Chuva e ventos fortes causam estragos no litoral de SC

09/01/2009

Florianópolis – Neve, frio, ressaca, chuva, alagamentos e ventos fortes, muito fortes. Ontem, os catarinenses presenciaram, de uma só vez, fenômenos que assustaram e causaram estragos, principalmente no Litoral catarinense, confirmando o alerta lançado ontem pela Defesa Civil estadual e estações meteorológicas.

Na Capital, a chuva forte durante todo o dia e rajadas de vento
de 90 km/h provocaram um verdadeiro caos. No Aeroporto Internacional Hercílio Luz – onde a velocidade do vento foi de até 93,6 quilômetros, chegando a arrastar uma pequena aeronave -, os pousos foram cancelados durante à tarde, com os vôos sendo transferidos para outras cidades. Já na estação automática meteorológica da Epagri, localizada na Reserva do Arvoredo, os ventos chegaram a 133 quilômetros horários.

A situação se agravou à tarde, com quedas de árvores, deslizamentos, acidentes de trânsito e falta de energia. As aulas no período da noite foram canceladas na rede estadual e municipal. Apesar do tumulto enfrentado na cidade, até as 19 horas a Defesa Civil não tinha registro de feridos. Na antiga favela do Siri, moradores precisaram ser acolhidos por vizinhos. Duas casas desabaram e outras foram destelhadas.
O capitão Carlos Alberto de Araújo Gomes, gerente de resposta aos
desastres da Defesa Civil de Santa Catarina, diz que os municípios da região já estavam em alerta devido à presença de um ciclone extra-tropical no Sul do Estado.

Gomes explica que o fenômeno é comum na região e que não pode ser comparado à ação de um furacão ou tornado. O meteorologista do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia deSanta Catarina (Ciram), Clóvis Corrêa, diz que previsão é de que a chuva diminua a partir da madrugada de hoje, mas afirma que os ventos fortes devem permanece nesta quarta-feira.

Os ventos fortes deixaram também o mar agitado, com previsões de ondas com até quatro metros no Sul de Florianópolis.O professor Eloi Melo, do Laboratório de Hidráulica Marinha da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), informou que esta é a maior ressaca já registrada desde que começou o monitoramento, há quatro anos. “A bóia que mede a altura das ondas, e está instalada a 30 quilômetros da costa, mostrou ondas de mais de sete metros de altura”. Segundo ele, outro fator é a direção das ondas, que vem do Leste, chocando-se diretamente contra a costa do Litoral catarinense. “Estas condições devem permanecer por até 24 horas”, disse ele, no início da noite de ontem. De acordo com a Climaterra Assessoria e Planejamento em Meteorologia e Agronomia, os fortes ventos podem se repetir hoje e é desaconselhável navegação em alto-mar, pois a ressaca deve ser intensa, com picos de ondas de até seis metros.

Energia
Dos 34 alimentadores da Celesc na Grande Florianópolis, nove não
estavam funcionando no início da noite de ontem. Devido à permanência dos ventos, não havia previsão para restabelecimento do sistema. Até às 20 horas, segundo informações da assessoria da Celesc, cerca de cem pessoas trabalhavam nos reparos necessários. No total, cerca de 20 bairros ficaram sem luz, em áreas como o Centro, Continente e Norte e Sul da Ilha. Cidades como Tijucas, Antônio Carlos e Balneário Camboriú também apresentavam problemas com o abastecimento de energia. A normalização está prevista somente para hoje, de acordo com o engenheiro da Celesc Eduardo Sitônio.

A queda de árvores e de placas publicitárias e os acidentes de trânsito provocados pela concentração de veículos em vias estreitas, sobretudo na área central, e a pressa dos motoristas em vias rápidas como a Beira-mar Norte, aliados à pane generalizada nos semáforos, transformaram o final do dia da Capital numa situação caótica.
Por conta dos fortes ventos, chegou-se a cogitar uma interrupção no tráfego das pontes Colombo Sales e Pedro Ivo Campos – principalmente de motoqueiros – e, por causa disso, alguns motoristas acabaram se envolvendo em acidentes de trânsito ao tentar se apressar para atravessar e chegar do outro lado. O fluxo de veículos, no entanto, não foi bloqueado, mas permaneceu lento por muitas horas.

Enquanto a queda de árvores se concentrou mais nas regiões Sul e Leste da Ilha, atingindo telhados e muros de residências, o destelhamento de casas e estabelecimentos comerciais ocorreu em diferentes regiões do perímetro urbano. No centro da cidade, um prédio foi completamente descoberto e as telhas caíram sobre a rua e o pátio do colégio Lauro Müller, em frente ao edifício. O Hospital Infantil Joana de Gusmão, na Agronômica, teve três unidades de internação destelhadas e os pacientes tiveram de ser removidos para outros setores. Um posto de combustível no município de São José também foi descoberto.
De acordo com o major do Corpo de Bombeiros, Walter Póvoas, todas as unidades dos oito quartéis foram acionadas, totalizando 120 homens e mais de 20 veículos de prontidão nas ruas. Com a chegada da noite, a maior preocupação era voltada ao trânsito, sobretudo nas rodovias estaduais e federais com conexão à Grande Florianópolis.

Por causa dos ventos fortes, muitos galhos e pedaços de árvores foram parar no meio das rodovias, aumentando o risco de acidentes. Pelo menos dois foram registrados no trecho não-duplicado da BR-101, em Palhoça.Na SC-438, que liga Lages à Serra do Rio do Rastro, galhos de árvores foram levados para dentro da pista, causando transtornos para os motoristas.

Seis pescadores resgatados com vida
Imbituba/Itajaí ­ Seis pescadores que estavam desaparecidos desde a manhã de ontem, quando uma tempestade impediu o retorno à terra firme do barco em que estavam, próximo à praia de Itapirubá, em Imbituba, no Sul do Estado, foram resgatados com vida. O grande barco pesqueiro Primavera encontrou os homens à deriva e fez o resgate.

O Corpo de Bombeiros e a Capitania dos Portos realizaram buscas o dia todo, mas o mau tempo e as ondas grandes prejudicaram as buscas. Ainda não se sabe se houve naufrágio.
Adilson Estevam, Álvaro Augusto de Souza, Jaílson Estevam, Cristiano Pacheco de Souza, Odair e Milton, todos pescadores profissionais, saíram de Itapirubá por volta das 7h30 em direção à ilha das Araras ou Itacolomi. Um vento forte impediu que deixassem a ilha em que estavam. Por volta das 15h40, um comprador de peixe fez contato por telefone celular de um dos pescadores, que informou que estava na ilha e não conseguia sair.

O presidente da Associação dos Pescadores de Itapirubá, Júlia César Atanásio, alertou os bombeiros de Imbituba, Capitania dos Portos de Laguna e Defesa Civil. A Marinha enviou um jet-ski e às 16 horas, bombeiros entraram em alto-mar para fazer as buscas, mesmo com as águas muito agitadas.
Os bombeiros conseguiram chegar até a ilha das Araras. Um deles desceu em terra, mas não localizou os pescadores. As famílias estavam apreensivas e até às 19h30 ainda não tinham notícias sobre os desaparecidos.

Fonte:
Uol Noticias
10/8/2005