Brasil quer ajudar Paraguai e Uruguai para manter Mercosul

09/01/2009

O governo brasileiro vai oferecer ajuda econômica ao Paraguai e ao Uruguai, na tentativa de persuadí-los a desistirem da idéia de uma relação bilateral com os Estados Unidos.

A informação foi dada nesta sexta-feira pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, durante entrevista aos jornalistas brasileiros, e após encontro, em Buenos Aires, dos chanceleres dos quatro países do Mercosul e da Venezuela.

“Não estou prometendo nada porque não tenho dinheiro no bolso. Mas são outros órgãos que têm (o dinheiro) e eu os levarei para tentar ajudar (os dois países)”, disse o ministro. “Mas temos que demonstrar que, num processo de integração, somos capazes de ajudar aos sócios menores.” Amorim acredita que uma política industrial comum ajudaria o desenvolvimento do Paraguai e do Uruguai – e talvez resolvesse a insatisfação que hoje sentem em relação ao Mercosul.

Investimento
Amorim viajará na próxima sexta-feira para Montevidéu, e na segunda-feira seguinte para Assunção, acompanhado de integrantes da diretoria do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e do Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), do Ministério da Ciência e Tecnologia.

“Vamos ver que tipo de coisa podemos financiar. Por exemplo, se uma empresa brasileira se associar a uma empresa uruguaia ou quiser fazer investimento no Uruguai, ela fará jus ao investimento brasileiro”, disse. Amorim referia-se, assim, às possibilidades de financiamento para o setor empresarial brasileiro que queira investir no Paraguai e no Uruguai, entre outras alternativas de maior integração econômica e empresarial com os dois menores sócios do Mercosul.

O Brasil assumirá a presidência temporária do bloco a partir de julho, quando receberá o posto da Argentina. Por isso, antes mesmo de assumir este comando que dura seis meses, disse o chanceler, o Brasil já tomará a iniciativa para tentar resolver as queixas dos uruguaios e paraguaios. Ultimamente, os dois países sinalizaram, várias vezes, que pretendem concretizar uma relação bilateral com os Estados Unidos, já que o Mercosul, entendem, não atende suas expectativas econômicas.

Nas mais de quatro horas de reunião, em Buenos Aires, os ministros das Relações Exteriores do Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, além da Venezuela, formalizaram o pedido do país presidido por Hugo Chávez de entrar para o Mercosul.

Venezuela
Quando perguntado se a chegada da Venezuela não poderia gerar dificuldades nas relações do bloco com os Estados Unidos ou outros países e blocos, Celso Amorim respondeu: “A vida é assim. Pode se resolver de um lado e não do outro”. Para Amorim, o importante é que a incorporação da Venezuela “muda a vértebra da integração”.

Pelo protocolo assinado pelo chanceler venezuelano Alí Rodríguez, o país de Hugo Chávez assume o compromisso de adaptar suas tarifas de exportação às que são cobradas pelo Mercosul e num prazo de quatro anos.

“A chegada da Venezuela é muito importante para o Mercosul e para toda a integração da América do Sul”, disse Amorim. O chanceler venezuelano disse que o objetivo “é somar” e “não subtrair”. Segundo ele, a Venezuela importa produtos industriais do Brasil e alguns alimentos dos outros países (Argentina, principalmente).

“E mesmo quando poderíamos estar competindo, estamos nos unindo. Uma das provas é a associação que a Petrobras e a PDVSA estão realizando em diferentes setores”, disse, numa referência aos projetos conjuntos das duas empresas petroleiras tanto na Venezuela quanto no Brasil.

Rodríguez disse que a Venezuela passará a acompanhar o Mercosul, inclusive nas negociaçoes com os Estados Unidos. “O problema nao é o Mercosul ou a Venezuela, o problema se chama Estados Unidos”, disse, sem entrar em mais detalhes.

Anúncio
O anúncio formal desta integração será feito na reunião dos presidentes do bloco, na cidade argentina de Córdoba, nos dias 20 e 21 de julho. O assunto que continuou pendente, mesmo depois da reunião dos ministros das Relações Exteriores, nesta sexta-feira, foi a divergência entre o Uruguai e a Argentina.

O chanceler uruguaio Reinaldo Gargano teria reclamado, segundo assessores uruguaios, contra os bloqueios que manifestantes argentinos fizeram na principal estrada federal de acesso ao país. A manifestação, que durou meses, foi contra a construção de duas fábricas de celulose às margens do rio Uruguai, que divide os dois países.

Para o governo uruguaio, a Argentina desrespeitou uma regra do Mercosul ao impedir o livre trânsito de produtos e o assunto deve ser resolvido pelo bloco.

Para a Argentina, o Uruguai desrespeitou tratado bilateral e o assunto deve ser solucionado pelo tribunal internacional de Haia. “O Brasil não pode intervir nesta situação. O Mercosul é uma família. Muitas vezes é preciso passar pela via judicial para depois se chegar a um entendimento”, afirmou Amorim, em tom conciliador.

Fonte:
Invertia
BBC Brasil