Embraer pode vender avião movido a álcool

09/01/2009

A Embraer anunciou ontem o início da comercialização do avião Ipanema, usado na pulverização de lavouras, com motor movido a álcool etanol, o mesmo combustível utilizado em carros. A Embraer é a primeira empresa do mundo a conseguir autorização para vender aeronaves movidas com o combustível.

Os testes com o motor a álcool, produto que chega a custar um sexto do que a gasolina de aviação (QAV), eram realizados desde 2002 pela Indústria Aeronáutica Neiva, subsidiária da Embraer, que deu seqüência ao projeto iniciado na década de 1980 pelo CTA (Centro Técnico Aeroespacial), órgão ligado ao Ministério da Defesa. O investimento foi de cerca de US$ 1 milhão.

O certificado que atesta a segurança do motor a álcool e que permite a sua comercialização será entregue pelo próprio CTA na próxima terça-feira. A partir daí, a fabricante já espera começar a receber as primeiras encomendas.

O monomotor Ipanema, produzido há mais de 30 anos, é líder do mercado agrícola brasileiro, com cerca de mil unidades vendidas (80% da frota nacional).
De acordo com a Embraer, o modelo a álcool custará em torno de R$ 735 mil, cerca de R$ 10 mil a mais do que o modelo a gasolina. Quem já possui o Ipanema e quiser fazer a conversão terá que pagar cerca de R$ 70 mil.

O motor do Ipanema movido a álcool é o mesmo produzido pela empresa americana Lycoming e que equipa o modelo a gasolina. A diferença é que o “novo” Ipanema sairá de fábrica com o motor adaptado para funcionar a álcool.
A adaptação só é possível no Ipanema, pelo menos por enquanto, porque o motor a pistão é semelhante àqueles que movimentam os veículos, em que a tecnologia da utilização do etanol já é difundida há mais de 15 anos.
De acordo com o engenheiro Omar José Junqueira Pugliesi, sócio da Aeroálcool, de Franca (400 km de São Paulo), empresa que também busca o certificado para adaptar motores de aviões, as vantagens do álcool na aviação vão da redução de custos até a não-agressão ao ambiente.

A expectativa é, de com o álcool, reduzir em mais de 50% o custo das pulverizações.
Outras vantagens, segundo Pugliesi, são a maior vida útil do motor e menor necessidade de manutenção periódica. O álcool também aumenta entre 4% e 20% a potência do motor, permitindo um ganho de produtividade, já que o avião consegue decolar com uma quantidade maior de agrotóxico para a pulverização.

As principais desvantagens, aponta o engenheiro, são menor autonomia de vôo, dificuldade em conseguir dar partida no início do dia ou em temperaturas mais frias e o maior risco de corrosão das peças do motor. Mas a tecnologia disponível permite superar as duas últimas desvantagens, disse ele.

Folha de São Paulo
14/10/2004