Comércio depende cada vez mais de financiamento

09/01/2009

São Paulo, 29 de Dezembro de 2004 – O crédito ajuda a contornar o baixo nível de renda. O comércio varejista caminha, sem outra alternativa, para uma dependência cada vez maior das vendas a prazo, que garantem a continuidade dos negócios num mercado com baixa capacidade de compra. “É um mal necessário”, concorda João Carlos de Oliveira, presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), que desenvolve um projeto para levar o cartão de crédito a pequenas empresas do setor.

O novo Abrascard, criado com investimento de US$ 3 milhões, já é utilizado por 12 pequenos supermercados de Santa Catarina e do Distrito Federal. Suas vendas a prazo aumentaram, registrando a média de R$ 160,00 por cliente.

Michael Klein, diretor-executivo da rede Casas Bahia, que faz 80% das vendas por meio do próprio crediário, diz acreditar que o mercado manterá essa tendência “enquanto o perfil de renda do consumidor não mudar”.

A expansão do crédito para o consumo já teve reflexos positivos nas vendas deste ano. No comércio paulistano, segundo estimativa da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), as vendas devem ter um aumento real de 5%, revertendo a queda de 3,8% em 2003. Em todo o setor de supermercados, o crescimento esperado é de 2,5%.

Números sobre o varejo nacional levantados pelo IBGE apontam na mesma direção. Até outubro, o volume de vendas aumentou 9,27% sobre o mesmo período de 2003. Produtos que dependem de crédito, como móveis e eletrodomésticos, puxaram os negócios, com expansão de 27,6%, superando em quatro vezes o desempenho de hipermercados e supermercados (6,9%).

O balanço do comércio confirma, na prática, outros indicadores sobre a retração do mercado consumidor. Pesquisa do IBGE mostra, por exemplo, que o salário médio da população formalmente ocupada nas grandes capitais brasileiras teve uma queda real de mais de 30% entre dezembro de 1994 e o mesmo período de 2003.

A perda de renda aparece também no resultado das cadernetas de poupança, que no 1º semestre de 2004, tiveram um saldo negativo (depósitos menos saques) de R$ 740 milhões.

(Gazeta Mercantil/1ª Página – Pág. 1)(Waldo Nogueira)
29/12/2004