Dólar baixo expõe problemas graves de competitividade no setor automotivo

09/01/2009

SÃO PAULO – Após meses reclamando, como a indústria em geral, da taxa de câmbio desfavorável às exportações, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) resolveu centrar fogo na competitividade do setor. Nem por isso apresentou vilões novos. Para a entidade, apesar de o câmbio ter saído da `lista negra`, juros e impostos altos ainda permanecem firmes como as pedras no sapato das montadoras.

Segundo o presidente da entidade, Rogelio Golfarb, “seria simplista dizer que o problema (das montadoras) é o câmbio”. Para ele, o dólar alto do passado apenas “compensava as ineficiências do setor, que são tributárias e creditícias”. Com a valorização do real, elas ficam expostas, e isso, explica, reduz a competitividade do produto brasileiro no exterior, causando impacto negativo nas exportações.

“Hoje não é mais atrativo produzir para exportar. Temos capacidade para isso, mas não vale a pena, pois somos pouco competitivos”, disse Golfarb. Segundo ele, os juros para financiar as exportações brasileiras, pagos pelas montadoras, são de cerca de 14% ao ano, contra 2,5% ao ano na China ou 7% ao ano na Europa. E a alta carga tributária também tem seu peso: “A CPMF, por exemplo, pesa em todas as etapas da cadeia produtiva, que é muito longa no nosso setor. Só a CPMF pode chegar a R$ 1000 por unidade exportada”, afirma.

Segundo o executivo, a situação começa a preocupar ainda mais porque a queda nas exportações vem em conjunto com aumentos nas importações. Para ele, o crescimento do mercado interno brasileiro faz dele alvo para empresas exportadoras de outros países. Assim, as montadoras locais têm de agir de forma estratégica, protegendo seu mercado no país.

Para as exportações, é preciso elevar a competitividade do produto nacional, o que não é simples ou rápido. “Não é uma canetada que vai resolver o problema da competitividade”, diz Golfarb. “Isso demanda tempo e investimentos”, e é nisso que a indústria e governo deveriam se concentrar, afirmou ele.

Esta foi a última entrevista coletiva de resultados conduzida por Goldfarb na presidência da Anfavea. No próximo dia 20 ele será substituído no cargo por Jackson Schneider, que já era o 1º vice-presidente da associação, e também vice-presidente das áreas de recursos humanos, jurídico e de relações institucionais da DaimlerChrysler do Brasil.

Fonte:
José Sergio Osse
Valor Online