Ipea: crescimento do PIB é limitado pelo lado da oferta

09/01/2009

Não há um problema de demanda que limite o crescimento econômico do Brasil, mas sim de restrições de oferta, segundo o diretor de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Paulo Levy. O Ipea é o primeiro órgão do governo a projetar o crescimento deste ano abaixo de 3%. Está prevendo uma expansão do PIB de 2,8% este ano e de 3,6% no ano que vem. “O que temos observado é que a demanda vem crescendo de forma forte, refletindo a queda dos juros. Acho que o fator crítico para ampliar o crescimento do PIB é aumentar a oferta”, disse Levy.

De acordo com Levy, nesse contexto, a política monetária precisa mesmo ser gradual. Ele lembra que o Brasil vem de um longo período de baixos investimentos e que o uso da capacidade instalada na indústria está acima de 80% e não muito longe do pico histórico. “A maturação do investimento não acontece antes de um ano e um ano e meio”, afirmou. “O investimento no curto prazo só bota mais lenha na fogueira da demanda”, disse Levy.

De acordo com ele, o real valorizado expõe mais o efeito sobre a produção de “fatores estruturais, questões que eram encobertas pelo câmbio desvalorizado e que estão aparecendo”, como a alta carga tributária, os gargalos de infra-estrutura e os da regulação “talvez excessiva” sobre o trabalho.

Apesar do forte aumento do consumo privado, estimado pelo Ipea em 4,2% para este ano e 5,2% para o ano que vem, a produção interna não está crescendo tanto. O economista do Ipea Fábio Giambiagi destacou em entrevista esta tarde que o fator que explica a revisão da projeção para este ano, que era de 3,3% de setembro até hoje, é o aumento das importações de bens e serviços em 2006, cuja estimativa foi ampliada de 14% para 16,8%. O crescimento das exportações, que foi de 11,6% no ano passado e está projetado desacelerou e é explicado muito mais pela alta de preços do que pela quantidade de produtos vendidos ao exterior. Tudo isso tem influência do câmbio, observaram os economistas do Ipea.

O especialista em setor externo do grupo de conjuntura do Ipea Marcelo Nonnenberg observou que as importações estão crescendo muito mais que a demanda. Ele destacou de um lado os efeitos positivos das compras em outros países pelo aumento da produtividade. De outro lado, os aspectos negativos relacionados à substituição de produto nacional e enfatizou o caso do setor de automóveis, onde as importações estão aumentando mais de 100% este ano.

Juros

O Ipea prevê mais cinco quedas de 0,25 ponto porcentual da Selic (taxa básica de juros da economia), do atual nível de 13,25% para 12%, segundo Levy. Ele observa que essa projeção é compatível com uma taxa de juros real de entre 8% e 7,5%. Com a Selic em 12%, o Banco Central faria uma parada nos cortes para avaliar a situação, segundo o Ipea. As projeções para o IPCA indicam inflação abaixo da meta de 4,5%, tanto este ano, em que o Ipea está esperando 3,1%, quanto no ano que vem, quando o índice previsto é de 4,3%.

“Mas a situação no ano que vem é mais complicada”, disse Levy. Ele lembra que a meta para 2008 também é 4,5% e no ano que vem a tendência da inflação é de alta, em relação a este ano. Ou seja, o BC já em 2007 terá que lidar com uma inflação ascendente e próxima da meta para 2008. Levy disse ainda que a alta dos produtos agrícolas no atacado tem, no varejo, o seu efeito diluído.

O economista do Ipea Fábio Giambiagi citou a queda dos juros pagos nos títulos prefixados e a ampliação da participação desses títulos na dívida pública interna. Comentou que os juros pagos pelas Letras do Tesouro Nacional (LTN) furaram a barreira de 15% e estão abaixo de 13%, caminhando para 12,5% e 12%. Também observou que as Notas do Tesouro Nacional série F (NTN-F), de prazo mais longo e juros mais altos que as LTN, estão aumentando sua participação na dívida e tendem a continuar esse movimento.

Fonte:
Agencia Estado