Criador dos Brics diz que Brasil vira potência com alta de 3,5% no PIB
09/01/2009
O economista Jim O’Neill, criador do conceito dos Brics (grupo de países emergentes que devem superar as maiores nações até 2050), disse nesta quarta-feira, em visita a São Paulo, que o PIB do Brasil só precisa crescer 3,5% ao ano para o país virar uma potência econômica.
Ele critica a descrença interna de que essa meta possa ser atingida e afirma que a “obsessão” brasileira pela alta do PIB (Produto Interno Bruto) deve ser abandonada. O controle da inflação, segundo o economista, é bem mais importante.
PERFIL
Jim O’Neill, do Goldman Sachs
Nacionalidade: Britânico
Cargo: Chefe de pesquisa econômica global do Goldman Sachs
Graduação: Economia (Universidade de Sheffield, Reino Unido, em 1978)
Doutorado: Universidade de Surrey, Reino Unido, em 1982
Destaque: criador da expressão Bric (Brasil, Rússia, Índia e China)
Social: Presidente do Comitê de Caridade Europeu do Goldman Sachs
Esporte: Foi diretor do time britânico de futebol Manchester United
Bric é a sigla que reúne Brasil, Rússia, Índia e China. Foi criada em 2003 pelo banco de investimentos Goldman Sachs, onde O’Neill é chefe de Pesquisa Econômica Global há mais de cinco anos.
Segundo as projeções da instituição, esses quatro países em desenvolvimento vão se transformar em gigantes econômicos, com crescimento do PIB e da renda per capita. Até 2050, devem superar os países do G6 (trata-se do G7 menos o Canadá, ou seja: Estados Unidos, Japão, Reino Unido, Alemanha, França e Itália).
O’Neill sustenta que o crescimento do PIB brasileiro (2,9% em 2006, segundo dados preliminares), considerado baixo, não vai eliminar o Brasil desse grupo seleto. Como comparação, a China cresceu 10,7% no mesmo período, e a Índia prevê alta em torno de 9%.
Controle da inflação
Ele não considera essa disparidade um problema. “O Brasil não pode competir com a China e a Índia. Eles têm mais de 1 bilhão de habitantes cada um”, declara o economista.
“As pessoas me dizem que o ‘B’ não deveria estar no Bric. Para o Brasil ser a quinta ou sexta economia do mundo, basta crescer 3,5% ao ano. É fácil.” Segundo suas projeções, essa taxa média tem de ser conseguida nos próximos 40 anos.
O economista afirma que é preciso manter a política econômica nos eixos e evitar crises. Para ele, muito mais importante que aumentar o PIB é continuar controlando a inflação, por meio das metas anuais.
“O Brasil deveria gastar mais tempo pensando nas metas de inflação do que nessa obsessão pelo PIB”, diz. De acordo com seu raciocínio, o controle dos preços cria um ambiente econômico favorável a todos.
Com a inflação reduzida, os juros vão cair “bastante”, o que vai favorecer os investimentos. As empresas vão poder tomar mais dinheiro emprestado, a um custo menor, produzindo mais e gerando mais consumo e emprego. Isso levaria a um crescimento do PIB, que ele estima em torno de 5%. “Se o PIB crescer 3,5% em bases sustentáveis será muito bom. Se crescer 5%, será fabuloso.”
O’Neill disse que a meta de 4,5% para a inflação em 2009, defendida nesta quarta-feira pelo ministro Guido Mantega (Fazenda), atende a essa proposta. “Não é necessário ter uma taxa menor que 4,5%.” Ele estima que essa meta deva ser seguida pelo menos durante os próximos cinco anos.
Álcool é vantagem
A preocupação mundial com o aquecimento global coloca o Brasil numa posição privilegiada por causa da produção de álcool combustível (ou etanol), conforme a avaliação de O’Neill.
O produto pode substituir a gasolina, que é mais poluente e colabora em grande escala para o efeito estufa, causador do aumento anormal das temperaturas no mundo. O principal assunto da visita do presidente dos EUA, George W. Bush, ao Brasil na semana passada foi a produção de etanol.
Ao falar sobre a necessidade de o Brasil diversificar suas exportações e não depender só de produtos agrícolas, o economista afirmou que todos os países enfrentam o desafio de obter mercado. “É um mundo aberto e competitivo, que muda o tempo todo.”
A respeito da valorização do real, o economista disse que suas projeções mostram que o câmbio deve atingir cerca de R$ 2 por US$ 1. Se isso vai prejudicar os exportadores (o produto nacional fica mais caro lá fora quando o real está valorizado), é algo que as empresas têm de superar.
Segundo ele, uma empresa eficiente consegue manter a competitividade apesar do câmbio. Cita o exemplo da Alemanha. Está entre os maiores exportadores mundiais, apesar da valorização do euro.
Fonte:
Uol Economia