Brasil perde mercado para os EUA na América Latina

09/01/2009

O Brasil está perdendo suas preferências comerciais em países da América Latina que firmaram acordos bilaterais com os Estados Unidos, especialmente o Chile e o México.

Além disso, a zona de livre comércio que engloba EUA, México e Canadá (NAFTA) desvia o comércio de alguns produtos brasileiros tradicionalmente mais eficientes que os americanos no mercado mexicano: óleo de soja, açúcar, alumínio e semi-manufaturados de aço e ferro. É o que aponta um estudo da Fiesp, em parceria com o Icone e a consultoria Rubens Barbosa & Associados, divulgado nesta quarta-feira, 3, na Fiesp.

Segundo a pesquisa, os acordos Chile-EUA, firmado no início deste ano, e México-EUA, vigente há mais de dez anos, ampliaram o acesso dos produtos norte-americanos a esses mercados. Hoje, as preferências tarifárias concedidas aos EUA pelo Chile são, em média, 96,3%, enquanto as garantidas ao Brasil no âmbito da Aladi ficam em 68,5%.

“Essa taxa é maior porque eles (Chile e EUA) estão fazendo uma zona de comércio completa”, explicou o presidente do Icone, Marcos Jank. Em sua análise, como o acordo entre esses dois países existe há menos de um ano, a participação dos bens americanos no mercado chileno pode aumentar ainda mais.

No caso do México, 87,9% são as preferências concedidas aos Estados Unidos e 72,2% as concedidas ao Brasil. Por existir há muito tempo, é possível constatar que o México realmente passou a comprar produtos americanos em detrimento dos brasileiros.

Rubens Barbosa: Brasil precisa negociar preferências imediatamente
De acordo com o ex-embaixador Rubens Barbosa, o estudo mostra que os produtos brasileiros estão perdendo competitividade na América do Sul, em virtude da concessão de tarifas mais baixas para os EUA. Por isso, reforça, é muito importante que o Brasil aprofunde “imediatamente” as preferências negociadas no âmbito da Aladi (Associação Latino-Americana de Integração, que envolve acordos apenas de complementaridade econômica ou de alcance parcial), para proteger e ampliar sua participação nas importações dos principais países latino-americanos. Outra recomendação é a busca de um acordo equilibrado e eqüitativo quando forem retomadas as negociações da Alca.

Pelos resultados da pesquisa, a Fiesp irá solicitar ao governo federal uma revisão do acordo Mercosul x Chile. “O Chile é membro associado do Mercosul. É estranho que ele tenha oferecido concessões mais favoráveis aos EUA do que fez ao Mercosul”, disse o embaixador. Além disso, foi reforçado também a importância de haver estratégias comerciais no setor privado, que deve exigir do governo a renegociação de alguns acordos desfavoráveis.

Foco nas Américas – Para Christian Lohbauer, gerente de relações internacionais da Fiesp, os dados apresentados são mais uma evidência de que o foco das ações de comércio brasileiras devem ser as Américas. “A nossa capacidade competitiva ainda está muito vinculada a este continente”, afirmou. E complementa: “O Brasil precisa focar nos mercados que deseja ser líder”.

Os acordos que os Estados Unidos têm feito com países do CAN (Comunidade Andina) são outro risco para o Brasil, segundo aponta o relatório: eles devem seguir o mesmo caminho dos tratados com Chile e México, influenciando negativamente na demanda por produtos brasileiros.

Agência Indusnet Fiesp
Fernanda Cunha