Dólar valorizado ainda não surte efeitos na indústria, afirmam especialistas
25/04/2012
O patamar recorde atingido pelo dólar nesta segunda-feira (23), quando fechou o dia cotado a R$ 1,88 – maior valor do ano – ainda não é suficiente para estimular as indústrias brasileiras, afirmam especialistas ouvidos pelo Jornal do Brasil.
A base de agressivas intervenções do Banco Central, a moeda norte-americana finalmente começou a se valorizar nos últimos meses. O principal objetivo nas ações do BC é evitar uma desindustrialização, já que com as divisas desvalorizadas, o setor acaba perdendo competitividade.
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No entanto, o economista Fernando Sarti, diretor da Escola de Economia da Universidade Estadual de Campinas (ECO/Unicamp) acredita que não é possível prever os efeitos da moeda nas indústria brasileiras e os resultados não devem aparecer, nem agora, nem em um futuro próximo.
O especialista explica que não só o elevado valor da moeda, mas também a instabilidade nas cotações prejudicam a produção nacional.
"É importante não só valorizar a divisa, mas também que este valor seja estável, sustentável. A oscilação constante não gera um efeito positivo, pois impede uma análise no futuro, não se sabe muito para onde o dólar vai, as empresas não conseguem medir os preços das compras e vendas a longo prazo", analisa.
Além disso, o patamar desejado pelo Banco Central (que seria de R$ 1,90 inicialmente), não é o suficiente para retomar a competitividade dentro das indústrias. Segundo o especialista, o próprio setor "trabalha com uma desvalorização ainda maior que esta".
"O problema é que ainda não dá pra dizer que houve uma retomada na valorização do dólar. A oscilação e a incerteza ainda são grandes, e o valor continua baixo".
Taxa de Juros
Na última quinta-feira, 19, o Copom do Banco Central (Comitê de Política Monetária) anunciou novo corte na taxa básica de juros, que agora está em 9% ao ano. Especialistas concordam que este é um dos fatores que influenciam o câmbio no país.
"Os bancos pegam capital no exterior por taxa de juros irrisórias, de 1%, por exemplo, e aqui recebem com a Selic, aumentando a entrada do dólar no país, depreciando o valor da moeda", explica o economista Paulo Gala, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP).
Apenas nos últimos meses, o Banco Central Europeu depositou 500 bilhões de euros na economia local e grande parte desse capital acabou vindo para o Brasil em investimentos especulativos, desvalorizando a divisa.
Os especialistas concordam que a desindustrialização do país é a pior conseqüência de um câmbio valorizado.
Fluxo Cambial
Até o dia 20 de Abril, a entrada de dólares no país superou a saída em US$ 3,87 bilhões segundo dados do fluxo cambial divulgados hoje pelo Banco Central. A movimentação pode indicar indícios de que, apesar da valorização da moeda estrangeira, o patamar precisa ser ainda mais elevado, conforme prevê o Sarti.
Apesar disso, no segmento financeiro (investimentos em títulos, ações, remessas de lucros e dividendos ao exterior, entre outras operações) apresentou mais saída do que entrada de dólares. O saldo negativo ficou em US$ 1,246 bilhão. O BC também informou que as compras de dólares no mercado à vista elevaram as reservas internacionais em US$ 5,54 bilhões.
Fonte:
Jornal do Brasil