Exportações para os EUA caem 2,1% em junho

09/01/2009

Desempenho é afetado pelo real valorizado e ritmo mais lento da economia americana

Depois de acelerar o ritmo no fim de 2004 e início de 2005, as exportações brasileiras para os Estados Unidos começam a perder fôlego, afetadas pela valorização do real e pelo desempenho mais lento da economia americana. Em junho, as vendas do Brasil para o maior mercado do mundo caíram 2,1%, para US$ 1,879 bilhão, ante igual mês de 2004, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Foi um forte revés para exportações que cresciam cerca de 30% nos primeiros meses do ano.

Com esse resultado, a América Latina ultrapassou os EUA como segundo destino das exportações brasileiras, depois da União Européia. No primeiro semestre, as vendas brasileiras para a Associação Latino-Americana de Integração (Aladi) ficaram em US$ 11,7 bilhões, alta de 35,7% em relação a janeiro-junho de 2004. As exportações para os Estados Unidos subiram 23,4% em igual período, para US$ 10,9 bilhões.

A desaceleração dos embarques para os EUA começou em maio e se acentuou em junho, quando diferentes setores tiveram desempenho inferior ao apresentado no acumulado do ano. As vendas de compressores subiram apenas 1,17% em junho de 2005, ante junho de 2004. No acumulado de janeiro a junho em relação ao primeiro semestre do ano passado, o aumento foi de 23%.

Na comparação ante igual período de 2004, as exportações de peças para tratores e automóveis aumentaram 35,6% em junho e 44,9% no primeiro semestre. As vendas de madeira subiram 18,7% em junho e 21,9% no semestre, as de café em grão cresceram 82,8% em junho, um percentual expressivo, mas inferior aos 92,66% do semestre.

Empresários e economistas ouvidos pelo Valor explicam que as vendas brasileiras de manufaturados reduziram o ritmo de crescimento de forma geral, mas a situação é mais complicada nos embarques para os EUA. Este é o mercado mais competitivo do mundo, o que torna difícil reajustar preços para compensar o câmbio. Os dados em 12 meses, que sofrem menor influência sazonal, também mostram desaceleração.

As exportações para os Estados Unidos cresceram 28,1% no acumulado de 12 meses até junho de 2005, ante igual período do ano anterior. Na mesma comparação, os embarques aumentaram 31,4% até maio e 31,5% até abril. No ano passado, o ritmo de alta era bem inferior. As exportações brasileiras para os EUA subiram 20% em 2004 ante 2003.

“É mais fácil para as empresas brasileiras exportarem para a América Latina do que para os Estados Unidos”, afirma Sérgio Vale, economista da MB Associados. Ele diz que a competição é intensa no mercado americano, principalmente com a China e demais países asiáticos. Carlos Urso, economista da LCA Consultores, lembra que o Brasil foi escolhido por multinacionais como fornecedor para a América Latina, enquanto o mercado dos EUA pode ser abastecido por outras regiões. Ele também chama a atenção para a diferença de custo do frete, que deixa o produto brasileiro mais competitivo na região do que nos EUA.

Os setores intensivos em mão-de-obra e com curto giro de produção, como calçados e têxteis, são os que mais sofrem em ambiente de concorrência acirrada. Élcio Jacometti, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) confirma que está mais complicado negociar reajuste de preços com os Estados Unidos. “Os americanos compram grandes volumes. Em um pedido de 1 milhão de pares, cobrar US$ 1 a mais, significa pagar US$ 1 milhão a mais.”

Desde o início do ano, os calçadistas brasileiros estão elevando preços e sacrificando volume de vendas para compensar o câmbio. A estratégia foi bem-sucedida, a não ser no mercado americano. De janeiro a maio, as exportações totais de calçados caíram 10% em volume, mas subiram 8% em receita, para US$ 765,9 milhões. Para os Estados Unidos, os embarques cederam 22% em volume e 7% em faturamento, para US$ 409,5 milhões.

O real foi uma das moedas que mais se apreciaram ante o dólar, o que reduz a competitividade do produto brasileiro em relação aos concorrentes. Desde janeiro, a moeda brasileira subiu 13,61% frente ao dólar. No mundo, a tendência de queda do dólar se inverteu recentemente, e a moeda americana ganhou 1,90% ante o euro desde o início de junho. Mas o real parece “vacinado” e subiu, no mesmo período, 3,12% frente ao dólar. “Esse movimento não nos atinge, porque a taxa de juro real do país é alta e atrai capitais especulativos”, explica Urso, da LCA.

O ritmo mais lento da economia americana também prejudica as exportações brasileiras. Em janeiro, o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA cresceu 4,4% contra janeiro de 2004. Em maio de 2005 ante maio de 2004, a alta foi de 2,6%. As importações totais dos Estados Unidos caíram 0,9% em maio de 2005, ante maio de 2004, porque as empresas do país estão comprando menos insumos, a fim de reduzir os estoques. A queda dos preços do petróleo também contribui.

As empresas que possuem contratos de longo prazo com clientes americanos continuam aumentando as exportações para o país, mas reconhecem que embarcaram volumes inferiores às expectativas. É o caso da Tupy Fundições, fabricante de autopeças com sede na cidade de Joinville, em Santa Catarina. Segundo Luiz Tarquínio, presidente da Tupy, a empresa exportou 98,5 mil toneladas de produtos para os Estados Unidos entre janeiro e maio deste ano, alta de 11,5% ante igual período de 2004. Só que a companhia havia planejado embarcar 105 mil toneladas.

O executivo reclama que a Tupy está perdendo rentabilidade. “Não tenho a opção de deixar de exportar se o câmbio não compensa”, diz. Tarquínio explica que as peças são desenvolvidas durante cerca de dois anos para um determinado cliente. “Consegui reajustes de preços na exportação por conta do aumento do ferro-gusa ou da sucata de aço, mas não repassei a perda do câmbio”. As vendas para Estados Unidos, Canadá e México respondem por 65% das exportações.

De acordo com José Mauro Pelosi, vice-presidente da unidade de sistemas Diesel da filial brasileira da Robert Bosch, “a situação está no limite para alguns produtos”. A alta do custo do aço aliada à perda cambial complicou a situação nos mercados mais concorridos, diz.

Pelosi conta que ainda não houve queda significativa nos embarques da empresa, pois os contratos são de longo prazo. A importação mais barata de insumos também alivia as perdas cambiais, mas a compensação não chega a 20%. Por isso, a receita em reais da companhia está em queda. A filial brasileira da Bosch exporta 45% do faturamento. Metade dos embarques vai para os EUA.

Valor Economico
Raquel Landim
15/7/2005