Brasil tem deflação em junho e analistas reforçam que cenário já é favorável para corte de juros

12/07/2023

Especialistas ouvidos pelo g1 consideram que não há mais motivos no radar para a manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano, já que até mesmo as expectativas para a inflação de 2023 estão muito próximas da meta do BC.

O Brasil teve uma deflação de 0,08% em junho, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (11). Com esse número, a inflação acumulada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 12 meses é de 3,16%.

Além da forte desaceleração observada nos números oficiais — vale lembrar que, há um ano, o IPCA de 12 meses era bem maior, de 11,89% —, as expectativas do próprio mercado financeiro para a inflação brasileira em 2023 vêm caindo há meses.

Segundo o Boletim Focus, relatório do Banco Central do Brasil (BC) que reúne as projeções de economistas para os principais indicadores econômicos do país, o IPCA deve encerrar este ano em uma alta de 4,95%.

Essa foi a oitava queda consecutiva na mediana das projeções apontadas pelo Focus e, caso as expectativas se concretizem, a inflação encerrará 2023 muito próxima da meta do BC, de 3,25% — podendo oscilar entre 1,75% e 4,75%.

Neste contexto de desaceleração da inflação e convergência à meta, ainda falta alguma coisa para que o BC comece a cortar os juros no Brasil? Segundo especialistas ouvidos pelo g1, o ambiente para a redução da Selic, taxa básica de juros, já é favorável. As principais razões para isso são:

Os juros altos já fizeram seu papel

O objetivo de qualquer banco central ao elevar os juros em um país é conter o avanço da inflação. Os Estados Unidos e a Europa vivem esse momento agora e o Brasil começou o seu ciclo de altas na Selic, taxa básica de juros, há cerca de dois anos — com a taxa do país saindo de 2% para 13,75% ao ano, patamar em que se encontra agora.

De acordo com Ariane Benedito, economista e RI da Esh Capital, os registros de uma inflação menor em 2023, abaixo das expectativas iniciais do mercado, são o resultado da estratégia de prolongamento do ciclo de aperto monetário adotado pelo BC, tendo em vista que as medidas adotadas pela instituição demoram um tempo até serem sentidas, de fato, pela população.

“A política monetária como ferramenta para controle de preços atinge a economia real com uma defasagem de 6 a 12 meses. Por isso, os resultados recentes da inflação brasileira remetem às decisões anteriores sobre a taxa de juros”, explica a economista.

Os juros mais altos tornam os processos de tomada de crédito e financiamento mais caros tanto para a população quanto para as empresas. Isso leva a uma redução no consumo dos brasileiros e, com menos demanda, os preços começam a cair — o que explica a desaceleração da inflação.

No entanto, Ariane considera que o papel desse ciclo de aperto dos juros já foi cumprido. “Entendo que já consolidamos um ambiente favorável para início dos cortes de juros”, pontua.

Tiago Feitosa, analista e especialista em mercado financeiro da T2 Educação, compartilha da mesma visão e destaca que “não há mais razão nenhuma para a manutenção da taxa de juros no atual patamar”.

O diretor do Ibmec e PhD em Economia, Reginaldo Nogueira, comenta, também, que o BC brasileiro foi o primeiro a começar um ciclo de alta nos juros em relação a outros países e, agora, deve ser o primeiro a começar a cortar as taxas. O especialista acredita que, em sua próxima reunião em agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) pode reduzir a taxa Selic em 0,50%, a 13,25% ao ano.

Além dessa possível queda — que já é esperada pelo mercado financeiro, em maior ou menor grau —, Nogueira ressalta que o BC ainda tem outras três reuniões em 2023 e que novos cortes são esperados.

Expectativas para a inflação

A principal razão para que os especialistas considerem que deve haver o início do corte de juros no próximo mês é a própria expectativa para a inflação.

“O IPCA do primeiro semestre de 2023, arrefeceu mais do que as expectativas previam, levando os economistas a reavaliarem as projeções para o ano corrente, bem como o que chamamos de ‘carrego estatístico’ para o horizonte relevante, que ajuda a ancorar as expectativas”, afirma Ariane.

É consenso entre os especialistas que não há nenhum fator no radar que possa impactar a inflação de modo a que ela volte a subir com força. Eles acreditam que o IPCA deve encerrar o ano muito perto do teto da meta do BC, assim como apontam as projeções do Boletim Focus.

“O governou voltou com a tributação federal nos combustíveis, o que poderia representar um aumento nestes preços e, consequente inflação. Entretanto, apesar da volta da tributação, o próprio barril de petróleo (mesmo cotado em dólares) vem caindo ao longo deste semestre. Na prática, isso pode compensar um eventual aumento de preços. Em resumo, ao menos no curto prazo, não há nada no radar que possa provocar uma inversão da rota inflacionária” destaca Tiago Feitosa.

Nogueira, do Ibmec, ainda pontua que a proposta do arcabouço fiscal apresentada pelo governo também ajuda a manter as expectativas perto da meta do BC, já que o texto mostra que o governo está “mais em linha com a manutenção do limite do teto de gastos”.

Além disso, Feitosa destaca a importância do dólar nesse controle da inflação. A moeda norte-americana recuou 9,27% no primeiro semestre de 2023 e o especialista explica que essa queda tem um impacto direto na deflação, já que todo produto importado que entra no país é negociado em dólar.

“O crescimento do agronegócio no Brasil no primeiro trimestre aumentou a entrada de capital estrangeiro no Brasil. Isso aumenta a demanda por Real, fortalecendo a nossa moeda em relação a divisa norte americana e a queda do dólar é uma das principais contribuições para a queda da inflação”, diz Feitosa.

O analista explica que, se mantidas as condições favoráveis do agronegócio e confirmada a redução da taxa de juros, isso favorece a população e as empresas e atrai mais investimentos estrangeiros para o Brasil, ajudando a manter o preço do dólar controlado e influenciando as projeções para a inflação.

Fonte: g1 | Economia

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