheiro é o menor dos problemas do país, porque temos reservas petrolíferas muito ricas”.

A Câmara de Comércio já tenta uma aproximação com empresas como Embraer, uma vez que o Iraque tem interesse em renovar sua frota de aviões, e montadoras como Scania e Volkswagen. Há também o interesse por empresas que queiram realizar empreendimentos voltados à construção civil e à infra-estrutura. “A tendência neste novo Iraque que estamos construindo é a livre concorrência entre as empresas”.

O governo, segundo Abid, pretende privatizar as empresas públicas e priorizar o investimento privado no país. Mas a reconstrução não é baseada somente em investimentos estrangeiros. Dos US$ 56 bilhões previstos para entrarem no país nos próximos três anos em empreendimentos ligados à infra-estrutura, cerca de US$ 32 bilhões são provenientes de doações, sendo US$ 18 bilhões fornecidos pelos Estados Unidos.

No primeiro semestre do próximo ano, o governo iraquiano planeja a vinda de 50 empresários para estreitar relações com o Brasil, uma proposta que deverá ser posta em prática por meio de parceria com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Negocia-se também a visita do ministro do Comércio do Iraque para acompanhar as negociações.

Atualmente, a pauta de exportações brasileiras para o Iraque é diversificada e envolve desde açúcar e frango congelado a motores elétricos, tubos de aço para oleodutos e gasodutos e partes e acessórios de carrocerias para automóveis. “Damos uma importância fundamental ao comércio com o Brasil”, enfatizou Aboud M. J. Altufaily, presidente da Confederação das Câmaras de Comércio Iraquianas.

Qualquer país pode participar das licitações e das concorrências no Iraque. Basta seguir algumas condições básicas, lembra Abid. “As empresas precisam ser sérias e cumprir prazos de entrega, por exemplo”. Além disso, o fabricante ou produtor deve participar diretamente da concorrência. Para isso, a empresa participante precisa adquirir um registro no Brasil legalizado pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Iraque.

A exceção são os produtos não-industrializados como soja e outros grãos, que podem ser vendidos por meio de uma empresa intermediária, sem a necessidade de negociar de forma direta com o produtor. Também será necessário nomear um representante no Iraque para realizar os trâmites das negociações, pois a empresa deve se registrar no Ministério do Comércio do Iraque.

Valor Online
5/10/2004