Copom eleva taxa básica de juro para 16,75%
09/01/2009
Por unanimidade, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 0,50 ponto percentual –de 16,25% para 16,75% ao ano–, apesar dos recentes sinais de trégua da inflação.
Essa é a taxa mais alta desde novembro de 2003. É o segundo aumento consecutivo da taxa e maior que o feito no mês passado, quando a taxa foi elevada em 0,25 ponto, mas a decisão não havia sido unânime (dos 8 votos, 3 eram a favor de alta de 0,50).
Não foi adotado viés. Ou seja, a taxa não pode ser alterada antes da reunião de novembro. Em nota curta, o BC citou que o aumento deu “prosseguimento ao processo de ajuste moderado da taxa de juros básica iniciado na reunião de setembro”.
A alta da taxa ficou no topo das expectativas do mercado e reafirma a posição da autoridade monetária de ser menos tolerante a choques que possam ameaçar a estabilidade de preços. A maioria dos analistas esperava, no entanto, um aumento menor, de 0,25 ponto percentual.
Inflação
Em setembro, a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ficou em 0,33%, abaixo do registrado em agosto (0,69%), mas no acumulado do ano o aumento de preços está em 5,49%. A meta da inflação é de 5,5% nesse ano, com margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. Para 2005, a meta é de 4,5%.
O preço do petróleo em patamares elevados e a recuperação da economia brasileira –refletida no aumento da renda do trabalhador– levaram à decisão de hoje. O BC trabalhava com o barril cotado a US$ 35. Hoje, ele está em cerca de US$ 55.
No último dia 14, a Petrobras anunciou um aumento de 2,4% para a gasolina nas refinarias e de 4,8% para o diesel. No entanto, especialistas do setor acreditam que após as eleições a estatal deve fazer um novo reajuste.
Esse reajuste tem impacto na inflação não só pelo aumento na gasolina, mas também pelo seus efeitos indiretos, como o encarecimento do frete.
Dados econômicos divulgados essa semana também reforçaram a idéia de que a taxa fosse elevada hoje.
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a folha de pagamentos dos trabalhadores da indústria subiu 8,3% em julho em relação ao mesmo mês do ano passado. Com o aumento da renda, o consumo aumenta, o que pode pressionar a inflação.
Outro fator de preocupação para a autoridade monetária é a retomada do crescimento econômico, em especial do setor industrial. Há o temor de que os empresários aproveitem essa recuperação para repassar aos consumidores o aumento de custos, recompondo a margem de lucro.
A cautela do governo revela o temor da falta de investimentos –se eles não forem feitos no nível necessário, é possível uma crise de demanda, o que pressionaria ainda mais os preços. No entanto, economistas contrários ao aperto fiscal e o setor industrial defendem que não há demanda suficiente para pressionar os preços. Eles defendem que esse aumento é causado pelo choque de custos –elevação do preço de matérias-primas.
A justificativa para a reunião de hoje será conhecida no dia 28, quando será divulgada a ata da reunião de hoje.
O relatório de mercado, divulgado semanalmente pelo BC, aponta que a taxa de juros irá terminar o ano em 17%. Para que isso aconteça. A autoridade monetária deve fazer mais dois aumentos de 0,25 ponto percentual nas duas próximas reuniões do ano ou um aumento de 0,5 ponto em novembro ou dezembro.
Azevedo
Essa foi a terceira reunião do Copom com um integrante a menos na votação. A decisão é tomada pelos oito diretores do BC mais o presidente da instituição, Henrique Meirelles. No entanto, desde julho, a vaga da diretoria de Política Monetária –Luiz Augusto Candiota pediu demissão após seu nome ser envolvido em denúncias de evasão fiscal.
Ontem, o Senado aprovou o nome do economista Rodrigo Azevedo para a diretoria, mas ele só irá assumir o cargo após a publicação de seu nome no “Diário Oficial” da União. No entanto, Azevedo acompanhou pessoalmente a reunião desta quarta, apesar de não ter votado.
Folha Online
20/10/2004