Dependência de gás da Bolívia cairá à metade até 2013

21/12/2009

Nesta semana, a Petrobras reafirmou com a boliviana YPFB, estatal de gás, o acordo que possui para compra do combustível, o que incluiu aumento das tarifas e vínculo até 2019.

São até 30 milhões de metros cúbicos comprados diariamente da Bolívia, o equivalente a mais da metade de todo o gás consumido no Brasil, pouco mais de 40 milhões de metros cúbicos por dia.

Este consumo, no entanto, nas previsões da Petrobras, terá triplicado até 2013, enquanto o fornecimento vindo da Bolívia deve continuar o mesmo.

Foi o que disse ontem ao Brasil Econômico o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli. Com isso, a participação do país vizinho no consumo brasileiro será reduzida dos atuais 50% para não mais que 23%.

Serão quase 100 milhões de metros cúbicos a mais por dia, garantidos principalmente por um esforço da Petrobras em aumentar a produção local – apenas para 2010, há dois novos campos de gás, em Santos (SP) e Espírito Santos, que entrarão em funcionamento.

"Com a Bolívia, esperamos manter o máximo de 30 milhões de metros cúbicos. No Brasil, a expectativa é que a produção cresça até a 72 milhões de metros cúbicos", disse.

De passagem pela capital paulista para gravar uma entrevista ao programa Show Business, que irá ao ar hoje no canal Band, Gabrielli fez um balanço de 2009 e falou das perspectivas futuras: "Para nós, foi um ano sem crise."

Segundo ele, o plano de investimentos da companhia, que já é gigante – de US$ 174 bilhões até 2013 – está sendo ampliado, o que será anunciado logo no incício de 2010.

Gabrielli não adianta números, mas reportagem publicada ontem pelo Brasil Econômico adiantou que o valor pode subir a até US$ 240 bilhões – e este aporte ainda nem considera a maior parte da área do pré-sal.

Cerca de 70% da bacia permanece inexplorada e aguarda votação de seu marco regulatório, no Congresso Nacional, para determinar como será utlizada.

Brasil Econômico – A Petrobras tem acordo de compra de gás da Bolívia até 2019. Como estará esse mercado no Brasil até lá?

José Sérgio Gabrielli – Em 2019 eu não sei, mas já temos uma visão para 2013. Hoje o mercado brasileiro está em torno de 40 milhões de metros cúbicos ao dia. Nossa estimativa é que, em 2013, esteja em 134 milhões.

Com a Bolívia, esperamos manter o máximo de 30 milhões de metros cúbicos. Já no Brasil, a expectativa é que a produção cresça e possa ofertar alguma coisa em torno de 70 milhões a 72 milhões de metros cúbicos.

Os outros 32 milhões queremos utilizar em GNL (gás natural líquefeito), por meio de dois terminais de regaseificação que já temos (plantas que transformam o gás importado, em estado líquido, de volta ao estado gasoso), e da construção de dois terminais adicionais. Isso permitirá trazermos navios de gás natural liquefeito sempre que necessário, um tipo de gás que pode ser trazido de qualquer lugar do mundo.

BE – Quais foram os principais investimentos de 2009 e qual a previsão para 2010?

JSG – Até setembro, foram R$ 50,3 bilhões. Isso equivale a mais de R$ 2,3 mil por segundo, 24 horas por dia. Na área de gás temos projetos importantes. Estamos concluindo 1,6 mil quilômetros de gasodutos; o Gasene (gasoduto que interligará a malha do Nordeste à do Sudeste) deve ficar pronto em março.

Avançamos também na montagem dos terminais de regaseificação tanto no Ceará quanto no Rio de Janeiro.

BE – Então foi um ano sem crise?

JSG – Para nós, foi. Anunciamos nosso plano de estratégia em janeiro, em pleno auge da crise, e aquele plano indicava crescimento. Conseguimos captar US$ 32 bilhões de nova dívida, em pleno 2009.

O valor das nossas ações aumentou mais do que as outras empresas de petróleo. Somos hoje a terceira maior empresa em valor de mercado do mundo; a segunda maior entre as empresas de petróleo com ações em bolsa.

BE – Se houve aumento com crise, como será agora sem ela?

JSG – Vamos crescer mais ainda. Nosso plano todo de investimento está em revisão, com mais de 580 grandes projetos em análise nesse momento. A perspectiva atual é de US$ 174,4 bilhões até 2013, mas no primeiro trimestre de 2010 teremos o novo valor disponível.

BE – Dos US$ 147 bilhões, apenas US$ 15 bilhões são para a área internacional. Está no Brasil a grande aposta?

JSG – Não temos dúvida. A indústria de petróleo do mundo todo está de olho no pré-sal brasileiro, a melhor expectativa exploratória que existe no momento.

Não deixamos de ter nosso investimento internacional porque já estamos presentes em 26 países e é importante manter essa presença. No entanto, o Brasil tem uma atração muito grande.

Todo esse investimento está baseado nas áreas já concedidas. Não contabiliza ainda nenhum centavo das áreas que virão a ser partilhadas pelo novo marco regulatório, em discussão no Congresso Nacional.

BE – Então esses US$ 174 bilhões são ainda apenas uma amostra do que pode ser o total.

JSG – É uma amostra. Porque ninguém sabe exatamente como vai ser a velocidade com que as áreas serão colocadas à disposição.

Fonte: Brasil Econômico