Empresas sem empregado são 68% do total
09/01/2009
As relações de trabalho dentro do universo empresarial brasileiro sofreram nos últimos anos uma mudança estrutural profunda, captada pelo Cadastro Central de Empresas de 2002 divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): o crescimento em termos absolutos e relativos do número de empresas sem empregados, nas quais trabalham apenas os próprios donos, cristalizando o fenômeno da terceirização da mão-de-obra.
A pesquisa consagra outro fenômeno em curso, o da expansão das empresas e dos empregos para o interior, em detrimento das capitais.
Das 4,5 milhões de empresas ativas existentes no país naquele ano, 3,1 milhões (68,3%) eram operadas apenas por seus donos; 46,7% delas tinham somente um dono e 38,5%, dois. Em 1997, a participação das empresas sem empregados no total era de 65,3%.
“Há uma mudança importantíssima nas relações de trabalho, que continua em curso, antecipando-se à legislação que está para lá de caduca”, disse o economista André Urani, diretor do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS). Para ele, o que a legislação pode fazer a partir de agora é criar condições para que essas empresas individuais possam prosperar, incluindo assistência jurídica, crédito e uma burocracia “amigável”, adaptada à nova realidade.
Para o IBGE, o período de baixo crescimento econômico, especialmente a partir de 1998, é uma das explicações para a expansão das pessoas jurídicas sem empregados. “Cada vez mais reduzem-se os empregos e aumenta o trabalho”, disse Magdalena Cronemberger, coordenadora de pesquisas do órgão estatístico federal. Ela ressalvou que não há uma só explicação para o fenômeno e que ao IBGE cabe o trabalho de levantar os dados para que possam ser analisados pelos especialistas.
De acordo com o cadastro, 17,1% do pessoal total ocupado estava em empresas sem empregados, ou seja, eram pessoas jurídicas, proprietários ou sócios dessas empresas. A maior concentração dessas firmas era de empresas comerciais, correspondente a 55,8% do total e a 50,9% dos proprietários. Os serviços prestados às empresas, somados às atividades imobiliárias e de aluguéis vinham em segundo lugar com 13,9% das empresas sem empregados e com 17,1% dos proprietários ou sócios. Em terceiro lugar vinha a indústria de transformação, com 8,2% das empresas e 8,4% dos proprietários.
Quando é levado em conta apenas o universo das empresas (sem incluir órgãos públicos e empreendimentos sem fins lucrativos), houve de 2001 para 2002 aumento de 6,3% das empresas sem empregados (mais 183 mil empresas), enquanto o crescimento do número de sócios e empregados dessas empresas alcançou 9,6% (mais 374 mil). Se forem incluídas todas as unidades, inclusive as de administração pública, o número de estabelecimentos em 2002 salta de 4,5 milhões para 4,96 milhões, e o incremento de sócios e proprietários chega a 12,3%, contra aumento de 5,7% no pessoal assalariado.
A interiorização das empresas é o segundo grande fenômeno captado pela pesquisa. Consideradas apenas as empresas com fins lucrativos, a participação das capitais como local dessas unidades era de 30,6% em 2002, contra 32,4% em 1997. Em relação ao pessoal ocupado nessas firmas, a perda de participação das capitais foi ainda maior. Elas abrigavam 40,9% da ocupação em 1997 e passaram a deter 36,9% em 2002, uma queda de quatro pontos percentuais.
Os dados mais recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho demonstram que o fenômeno da interiorização do trabalho também prossegue. De janeiro a agosto, o emprego formal cresceu 7,22% no Estado de São Paulo, mas apenas 4,33% na região metropolitana da capital, contra 10,41% no interior. De nove regiões metropolitanas constantes nas estatísticas do Caged, apenas na de Recife o emprego cresceu mais que no Estado de janeiro a agosto deste ano (1,84%, contra 1,04%). “A questão é criar meios para que as regiões metropolitanas, que perderam dinamismo, possam ser repensadas” disse Urani.
Ainda assim, segundo o IBGE, dos 24 maiores municípios em termos de concentração empresarial em 2002, 14 eram capitais. Juntos, eles concentravam um terço das empresas e 39% da ocupação.
Entre os 25 municípios que apresentaram maior crescimento de empresas entre 1997 e 2002, oito decorreram do incremento da produção industrial, entre as quais Caruaru (PE), com confecções, Ipatinga (MG), com siderurgia e Suzano (SP), com medicamentos.
Valor Online
15/10/2004