Exportador vê espaço menor para reajustar preços
09/01/2009
Os exportadores estão encontrando mais dificuldade para reajustar preços de produtos manufaturados e compensar a perda de rentabilidade provocada pela valorização do real. A trajetória de alta dos preços foi interrompida em junho, que registrou ganho de apenas 0,2% em relação a maio, considerado pelos economistas como estabilidade.
Os preços de exportação de manufaturados vinham subindo, em média, 1% ao mês. No primeiro semestre, os exportadores conseguiram elevar as cotações em 11%. Em 2004, o ganho foi de 6%. A alta acumulada de janeiro de 2004 a junho de 2005 chega a 16%. Os dados são da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
Economistas e empresários acreditam que as cotações estão próximas de um “teto” e devem se estabilizar nesse elevado patamar na segunda metade do ano. Com a economia mundial crescendo menos, está mais difícil reajustar preços. Alguns setores já se adaptaram ao novo nível do câmbio e renegociaram custos com fornecedores, mas muitos reclamam. A perspectiva de leve desvalorização do real nos próximos meses também deve contribuir para a estabilização dos preços de exportação dos manufaturados.
“Os preços subiram de forma acelerada, principalmente no primeiro semestre. Estão chegando no pico. A tendência é estabilizar, porque o ganho foi muito forte”, diz Fernando Ribeiro, economista da Funcex. Ele explica que os expressivos reajustes foram possíveis por conta da forte demanda mundial. O economista acredita que os preços de exportação dos produtos manufaturados devem subir cerca de 8% esse ano.
A Teka reajustou em 6% os preços das toalhas de banho exportadas para a Argentina, para compensar parte da desvalorização do real, segundo o diretor de exportação da empresa, Almir Biejing. Depois do reajuste, o produto da Teka ficou mais caro que o argentino. Segundo a companhia, sua toalha chega na Argentina por US$ 7 o quilo, enquanto o produto local custa US$ 6.
Conforme Biejing, não foi possível promover novos aumentos desde que o dólar atingiu R$ 2,50. “Está difícil de repassar. Os lojistas argentinos preferem adquirir localmente”, diz. O dólar fechou a R$ 2,39 na sexta-feira. A Argentina é o principal cliente da Teka no exterior e responde por 35% das exportações. As vendas para o país subiram 25%, mas Biejing estima que os embarques poderiam aumentar 45%.
A fabricante de calçados Sândalo reajustou entre 2% e 3% os produtos vendidos para os EUA, mercado que absorve 60% de suas exportações, mas é o mais competitivo do mundo. Para outros países, repassou até 9%, conta Carlos Brigagão, diretor da companhia. “Não estou conseguindo repassar mais do que isso”. Segundo ele, a situação da Sândalo ficou um pouco menos complicada, depois de renegociações com os fornecedores. “O setor está mais adaptado, fazendo o máximo para não perder clientes duramente conquistados. Sabemos que o dólar vai ficar nesse patamar este ano”. A participação das exportações no faturamento da empresa deve cair de 50%, em 2004, para 35% este ano.
Para o departamento econômico do Bradesco, a alta dos preços de exportação de manufaturados quase compensou a apreciação do câmbio. De agosto de 2003, quando o dólar estava em R$ 3, a junho de 2005, os preços subiram 17,7%, e o câmbio se valorizou 19,5%. Há uma correlação entre a alta do real e os preços das exportações, dizem os economistas.
O Bradesco estima que a moeda brasileira deve sofrer depreciação leve no segundo semestre, com o dólar encerrando 2005 a R$ 2,5. Uma possível queda na taxa básica de juros ajudaria a corroborar esse cenário. Além disso, o fluxo cambial é pior nos últimos meses do ano, por conta de remessas de lucros das multinacionais. Com o real em queda, fica difícil para os exportadores reajustarem preços.
Durante o primeiro semestre, a Volkswagen elevou em 12%, na média, os preços de exportação de seus veículos. Para a Argentina, a alta foi de 15%. Para o México, ficou em 8%. Segundo Leonardo Soloaga, gerente de exportações da montadora, os reajustes devem ser mais moderados nos dois mercados no segundo semestre, mas a negociação é feita dia-a-dia.
Ele reclama que está complicado reajustar preços na Argentina, porque o peso é mantido pelo governo em R$ 2,9, agravando o problema gerado pela alta do real. No México, a necessidade de reajuste é menor, porque são vendidos carros de valor agregado mais alto.
A Volkswagen pretende compensar menores reajustes no México e na Argentina elevando os preços em mercados como norte da África e Oriente Médio. “Com o dólar a R$ 2,4, vamos seguir reajustando. Ainda não compensamos os custos”, diz Soloaga.
Fonte:
Valor Economico
Raquel Landim
02/8/2005