Copom vê aumento de riscos de inflação, com maior consumo e custo de insumos
09/01/2009
SÃO PAULO – A tendência de alta nos preços internacionais de matérias-primas e a volatilidade das commodities, especialmente alimentos, estão aumentando as pressões inflacionárias em todo o mundo.
Esse foi um dos diversos riscos à trajetória controlada da inflação no Brasil citado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) para justificar a decisão “fazer uma pausa no processo de flexibilização da política monetária” e manter o juro básico da economia em 11,25% ao ano. Para o Banco Central, o cenário atual exige “prudência” na condução da política monetária.
“Essa decisão visa preservar as conquistas no combate à inflação e assegurar que o fortalecimento da atividade econômica continue se dando em bases sólidas”, diz a ata da reunião de 16 e 17 de outubro.
Para os integrantes do grupo, as pressões dos custos básicos, a demanda interna aquecida e o barateamento do crédito são fatores que cercam de incertezas as perspectivas para a inflação.
O Copom menciona que as turbulências nos mercados financeiros e as dúvidas quanto ao ritmo da economia mundial trazem volatilidade às commodities, mas os preços de matérias-primas têm firmado alta nas últimas semanas.
“Nesse contexto, deve-se destacar a forte aceleração no preço dos alimentos que vem sendo observada em vários países, e que tem dificultado o controle da inflação por parte de diversos bancos centrais”, diz o documento. Esses fatores podem influenciar o comportamento dos preços também no Brasil.
Alia-se a essa fonte de pressão a demanda interna aquecida pelo crescimento econômico nacional. “O ritmo de expansão da demanda continua bastante robusto, podendo elevar a probabilidade de observarmos pressões significativas sobre a inflação no curto prazo”, sintetiza o Copom, repetindo que o aumento da renda e do acesso ao crédito por parte da população e incentivos fiscais do governo prometem continuar a impulsionar o consumo.
Como conseqüência, crescem pressões pontuais de preços na inflação do curto prazo, que podem, por um lado, influenciar negativamente as expectativas do mercado para o futuro e, por outro, contaminar a economia de forma mais generalizada.
“O Copom avalia que se elevou a probabilidade de que a emergência de pressões inflacionárias inicialmente localizadas venha a apresentar riscos para a trajetória da inflação doméstica, uma vez que o aquecimento da demanda pode ensejar aumento no repasse de pressões sobre preços no atacado para os preços ao consumidor”, explica o comitê.
Além disso, o próprio corte nos juros, cujo efeito ainda não foi completamente sentido pela economia, “continua podendo colocar riscos não desprezíveis para a dinâmica inflacionária”.
Embora relembre que as importações têm contribuído para conter os repasses de custos – ao provocarem concorrência entre os produtos nacionais e estrangeiros -, o Copom sublinha que esse movimento só vale para mercadorias físicas. Ou seja, não poderia conter aumentos de preços de serviços, por exemplo.
Tendo em vista o aumento das incertezas e dos riscos para a trajetória de inflação, o Copom optou por suspender a tendência de cortes na Selic. “A prudência passa a ter papel ainda mais importante, dentro desse processo, em momentos, como atualmente, nos quais a deterioração do balanço dos riscos inflacionários reduz a margem de segurança da política monetária”, diz a ata.
Para as ações futuras do comitê, o documento não traz sinalizações claras. Reafirma que, a despeito da crise recente nos mercados globais, o cenário externo continua favorável ao Brasil e que o Copom continuará a analisar o balanço de riscos à trajetória da inflação criado pelo aumento do consumo, diminuição dos juros e expectativas futuras de mercado.
No texto, o Copom reafirma que permanecerá analisando se as pressões de preços são pontuais ou generalizadas e promete “adequar prontamente a postura de política monetária às circunstâncias”.
Fonte:
Valor Economico