Fundos de pensão e Citigroup compram fatia da Brasil Telecom dos italianos
09/01/2009
SÃO PAULO – A noite avançava quando os controladores da Brasil Telecom (BrT) assinavam as últimas folhas para encerrar um importante capítulo da longa briga societária da operadora. Os sócios majoritários, os principais fundos de pensão do país e o Citigroup, fecharam a compra da fatia minoritária da Telecom Italia na companhia. Negócio de aproximadamente US$ 530 milhões, muitos acordos, contratos e adrenalina.
O afã dos donos da operadora deve-se à ansiedade para escrever rapidamente as próximas cenas dessa novela, que começou ainda em 2000. A idéia é levar a empresa ao Novo Mercado, após uma reorganização societária semelhante ao projeto frustrado da Oi, do ano passado.
O negócio com os italianos deve resultar na anulação de parte do contrato entre as fundações e o Citigroup – originalmente 1,4 mil páginas de documentos. Até então, a partir de novembro deste ano, o banco americano poderia obrigar os fundos Previ, Petros e Valia a comprar por R$ 1,045 bilhão, mais correção, sua parte na BrT. Essa obrigação das fundações deverá deixar de existir.
O convívio societário na BrT, que além dos negociadores inclui o antigo gestor do negócio, o Opportunity teve de tudo: traição, troca pública de comunicados divergentes sobre a empresa, polícia em reunião de acionistas e até escândalo de espionagem com o alto escalão do governo federal e a empresa Kroll.
A expectativa é que a saída da Telecom Italia traga harmonia ao comando da BrT. O Citigroup, acionista com mais pressa de sair do negócio e virar a página, poderá vender seus papéis diretamente ao mercado após a planejada reorganização. Hoje, não há essa alternativa, pois está travado na complexa estrutura de controle.
Foi uma longa negociação. Acostumados à instabilidade de humor dos italianos, os controladores, mesmo com parte dos documentos assinados, não queriam dar o negócio como fechado. ” Tudo pode acontecer ” , disse um dos envolvidos, de dentro da sala em que os sócios, com os respectivos advogados e bancos assessores faziam os acertos finais – minutos antes de confirmar a conclusão da transação. Temia-se que a Telecom Italia voltasse atrás na sua decisão de vender a fatia de 38% na Solpart, controladora direta da Brasil Telecom Participações.
Ao final, a aquisição será realizada pela Techold, controladora da Solpart e companhia veículo da maior parte dos investimentos das fundações e do Citi na operadora. Essa opção visa preservar o equilíbrio entre os sócios, uma vez que o pagamento aos italianos pode ser feito com a emissão de dívida pela sociedade, sem desequilibrar as proporções de voto dos acionistas. Antes, porém, o anúncio de compra virá apenas das fundações. Techold entrará no processo em seguida, utilizando a prerrogativa de exercer seu direito de preferência na transação com a Solpart.
Enquanto o banco americano espera para colocar no bolso a venda das ações e sair do ativo, as fundações têm planos maiores. A idéia é deixar a Brasil Telecom pronta para uma fusão com a Oi, antiga Telemar, tão logo esse movimento seja viável. Por enquanto, as regras do setor não permitem a união de duas concessionárias de telefonia fixa. O governo federal vê o projeto com bons olhos e usa como bandeira o avanço das das gigantes internacionais Telmex e América Móvel, do mega empresário mexicano Carlos Slim Helú, e a espanhola Telefónica.
Fonte:
Graziella Valenti, Heloisa Magalhães
e Catherine Vieira
Valor Econômico