Cenário macroeconômico é positivo para o Brasil em 2008; risco vem do exterior
09/01/2009
SÃO PAULO – A economia brasileira deve manter o ritmo atual de expansão na casa de 4% a 5%, o saldo da balança comercial recuará mais um pouco, o dólar tende a ficar estável e a inflação deve permanecer relativamente controlada, com os juros caindo ligeiramente.
Este é o cenário básico que a Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima) traça para os indicadores macroeconômicos do Brasil no ano que vem.
Com este panorama, tudo aponta para mais um ano positivo para a economia do país. Aparecem como sinais de atenção, no entanto, os efeitos que a crise do mercado de crédito subprime podem ter na economia norte-americana e global, além de alguma pressão de de alta de preços no mercado local.
No plano interno, o presidente do Comitê de Acompanhamento Macroeconômico da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima), Marcelo Salomon, destaca o crescimento dos investimentos das companhias, que podem ser verificados nos dados sobre a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). “As empresas estão fazendo o dever de casa”, afirma, lembrando que há alguns trimestres esta conta apresenta um crescimento acima do verificado no Produto Interno Bruto (PIB) como um todo. Na visão dele, é importante que este fato se repita no futuro, para que a taxa de investimento sobre o PIB chegue na casa de 22% a 25% daqui a cinco ou seis anos (atualmente está perto de 17%).
A previsão da entidade é de que o PIB do país registre expansão de 4,7% este ano e de 4,4% no ano que vem.
Em termos de balança comercial, a Andima trabalha com projeção de que o superávit encolha de US$ 40,7 bilhões este ano, para US$ 34 bilhões em 2008. Esta redução levaria o saldo de transações correntes a cair de US$ 7,1 bilhões este ano, para um nível de próximo de zero (US$ 100 milhões) no ano que vem.
Apesar do vigor menor das contas externas, Salomon ressalta que o nível das reservas internacionais, na casa de US$ 175 bilhões, é suficiente para cobrir com folga a necessidade de financiamento do país, não havendo riscos na questão do balanço de pagamentos.
Já o efeito do saldo comercial menor será visto na taxa de câmbio, que a Andima projeta que fique em R$ 1,7664 na média ao longo de 2008. “O período de maior apreciação do real ficou para trás”, afirma o economista.
Para a inflação, a entidade prevê variação do IPCA de 4,20% este ano e de 4,10% para o ano que vem. A manutenção do índice sob controle permitiria que o Banco Central cortasse os juros dos atuais 11,25% para 10,45% (previsão média). O economista da Andima ressalta, entretanto, que é importante ficar atento aos índices de preços, que estão mostrando que a pressão de alta não está concentrada apenas nos alimentos.
Em termos de cenário global, Salomon diz que a grande questão hoje no mundo é saber se os emergentes vão conseguir manter o bom ritmo de expansão econômica mesmo com os países desenvolvidos mostrando desaceleração. Os canais de transmissão dos problemas dos países ricos para os países de renda média e pobres podem ser tanto o menor fluxo comercial, como também um movimento de aversão a risco, que deve trazer volatilidade para os mercados financeiros.
O presidente da Andima, Alfredo Neves Penteado Moraes, lembra também que a expansão global menor pode afetar as expectativas futuras das empresas brasileiras, diminuindo o apetite por novos investimentos. “Hoje as empresas estão tirando os projetos do papel e os pondo em prática. Se a demanda global piorar, essa disposição pode mudar”, afirma o executivo.
Dizendo falar em seu nome e não da Andima, Salomon disse ainda que prevê que a elevação do Brasil para a categoria de grau de investimento é mais provável que ocorra no início de 2009 do que em meados de 2008, como espera a maioria dos analistas. Para chegar lá, ele diz que a receita é o país continuar a crescer de forma sustentada.
Fonte:
Fernando Torres
Valor Online