Dólar barato nos próximos meses deve segurar inflação
09/01/2009
O câmbio teve papel decisivo para derrubar os índices de preços nos últimos meses e a expectativa dominante é de que continue a ajudar – ou pelo menos a não atrapalhar – no controle da inflação. Bancos e consultorias apostam que o dólar vai subir até o fim do ano, mas projetam uma alta modesta, mesmo no caso daqueles que prevêem queda mais forte da taxa Selic, dos atuais 19,75% para 17% no fim do ano. A moeda americana, hoje na casa de R$ 2,35, deve terminar 2005 entre R$ 2,50 e R$ 2,60. Esse cenário pressupõe, vale lembrar, que a crise política não vai se agravar a ponto de atingir diretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou de provocar mudanças na política econômica.
Com o desempenho excepcional das exportações e a perspectiva de manutenção da ampla liquidez internacional, perdeu força a avaliação de que o dólar poderá subir bastante quando o Banco Central (BC) começar a cortar os juros. O economista-chefe da LCA Consultores, Luís Suzigan, acredita que o saldo comercial vai continuar robusto até o fim do ano, projetando um superávit de US$ 40,1 bilhões. Os analistas do Bradesco, por sua vez, apostam que haverá um saldo de pelo menos US$ 39 bilhões, ainda que vejam um dólar a apenas R$ 2,50 no fim do ano.
Suzigan lembra ainda que a combinação de juros baixos no mercado internacional e taxas estratosféricas por aqui vai se manter por um bom tempo, mesmo depois que o BC inicie a redução da Selic. Nesse cenário, tudo indica que muitos investidores devem continuar a investir dinheiro no Brasil para aproveitar a diferença entre os juros internos e externos, ainda que o apetite possa diminuir um pouco nos próximos meses, já que o diferencial entre as taxas deve diminuir. Por tudo isso, Suzigan rebaixou sua projeção para o dólar no fim do ano de R$ 2,75 para R$ 2,55. A desvalorização mais forte do câmbio deve ficar para 2006, quando a moeda americana pode atingir R$ 3 em dezembro, afirma ele.
A expectativa de um dólar barato também ao longo do segundo semestre abre espaço para uma inflação mais baixa. Com o câmbio a R$ 2,55 no fim do ano, a expectativa de Suzigan é que o IPCA termine 2005 em 5,4%, próximo dos 5,1% perseguidos pelo BC. Com isso, a Selic poderia terminar o ano em 17%.
O analista Antônio Madeira, da MCM Consultores, também acredita numa alta modesta do dólar nos próximos meses, estimando um câmbio a R$ 2,60 para o fim do ano. A aposta numa desvalorização suave ajuda no controle da inflação, afirma ele, acrescentando que há outros fatores ainda mais importantes para aliviar os preços: a atividade econômica não está muito forte, as expectativas de inflação estão em queda e os IGPs, que corrigem contratos de telefonia e energia elétrica, estão baixos, indicando um cenário favorável para os preços administrados em 2006. Ele prevê um IPCA de 5,7% neste ano e de 5,2% no ano que vem.
Além de projetarem uma alta pouco significativa para o dólar, os analistas lembram que as atuais cotações não são usadas pela maior parte das empresas para formar preços. A avaliação de Madeira, por exemplo, é de que o setor privado ainda usa um câmbio na casa de R$ 2,50 a R$ 2,60 para fechar contratos. Com isso, uma alta do dólar para esses níveis não tende a pressionar custos, a não ser que a moeda fique muito tempo entre R$ 2,30 e R$ 2,40.
O fluxo de dólares é tão forte que nem o anúncio de que o Tesouro vai comprar neste ano US$ 9,5 bilhões no mercado – e não os US$ 4,5 bilhões informados anteriormente- foi suficiente para mexer com força nas cotações. Além de o valor extra não ser tão significativo, os analistas estimam que o Tesouro já comprou uma boa parte desses recursos. A economista Rachel Fleury, da Tendências Consultoria Integrada, estima que o governo já adquiriu US$ 5 bilhões dos US$ 9,5 bilhões para honrar compromissos externos. Madeira, por sua vez, acredita que falta comprar apenas cerca de US$ 2,5 bilhões. Com isso, a menos que o BC também volte ao mercado para recompor reservas, o câmbio não deve subir com força.
A persistência do câmbio valorizado por vários meses, porém, pode ter seu custo, advertem alguns analistas. Para Suzigan, um dólar barato por um tempo prolongado tende a desestimular investimentos de exportadores, além de afetar as vendas externas de produtos manufaturados. Além disso, como ele acredita numa alta do dólar mais forte em 2006, atingindo R$ 3 no fim do ano, poderão ocorrer pressões inflacionárias mais significativas, que podem inibir a redução dos juros no ano que vem.
Fonte:
Valor Economico
Sergio Lamucci
18/7/2005