Brasileiro tem a 39ª renda per capita do mundo
09/01/2009
Com o desempenho de R$ 1,769 trilhões do PIB (Produto Interno Bruto), o Brasil passou da 15ª colocação para a 12ª entre as maiores economias do planeta. Boa parte desse movimento, entretanto, é resultado do efeito cambial.
A valorização do real fez com que, ao converter o resultado das contas nacionais para o dólar, o valor ficasse mais alto. Com isso, na moeda americana, o PIB brasileiro em 2004 sofreu um acréscimo de cerca de 20% em relação ao ano anterior. No entanto, segundo Alexandre Fischer, da consultoria GRC Visão, o fato de o Brasil ter crescido 5,2% no ano passado também auxiliou o país a ultrapassar o PIB da Índia, da Coréia do Sul e da Holanda.
Entre as dez maiores economias, o Canadá também galgou posições e ocupa hoje a 8ª colocação, patamar que o Brasil ocupava em 1998. A Holanda, que estava na 12ª posição, em 1998, passou para a 15ª. Essa queda no ranking reflete, em parte, as dificuldades de crescimento econômico da zona do euro e a perda de competitividade das suas exportações por causa da valorização da moeda única européia ante o dólar.
Longe do G7
Apesar de conquistar posições, o Brasil ainda está longe de conseguir alcançar o G7 (grupo dos sete países mais ricos do mundo), desejo já expresso pelo presidente Lula em algumas ocasiões. “O desafio de ficar entre as dez primeiras, é algo para pensar só no próximo mandato presidencial, só a partir de 2006. Por ora, já vai ser muito positivo o Brasil conseguir manter essa 12º colocação”, afirmou Fischer.
Para Juan Jansen, da consultoria Tendências, para conseguir manter taxas de crescimento entre 3,5% e 4% ao ano, o que poderia garantir, no mínimo, a colocação atual, o Brasil terá que elevar a proporção de investimentos. Atualmente, ela encosta em cerca de 20% do PIB. “Para obter essas taxas de crescimento, o Brasil precisaria de 22% ou 23% do PIB em investimentos nos próximos anos”, argumentou o consultor.
Ainda desigual
Na comparação do PIB per capita entre as 60 maiores economias do mundo, o Brasil aparece na 39ª colocação, segundo ranking da EIU (Economist Intelligence Unit). A EIU pertence ao mesmo grupo britânico que edita a revista “The Economist”.
Em 2004, a renda per capta do brasileiro foi de US$ 8.540 (R$ 22.784). Com esse valor, o Brasil fica atrás até da Argentina (30º lugar), que decretou moratória em 2001 e, desde então, passou por uma forte retração do PIB. Os Estados Unidos estão na liderança com US$ 40.040 (R$ 106.826).
Os valores são expressos em termos de paridade de poder de compra. O critério da paridade do poder de compra procura levar em consideração as diferenças de preços ou de custo de vida entre os vários países e o poder de compra dessas diferentes economias. “Essa posição do Brasil mostra a velha questão do problema da divisão do bolo. Há um problema estrutural de má distribuição de renda e também não há renda suficiente para ser distribuída”, afirmou Fischer.
Segundo o economista, comparativamente, o Brasil deveria estar entre as 25 maiores rendas per capita do mundo. “É inaceitável essa posição. Ser o 12º colocado em termos de volume é pouco”, diz o consultor da GRC Visão.
Com uma taxa de crescimento demográfico entre 1,2% e 1,3%, de acordo com a consultoria, o Brasil deveria ter uma taxa de crescimento de, pelo menos, 4% ao ano para melhorar a distribuição de renda do país.
Mas, só a exibição de uma robusta taxa de crescimento também não é garantia de melhor justiça da partilha da renda. Durante o “milagre econômico”, nos anos 70, mesmo com taxas de 7% não houve uma progresso significativo na distribuição. “O problema dessa época era que esse crescimento era muito baseado em gastos públicos. Isso é um tipo de crescimento artificial que não contribui para a distribuição de renda. A boa notícia é que agora o Brasil está crescendo apoiado nas exportações”, disse Fisher.
Folha de São Paulo
CÍNTIA CARDOSO
01/4/2005