EUA podem virar concorrentes do Brasil em etanol em 07

09/01/2009

SÃO PAULO (Reuters) – De principais compradores do etanol brasileiro, os Estados Unidos podem passar, já em 2007, a serem concorrentes do Brasil, que hoje praticamente domina o mercado mundial, segundo corretores e analistas.

Os embarques para os EUA explodiram no começo do ano, com o petróleo caro e o álcool relativamente barato estimulando vários Estados dos EUA a adotarem o produto como substituto do MTBE na adição à gasolina — o MTBE foi condenado por poluir lençóis freáticos.

Mas a demanda praticamente evaporou nos últimos meses, devido ao aumento da oferta norte-americana de etanol e à queda dos preços locais da gasolina, com a baixa nas cotações internacionais do petróleo.

“Os EUA devem ficar com uma super oferta de álcool em 2007 e 2008… em 2009 é que devem equilibrar de novo”, afirmou Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro, que acredita ser possível ver exportações norte-americanas já em 2007, inclusive para o Brasil, dependendo de preços e do câmbio.

Ele acrescentou que os EUA podem competir com o Brasil no mercado do Japão, da Coréia (ambos de álcool industrial) e na União Européia.

O vice-presidente sênior da Fimat USA, Michael McDougall, concorda com a possibilidade de os EUA passarem de importador a exportador de álcool no próximo ano.

“Se o álcool fica muito barato nos EUA, aí a mistura (do produto à gasolina) aumenta… houve isso temporariamente. Mas isso agora não compensa”, avaliou, considerando que o excedente aumentaria e, portanto, haveria maior possibilidade de exportação dos EUA.

Os EUA foram o principal mercado para o produto brasileiro neste ano. De maio até agosto, o país comprou quase o dobro do volume de álcool brasileiro adquirido em toda a safra 2005/06, quando já haviam sido o principal destino.

As vendas para os EUA em todo o ano comercial passado (maio/05-abril/06) somaram 427,5 milhões de litros, ante 878,7 milhões de maio até agosto de 2006, segundo dados da Bioagência, empresa de comercialização de um grupo de usinas.

O Brasil exportou 2,5 bilhões de litros de álcool em 2005/06 e pretende embarcar de 2,9 a 3,1 bilhões em 2006/07.

“Foi espetacular, após a alta do açúcar (no começo do ano), ver a demanda por etanol a preços inimagináveis… Mas a ressaca já veio”, disse Tarcilo Rodrigues, diretor da Bioagência, durante um seminário em São Paulo nesta semana.

O preço do etanol na bolsa de Chicago chegou a cerca de 4 dólares por galão, mas está atualmente em cerca de 1,80 dólar por galão. Com a tarifa de 0,54 centavo de dólar por galão imposto sobre o produto importado, a venda direta de álcool brasileiro para os EUA fica inviável, segundo corretores.

MERCADOS ALTERNATIVOS

Com a retração nas vendas para os EUA, os produtores brasileiros devem ser obrigados a buscar outros mercados para pelo menos repetir na próxima safra as exportações verificadas na atual temporada.

Rodrigues acredita ser possível manter as vendas redirecionando produto para mercados como os da União Européia e os do CBI (Caribbean Basin Initiative) — dali, o produto segue isento da taxa de importação para os EUA ou outros destinos.

Nigéria e Venezuela também podem despontar como compradores em 2007, por meio de parcerias que estão sendo costuradas pela Petrobras. A estatal também mantém conversas com o Japão, mas não se espera compras expressivas do país asiático já em 2007.

Um corretor de São Paulo concorda com a possibilidade de aumento de vendas para outros mercados, mas afirma, contudo, que existem obstáculos à frente.

“A UE é um mercado possível (para 2007), mas há ameaças de medidas protecionistas. E muitas usinas brasileiras vão ter de se adaptar para atender os europeus porque as especificações são diferentes”, afirmou.

A UE exige um álcool mais concentrado, e nem todas as usinas brasileiras têm hoje condições técnicas para fornecer, explica ele.

“Ou seja, o preço tem que estar compensando, senão melhor fazer o padrão brasileiro e vender aqui mesmo”, acrescentou.

Já Rodrigues não acredita em exportações dos EUA em 2007.

“Hoje você ainda tem como manobrar a demanda nos EUA. Antes de exportar a preço baixo, você tem como aumentar a demanda… novos Estados podem misturar, pode aumentar a mistura”, disse.

“Existe uma produção grande chegando (nos EUA), mas existe um potencial que está na mão do próprio governo norte-americano”, disse, acrescentando que a situação é diferente no Brasil, que já tem um amplo mercado interno.

Segundo a Datagro, o custo de produção do álcool no Brasil está em 0,90 dólar por galão, contra 1,10-1,40 dólar nos EUA, mas os subsídios garantem rentabilidade aos produtores norte-americanos.

Fonte:
Reuters