Importação faz expansão do comércio se distanciar da indústria

09/01/2009

Enquanto a indústria patina, o comércio brasileiro vem crescendo a taxas pelo menos três vezes superiores. A distância não tem uma única razão, mas economistas apontam principalmente a China e suas importações, que estimulam o varejo mas não o setor produtivo.

A China ocupa o terceiro lugar na lista de países fornecedores para o Brasil e, levando em conta os números totais da balança brasileira, as importações de bens de consumo são as que mais crescem, com expansã o de 44% somente em outubro.

“A indústria vem apresentando o que chamamos de vazamento de capacidade produtiva, devido à perda de competitividade imposta pelo câmbio valorizado e à crescente presença de produtos importados no mercado doméstico”, afirmou Boris Tabacof, diretor de pesquisas do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).

“Isso é importação. Você olha os dados do varejo e vê que o que puxa é o setor de vestuário, justamente o que vem tendo importações bastante altas”.

Os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a produção industrial cresceu apenas 0,7% em agosto sobre julho, enquanto as vendas do comércio subiram 2,32% na mesma comparação.

No ano, até agosto, a indústria acumula alta de 2,8% e o comércio, de 5,3%. O destaque do varejo ficou com as vendas de tecidos, vestuário e calçados, com aumento de 3,63%.

“Uma parte do consumo doméstico tem sido suprida pelas importações. Se for mantido esse ambiente favorável para importar, esse movimento vai se manter, vamos continuar importando porque a situação da induústria não parece tão promissora”, disse Sandra Utsumi, economista-chefe do Bes Investimentos.

Dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que as importações brasileiras cresceram 33,7% em outubro sobre igual mês de 2005, sendo que as do setor de vestuário saltaram 65,3%.

As compras provenientes da China avançaram 55,5% sobre outubro do ano passado.

João Carlos Gomes, e conomista da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ), acrescentou que o aumento das vendas no varejo estimulado pelas importações pode ser notado também na queda de preços.

“Nos dados de comércio não tem divisão do que é importado ou exportado, mas com certeza você tem isso e isso acaba influenciando a queda de preços”, afirmou. “Você vê queda de preços de eletrônicos, por exemplo. Importação é controle de preços e é positivo para o comércio porque você tem mais opções de negociação e atrai mais consumidores”.

Para Salomão Quadros, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), “a China causou uma mudança de preços relativos na economia mundial, elevando os preços das commodities e reduzindo os preços dos bens de consumo”.

Uma pesquisa da entidade apontou nesta semana que a utilização da capacidade instalada na indústria de bens de consumo caiu de 81,7% em outubro de 2005 para 79,9% neste ano.

A intenção do setor de elevar preços também diminuiu, de 48% no terceiro trimestre de 2006 para 29% no quarto trimestre.

Os dois dados sugerem que o setor está operando com menor intensidade e com baixa margem de manobra para negociar preços.

Indicadores de produção e venda em São Paulo complementam os dados do IBGE e mostram que a situação não melhorou em setembro.

O faturamento do comércio varejista da região metropolitana de São Paulo registrou teve em setembro a maior alta do ano, de 7,9% sobre igual período de 2005, segundo a Federação do Comércio local (Fecomercio). O destaque da alta coube ao segmento de vestuário, tecidos e calçados, de 12,4%.

Já a produção industrial de São Paulo, de acordo com Fiesp e Ciesp, recuou 0,6% em setembro ante agosto.

Fonte:
Clicabrasilia