Empresas menos conhecidas da Bovespa atraem estrangeiros

09/01/2009

A participação de investidores estrangeiros na bolsa tem batido recordes sucessivos. Segundo especialistas, eles já não querem apenas Petrobras e Vale

Lia LubamboPregão na BovespaPor Fabrícia Peixoto
EXAME Durante anos, apenas as blue chips brasileiras, como Petrobras, Vale do Rio Doce e Aracruz, eram conhecidas entre os investidores estrangeiros. Agora, eles estão aprendendo a falar novos nomes de empresas, como Net, Gol e Localiza. A participação de estrangeiros na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) vem batendo recordes sucessivos, e tudo indica que o alvo não são apenas as gigantes: os fundos de países emergentes estão atrás de boas barganhas, mesmo que as empresas não sejam tão conhecidas assim.

No mês passado, os estrangeiros foram responsáveis por 37,8% do volume negociado na Bovespa. Em março de 2005, essa fatia era de 32,2%. Há dez anos, ainda menor: 28,6%. O montante de dólares negociados diariamente também vem subindo. Passou de 697 milhões de dólares em março de 2005 para 1 bilhão de dólares no mês passado.

O que todos esses números indicam? A explicação mais simples é que existe uma liquidez no mercado internacional suficiente para fazer transbordar esse dinheiro para mercados emergentes. Mas essa não é a história completa. “Sim, existe a questão do fluxo internacional de capitais, mas o fato é que diversas empresas em mercados emergentes têm bons fundamentos, e, o que é melhor, ótima rentabilidade”, diz Brad Durham, presidente da Emerging Portfolio, empresa que se dedica à coleta de informações entre mais de 10 000 fundos de investimentos em todo o mundo. Entre seus clientes estão bancos de investimento, analistas de empresas, fundos de pensão e até mesmo bancos centrais.

Segundo a Emerging Portfolio, o Brasil é o terceiro país que mais recebe investimentos (em bolsa) de fundos emergentes, atrás apenas de Coréia do Sul e Taiwan. Atrás do Brasil vêm África do Sul e Rússia. A macroeconomia desses países conta, mas é a performance das empresas que fala mais alto. “Os investidores estrangeiros estão à procura de papéis de empresas com preços justos ou subavaliadas e com potencial para crescerem acima do PIB local. Ou seja, essas companhias têm de ter bons fundamentos”, diz Nami Neneas, superintendente de renda variável do Banif Investimentos.

Nenea explica que as ADRs (ações de empresas brasileiras negociadas na Bolsa de Nova York) também estão sob a mira dos estrangeiros. Mas o fato de muitos deles terem vindo para cá nos últimos meses mostra que esses fundos estão também interessados nas empresas que não estão listadas nos Estados Unidos.

“Para o estrangeiro, é mais fácil e mais barato comprar ADRs. Aqui, existe o custo da conversão cambial e também da corretora. O que se vê, porém, é que nem mesmo esses custos têm impedido a vinda de estrangeiros à Bovespa”, diz Neneas.

Uma das desvantagens do mercado acionário brasileiro é a alta concentração das boas empresas em torno de poucos setores – geralmente energia e matérias-primas. Mas, na visão de Durham, isso não chega a ser um problema grave. “O investidor que conhece bem o Brasil sabe identificar papéis também em outras indústrias”, diz.

Fenômeno mundial

No ano passado, os fundos de investimento voltados para países emergentes movimentaram 20,3 bilhões de dólares – cinco vezes mais do que em 2004. E a tendência é de continuar subindo: somente nos três primeiros meses deste ano, o montante já chegou a 24 bilhões de dólares. O volume tem sido tão alto que já vem despertando a preocupação entre alguns especialistas. Segundo eles, há o risco de uma “bolha de investimentos”, que acabe estourando.

O presidente da Emerging Portfolio tem uma visão um pouco diferente. Na avaliação de Durham, são poucas as chances de uma crise financeira surgir em um país emergente. “Se uma crise vier, o mais provável é que venha dos Estados Unidos, onde os fundamentos macroeconômicos estão bem debilitados”, diz. Mesmo nesse caso, porém, os países emergentes seriam afetados, já que em momentos de crise os investidores costumam retirar seu dinheiro dos ativos de maior risco. “E os emergentes ainda têm esse estigma”, diz Durham.

Não há duvidas de que as empresas brasileiras estão sendo beneficiadas por uma onda positiva em relação aos mercados emergentes. Mas segundo os analistas, essas empresas podem – e devem – criar formas de atrair os estrangeiros. Das novas emissões realizadas no ano passado (incluindo IPOs e emissões secundárias), mais da metade (60,2%) foi comprada por investidores de fora do país.

A Gafisa é um exemplo. Listada na Bovespa desde 1997 para negociação de debêntures, a empresa do setor imobiliário passava despercebida diante de fundos internacionais. Bastou entrar para o Novo Mercado, dessa vez com ações, para chamar atenção. Na primeira oferta, que aconteceu em fevereiro, cerca de 70% dos papéis foram adquiridos por investidores estrangeiros.

Na opinião do gerente de relações com investidor da Gafisa, Gustavo Felizzola, uma forma de atrair esses investidores é unindo-se à concorrência. Segundo ele, quem compra ações de uma companhia é porque confia no setor. “Por isso é importante que as empresas tenham projetos em conjunto, principalmente em apresentações e seminários lá fora”, diz o executivo. Segundo ele, empresas mexicanas do setor imobiliário já fazem isso, com sucesso.

Felizzola explica que o investidor segue um padrão de análise. “Primeiro eles olham a macroeconomia do país. Depois, os setores mais promissores. Só então é que eles escolhem a empresa. Ou seja, esses três níveis devem ser atraentes”, diz.

Fonte:
Portal Exame