Dólar abaixo de R$ 3 pela 1ª vez desde maio
09/01/2009
O dólar comercial fechou ontem abaixo de R$ 3,00. Isso não acontecia desde o dia 6 de maio, quando foi cotado a R$ 2,9990. Negociado a R$ 2,9950, fechou em queda ontem de 0,23%. O piso teórico dos R$ 3,00 foi rompido a contragosto de algumas instituições, embora a própria redução acelerada das posições compradas já denunciasse a inevitável apreciação cambial.
Em julho até ontem, o dólar já caiu 2,98%. Contra os fatos, não há posições compradas que resistam. O fluxo de capital persiste positivo num momento em que não se detecta a necessidade de se assumir novos estoques de dólar. Tudo que entra no caixa é devolvido ao mercado. Afinal, a tendência é de o Federal Reserve sacramentar rota suave de avanço do juro americano.
É isso o que o mercado espera ouvir hoje do presidente do Fed, Alan Greenspan, em discurso ao Comitê de Bancos do Senado. Mesmo que o dólar não se consolide aquém dos R$ 3,00, nem vá buscar os R$ 2,9550 do dia 5 de maio, não se imagina um teto no médio prazo além dos R$ 3,05.
A calmaria cambial, com efeitos benéficos sobre a inflação, não é por enquanto argumento capaz de comover o Copom do Banco Central. A impressão geral é de que o Copom não irá descongelar a Selic enquanto as previsões para o IPCA dos bancos não tomar caminho oposto ao atual, ainda de alta. Na pesquisa Focus divulgada ontem, as altas foram pequenas, mas o mercado ainda não abandonou sua cautela pessimista. O prognóstico para 2004 avançou de 7,05% para 7,08%. E, para os próximos 12 meses, subiu de 6,26% para 6,27%. Para 2005, a aposta das cem instituições consultadas manteve-se estável em 5,5%. A apreciação cambial não é um efeito desagradável ao BC. Retomar os leilões de compra de dólares, interrompidos no início de fevereiro, representaria jogar mais lenha nas expectativas de inflação.
Como nota o economista Alexandre Póvoa, do Banco Modal, a combinação de fatores ligados à inflação não é das mais animadoras neste momento: demanda externa forte, capacidade ociosa muito baixa, economia interna começando a se aquecer e já absorvendo aumento de preços.
As projeções de CDI implícitas nos contratos negociados no mercado futuro de juros da BM&F mal se mexeram ontem. A liquidez do pregão já se reduziu sensivelmente. Embora não se espere nenhuma surpresa – nem a anexação de um viés de baixa à virtual decisão de sustentar o juro básico em 16% – da reunião do Copom que começa hoje e termina amanhã, os investidores se retraem naturalmente. A estimativa de CDI para final do mês persistiu em 15,74%. E caiu levemente, apenas 0,01 ponto, para setembro (15,80%) e outubro (15,90%). Para a virada do ano, o prognóstico subiu de 16,28% para 16,34%.
Os investidores do mercado acionário resolveram “realizar” os lucros de 7,4% registrados na semana passada num dia bem propício: além da expectativa em torno da reunião do Copom e do pronunciamento de Greenspan, ontem foi dia de exercícios no mercado de opções. Nesses momentos, o pregão costuma perder os seus fundamentos mais técnicos. O Ibovespa fechou em baixa de 1,54%, a 22.102 pontos.
Valor Online 20/7/2004
Luiz Sérgio Guimarães