IPCA aponta maior deflação em dois anos, diz iBGE
09/01/2009
No mês passado, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, principal índice de inflação do país) desacelerou e apontou deflação de 0,02%, a menor taxa desde junho de 2003, quando havia mostrado queda de 0,15% nos preços. Tecnicamente houve estabilidade de preços, segundo o IBGE.
O recuo da inflação no mês passado ocorreu em razão da redução dos preços dos alimentos e combustíveis.
O resultado ficou abaixo das previsões de analistas. Segundo o último Relatório de Mercado, organizado pelo Banco Central, a expectativa era de que o índice apurasse alta de 0,08%.
Em maio, o IPCA havia registrado variação positiva de 0,49%. Os dados foram divulgados hoje pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em junho, a principal contribuição negativa no índice veio do álcool combustível, que ficou 8,79% mais barato em razão da redução da cotação da cana-de-açúcar e da concorrência entre postos distribuidores. O impacto negativo no índice foi de 0,09 ponto percentual. No ano, o álcool acumula queda de 15,10%. A segunda maior influência negativa veio da gasolina, que caiu 1,51% e representou um impacto de -0,06 ponto percentual no índice.
No grupo alimentação e bebidas, a queda foi de 0,67% devido ao aumento da oferta de várias lavouras. Produtos como batata inglesa (-18,74%), cenoura (-16,89%) e tomate (-10,79%) ficaram mais baratos em junho.
A gerente do Sistema de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, destaca que os alimentos tiveram papel importante na contenção da taxa, apesar das estimativas menores da safra de grãos. As projeções iniciais indicavam uma safra recorde de 135 milhões de toneladas. As estimativas atuais apontam para 113,5 milhões, um resultado 5% inferior à safra do ano passado.
O dólar foi o fator decisivo para o recuo dos preços dos alimentos, segundo a técnica. Cerca de 60% dos insumos agrícolas são importados. “Aliado ao efeito câmbio existe ainda a guerra de preços entre os supermercados, que têm feito promoções de produtos como óleo de soja e azeite, por exemplo”, disse.
Os artigos de higiene pessoal também contribuíram para a deflação do índice, com queda de 0,63%. Papel higiênico e sabonetes tiveram quedas de 2,03% e 0,75%, respectivamente. Os remédios ficaram 0,10% mais baratos com a eliminação de impostos e principalmente com a concorrência entre drogarias.
Os artigos de vestuário subiram 0,38%, ante uma alta de 1,45% em maio. Segundo o IBGE, a desaceleração pode ser atribuída à antecipação das liquidações, com o atraso na chegada do inverno.
O telefone fixo exerceu a principal pressão positiva, com alta de 0,73% e influência de 0,02 ponto percentual. A elevação ocorreu em razão do reajuste de 7,99%, autorizado pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para as ligações de fixo para móvel aplicado em algumas regiões.
Em julho, o telefone fixo deve voltar a pressionar a inflação com o reajuste de 7,27% autorizado pela Anatel.
Segundo o economista da Fecomércio/RJ, João Carlos Gomes, a deflação de junho e a expectativa por um resultado favorável em julho podem servir como argumentos para que o Copom (Comitê de Política Monetária) inicie em agosto o ciclo de queda dos juros. “O desempenho do IPCA sinaliza que não há pressão inflacionária e indica a convergência para a meta estipulada pelo Banco Central”, disse.
No acumulado do ano, o IPCA registra alta de 3,16%. O resultado é superior à metade do centro da meta ajustada de inflação deste ano, de 5,1%. O indicador serve de parâmetro para as metas de inflação do governo. Nos últimos 12 meses, o índice acumula alta de 7,27%.
Entre as regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, as taxas mais altas foram verificadas em Salvador (0,32%) e Goiânia (0,35%).
A menor foi registrada em Curitiba, com deflação de 0,52%. Em São Paulo, a deflação foi de 0,02% e no Rio de Janeiro, de -0,10%.
O IPCA se refere a famílias com rendimento entre um e 40 salários mínimos e abrange Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador, Curitiba, Brasília e Goiânia.
JANAINA LAGE
da Folha Online, no Rio
10/7/2005