Brasil se beneficia de ano forte no mundo

09/01/2009

Para economistas, condições internacionais favoráveis ajudaram crescimento, mas país não teve destaque entre os emergentes.

Em um ano de crescimento econômico mundial forte, os emergentes, como o Brasil, se beneficiaram da demanda crescente dos países desenvolvidos. O FMI (Fundo Monetário Internacional) estima que a economia mundial tenha crescido 5% em 2004.

“O ano passado foi generoso com as economias emergentes, e o Brasil não foi exceção”, diz Renata Heinemann, economista do Banco Pátria. Para Heinemann, o país teve crescimento forte, com expansão das exportações sem prejuízo do desempenho interno, mas o desempenho do Brasil não se destacou na América Latina.

A Argentina, por exemplo, cresceu 8,8% em 2004, segundo estimativa do governo. O país vizinho se beneficiou dos preços elevados das commodities e teve crescimento alto por causa da base de comparação fraca, assim como o Brasil, segundo Heinemann. A economista considera que outros países, como México e Venezuela, que se beneficiaram da alta do petróleo, tiveram mais destaque na região.

Já para Alex Agostini, economista da consultoria GRC Visão, o Brasil não foi o único a aproveitar a expansão mundial, mas outros países tiveram mais competência para isso.
“O resultado de 2004 foi positivo, mas ele não aconteceu porque estamos fazendo a lição de casa, e sim por condições internacionais favoráveis”, diz o economista.

Um exemplo, para ele, seria a Índia, que vem crescendo já há algum tempo sem crises internas, diferentemente do Brasil, que enfrentou turbulências em 2003. A Índia teve crescimento de 6,4% no ano passado, segundo estimativa do FMI.
Agostini lembra também que a média de crescimento dos países emergentes é de 3,5% ao ano, enquanto o Brasil cresceu, nos últimos dez anos, a uma média de 2,4% ao ano, taxa que o economista considera muito baixa.

Ainda que o desempenho do Brasil tenha ficado atrás do de países como China (que cresceu 9,5% em 2004) e Turquia (7%, segundo previsão do FMI), a expansão do país foi maior do que a dos principais países desenvolvidos.

Os Estados Unidos cresceram, no ano passado, 3,9%, enquanto a Europa e o Japão tiveram desempenhos bem mais fracos. Os 12 países da zona do euro cresceram só 2% em 2004; já os 25 países da União Européia se expandiram 2,3%. O Japão, que registrou retração nos últimos três trimestres, teve aumento do PIB de 2,6%.

Desaceleração em 2005
Há sinais de desaceleração na economia mundial, o que pode se refletir em menor demanda por produtos brasileiros. O FMI projeta menor crescimento da economia global, de 4%, este ano.
Outros riscos para o equilíbrio mundial são a possibilidade de novos aumentos no preço do petróleo e nos juros básicos dos Estados Unidos.
Para Agostini, porém, esses fatores não comprometem a penetração de produtos brasileiros no exterior, já que o país tem participação pequena no comércio mundial.
Heinemann diz que “haverá uma acomodação do crescimento global em 2005, mas ele ainda terá vigor expressivo”. A economista não vê indícios de desaceleração nos Estados Unidos, na China e na Ásia. “A expansão mundial vai impulsionar a economia brasileira, pelo menos no primeiro semestre”, diz.

Folha Online
2/3/2005
PAULA LEITE