Conta corrente: superávit de US$ 11,7 bilhões em 2004

09/01/2009

Tendência é de declínio do saldo positivo nos próximos anos, devido ao crescimento das importações
Por Márcio Juliboni

EXAME O balanço de pagamentos divulgado pelo Banco Central (BC), nesta quinta-feira (20/1), surpreendeu positivamente o mercado. O saldo recorde da balança comercial, que fechou 2004 em 33,7 bilhões de dólares, ajudou o Brasil a registrar outra marca histórica no ano passado. O saldo das transações correntes atingiu 11,7 bilhões de dólares, o maior já registrado pelo país e praticamente o dobro dos 6,1 bilhões de dólares obtidos em 2002 – o recorde anterior. A cifra representa 1,94% do Produto Interno Bruto (PIB) e também é a maior porcentagem de que se tem notícia.

O mercado já esperava um resultado positivo, mas o desempenho ficou acima das projeções. No último Relatório de Mercado de 2004, elaborado pelo BC, as instituições financeiras estimavam um superávit de 10,7 bilhões de dólares. É preciso lembrar, ainda, que esse número nem de longe lembra o pessimismo com que os economistas iniciaram o ano passado. Em janeiro, a expectativa era de um déficit de 3,5 bilhões de dólares na conta corrente, pressionado por um saldo comercial bem menor – 19,15 bilhões.

As projeções negativas do começo do ano passado ignoravam inclusive o bom desempenho da conta corrente em 2003, quando o país registrou um superávit corrente de 4,2 bilhões de dólares, ou 0,82% do PIB. As expectativas foram se revertendo à medida em que as exportações confirmaram a tendência de crescimento neste ano, aliada à capacidade do governo de controlar seus gastos. Para os analistas, o resultado recorde mostra que o governo foi bem-sucedido no ajuste das contas públicas. Os investimentos estrangeiros diretos (IED) também superaram as projeções, com 18,2 bilhões de dólares. O montante foi 80% maior que os 10,1 bilhões que ingressaram no Brasil no ano retrasado. A cifra também ficou acima dos 16,2 bilhões calculados pelo mercado para 2004.

Outro ponto positivo é o aumento das exportações, que fortalecem as reservas internacionais. Em 1999, por exemplo, o Brasil precisaria do equivalente a 5,5 anos de suas exportações para pagar sua dívida externa. Em dezembro de 2004, esse prazo baixou para 2,5 anos, o que demonstra uma melhora importante na solvência externa, ou seja, na capacidade de o governo pagar as contas em moeda estrangeira.

Recuo esperado

Em 2005, o país não deve repetir os números recordes do ano passado. A tendência para os próximos dois anos é de recuo do saldo das transações correntes até atingir um patamar negativo em 2007. Os analistas ressaltam, porém, que essa queda já é esperada e não trará nenhum prejuízo para a economia nem afastará investidores do país.

“Nada disso é preocupante, porque mostra apenas a expansão da economia e um robusto ajuste nas contas públicas”, afirma o economista Júlio Callegari, do banco JP Morgan. Para este ano, o mercado projeta um superávit em conta corrente bem menor, da ordem de 3 bilhões de dólares. O recuo é justificado pelo esperado crescimento das importações, que reduzirá o saldo comercial para 26,1 bilhões, de acordo com as estimativas.

Com a economia em expansão e o mercado interno recuperando-se, a tendência é que as importações de bens de capital, insumos, matérias-primas e bens de consumo aumentem. “A única coisa que pode nos preocupar é se as exportações não continuarem crescendo num ritmo adequado”, diz Callegari.

Portal Exame
21/1/2005