Inflação e alta dos juros: 52 milhões de pessoas estão inadimplentes

14/03/2014

Quase um quarto da população brasileira tem dificuldade de honrar as contas. A estimativa é de que pelo menos 52 milhões de pessoas tiveram ao menos uma dívida nos últimos cinco anos e foram consideradas inadimplentes no país, segundo dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) divulgados ontem. Só no Distrito Federal, 250 mil pessoas não conseguiram arcar com as responsabilidades financeiras no mês de fevereiro. O índice de endividamento em atraso na capital federal foi de 4,9% — 0,1 ponto percentual a mais que em janeiro.

Os números mostram que a quantidade de brasileiros inscritos no SPC no mês passado aumentou 1,95% em relação a janeiro, maior crescimento desde 2010, início da série histórica. Quando comparado com fevereiro do ano passado, a elevação foi de 5,54%. “A taxa de juros alta e a inflação, somadas, resultaram na dificuldade de honrar as dívidas. Além disso, há o período de volta às aulas, que teve um peso grande no orçamento”, comentou o presidente do SPC e da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro.

O cenário econômico, segundo Pellizzaro, pode fazer com que os níveis de inadimplência continuem altos. “Acho difícil que haja uma queda nesse número (de 52 milhões). Nós estaremos bem se ele não aumentar. Não vejo nenhum fator que possa gerar uma maior folga no orçamento. Pelo contrário: a
 inflação está crescendo, o governo sinalizou uma maior taxa de juros, e o índice de emprego está estável”, completou.

Prescrição

O economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes, vê o cenário com mais otimismo. “Ainda há um aumento real da renda do trabalhador, o que ajuda a aliviar o peso sobre o orçamento. Além disso, mesmo com o crédito mais caro, os prazos para concessão continuam crescendo. O brasileiro não vê o juro, ele se baseia no preço da prestação, que dilui a taxa de juros”, comentou.

A quantidade de dívidas também cresceu, mas em proporção menor que a de pessoas inscritas no SPC. O índice de despesas aumentou 0,8% em relação a janeiro e 3,02% ante fevereiro do ano passado. A alta da quantidade de débitos é menor do que a de inadimplentes, segundo a economista do SPC, Luiza Rodrigues, porque há pessoas que pagam apenas uma das várias contas cadastradas.

A média de faturas em atraso por consumidor com dívidas não pagas é de 2,044, o menor desde o início da série histórica. Isso porque muita gente paga logo nos primeiros 40 dias após o cadastro, segundo o Serviço de Proteção ao Crédito. “Acima de um ano, a dívida tende a não ser quitada. O consumidor prefere deixar que ela prescreva, o que acontece depois de cinco anos”, pontua Luiza. A maior parte das dívidas inscritas no SPC (71,38%) tem mais de um ano.

 

Fonte:
Diario de Pernambuco