Fiat pede que fornecedor importe insumos

09/01/2009

A Fiat Automóveis está muito perto de perder mercados importantes, na exportação de veículos, para subsidiárias da montadora italiana instaladas na China e na Turquia. A informação é do superintendente da companhia, Cledorvino Belini. Para driblar a perda de competitividade, provocada pela valorização e pelo aumento de custo das matérias-primas no mercado interno, a fábrica instalada em Betim está estimulando seus fornecedores a substituírem insumos nacionais por importados.

“Queremos que nossos fornecedores sejam competitivos por intermédio da importação”, disse Belini durante palestra em Belo Horizonte. Tendo em mãos uma tabela comparativa de custos de matérias primas no mercado doméstico e no mercado internacional, o superintendente informou que a alta no Brasil chega a 35%.

Ele citou quatro exemplos de materiais fundamentais para o setor. Segundo ele, o preço do propileno no Brasil está 15% mais caro do que a média de preço em outros países. O aço plano, 20%. No plástico ABS, a diferença de preço chega a 27%. E no aço não-plano, a 35%.

As negociações de preços entre fabricantes de veículos e de autopeças, que sempre foram tensas, entram num ambiente de pressão favorável às montadoras como consequência da queda do dólar. Segundo um fabricante de componentes que prefere não se identificar, em boa parte das recentes negociações, algumas montadoras ameaçaram importar a peça se o fornecedor não baixar o preço. Segundo essa fonte, a média de descontos pedida pelos fabricantes de veículos tem sido de 15%.

“O perigo mais imediato é perder mercado para a China se não ganharmos competitividade rápido”, alertou o executivo da montadora, que ocupa também a presidência da holding Fiat do Brasil. A China produz hoje o Palio com custos melhores. “Se o Palio chinês custa mais barato do que o produzido no Brasil, porque alguém vai comprar do Brasil?”, questionou..

O executivo descartou a possibilidade de fazer importações diretas de insumos, para contornar a alta dos preços internos. “A logística é muito complicada e inviabiliza”, explicou. Ele lembrou que a indústria opera em sistema “just in time”. “Não dá para depender de importação.”

A subsidiária brasileira exportou, no ano passado, 100 mil veículos para mercados como Argentina, Chile, México e países europeus. Mas não deverá exportar mais do que 70 mil unidades neste ano, na avaliação da direção. Os meses de janeiro e fevereiro ainda foram de alta nas exportações, de 22% em relação ao mesmo período de 2004. Mas, de acordo com Belini, os números do bimestre refletem contratos anteriores, que tiveram de ser cumpridos. “Não ganhamos dinheiro, só empatamos.”

Em palestra sobre as perspectivas da indústria automobilística nacional, Belini defendeu uma política industrial para o setor que estimule a concentração da produção de veículos nas plataformas em que o país pode ser mais competitivo no exterior, as plataformas de veículos compactos. O Brasil tem 39 plataformas, mas apenas duas – Palio e Gol – têm produção em larga escala. Ele argumenta que, produzindo compactos em maior escala, o setor conseguiria ser mais competitivo.

Fonte:
Valor Economico
Ivana Moreira De Belo Horizonte
Colaborou Marli Olmos