Crise/Brasil: governo admite que volatilidade afeta mercado interno

02/10/2008

eatriz Abreu, editora-chefe da AE em Brasília São Paulo, 30 – Em meio à volatilidade e à crise de confiança que abala os mercados mundiais, o governo dá sinais, pela primeira vez, de compreensão da extensão da crise do subprime e da possibilidade concreta de afetar a economia brasileira. O céu de brigadeiro que prevaleceu nos últimos cinco anos e permitiu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva executar uma política de pleno gasto garantida por recordes sucessivos de arrecadação de impostos, impulsionados por uma economia em crescimento, está cedendo lugar, aos poucos, a um ambiente de apreensão. Lula já fala em "pequeno aperto" no ritmo de atividade do mercado interno.

A crise internacional começou há um ano e três meses, mas somente nas duas últimas semanas mostrou sua face mais tenebrosa, arrastando para o centro do furacão instituições financeiras, e colocando em pânico os mercados mundiais. No Brasil, o impacto até agora está sendo observado mais na chamada "economia real" do que propriamente no mercado financeiro. Exceto, é claro, o despencar da bolsa de valores, que segue a volatilidade internacional.

Lula reage ao movimento especulativo dos mercados, responsabiliza o governo Bush e reconhece que o processo eleitoral para a sucessão na Casa Branca está dificultando uma solução mais rápida para a crise. Ele ataca o "cassino" montado nos Estados Unidos e começa a dar os primeiros passos concretos para contornar os impactos do furacão norte-americano no ritmo da atividade econômica: quer garantir recursos para investimentos e salvaguardar o setor exportador, que começa a ser asfixiado pelo bloqueio das linhas de curto prazo. Entram em cena de forma ostensiva, o Banco Central, Banco do Brasil e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Não se pode dizer que somente agora o governo brasileiro despertou para a crise do subprime. O Banco Central, desde os primeiros sinais da crise, monitora o movimento dos mercados internacionais e, ao longo desses 15 meses, manteve-se alerta quanto ao potencial devastador da crise financeira na maior economia mundial.

Os riscos de recessão são considerados, mas, aparentemente, o Brasil pode se sair melhor do torniquete internacional agindo preventivamente. Há duas semanas, o BC iniciou os leilões de venda de dólares com o compromisso de recompra da moeda, um instrumento para dar liquidez aos bancos que operam com as linhas de comércio exterior. Ao mesmo tempo, irrigou maior volume de recursos para o sistema financeiro na expectativa de garantir reais e dólares às instituições.

O desafio que se impõe, agora, é oferecer uma engenharia financeira que desobstrua os canais de irrigação das linhas externas de curto prazo. Depois da fracassada negociação com o Congresso norte americano, as instituições financeiras retomaram o código de autodefesa e, simplesmente, suspenderam as operações. Para conseguir crédito no exterior somente pagando mais caro.

Essa situação deve prevalecer por mais algum tempo. Ninguém no governo arrisca fazer uma previsão sobre como, quando e a que custo financeiro a crise será encerrada. Enquanto a bonança não chega, Lula vai agir preventivamente e garantir que exportadores e aqueles que apostaram no crescimento do país não sejam afetados pela menor oferta de crédito, seja no mercado interno ou no exterior.

 

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Ùltimo Segundo