Brasil perde espaço nos EUA, México, Rússia e África do Sul

09/01/2009

Depois de ganhar participação em todos os principais destinos de suas exportações nos últimos três anos, o Brasil está perdendo a briga para os concorrentes em quatro importantes mercados do comércio global: Estados Unidos, México, Rússia e África do Sul. Nos demais destinos, como União Européia, Japão e, principalmente China, o desempenho do país segue positivo, revela estudo da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), obtido pelo Valor.

A fatia do Brasil nas importações totais dos Estados Unidos caiu de 1,43% no acumulado de 12 meses até junho de 2005 para 1,3% na mesma comparação até junho de 2006. Com essa queda, o país perdeu o espaço que conquistou recentemente. O market share do Brasil voltou para o patamar de 1,29% registrado nos 12 meses acumulados até junho de 2002, antes do recente ciclo de expansão das exportações.

No México, o Brasil representava apenas 1,22% das importações em junho de 2002. Chegou a 2,04% na metade de 2005, mas caiu para 1,77% em junho de 2006. Na África do Sul e na Rússia, os produtos brasileiros representavam 2,09% das importações totais na metade deste ano. Em junho de 2005, o Brasil detinha fatia maior: 2,22% do mercado sul-africano e 2,18% do russo.

Fernando Ribeiro, economista da Funcex e autor do estudo, atribui a perda de dinamismo das exportações à valorização cambial, que afeta principalmente os manufaturados, mas alerta que fatores setoriais também prejudicam o desempenho do país.

Para os Estados Unidos, as exportações nos últimos 12 meses até junho caíram em diversos setores devido ao câmbio, como calçados (- US$ 88 milhões), compressores (- US$ 61 milhões), móveis (- US$ 59 milhões), automóveis (- US$ 39 milhões), tratores (- US$ 33 milhões). Mas a queda nas vendas de aviões, semimanufaturados de ferro e aço, ferro fundido e óleos combustíveis para os EUA provocaram um rombo de US$ 1,8 bilhão. Nesses casos, conta mais o calendário de vendas das empresas (aviões) ou a capacidade produtiva (aço).

No mercado mexicano, a perda de participação do Brasil está relacionada com as exportações de automóveis, que começam a perder fôlego após a explosão de vendas que ocorreu com a assinatura do acordo entre os dois países, que isentou de tarifas de importação uma cota de carros. As vendas de automóveis e aviões para o México caíram US$ 200 milhões em 12 meses até junho.

“Com a valorização do dólar, algumas montadoras mudaram a sua programação e passaram a atender o mercado mexicano por meio de unidades em outros países”, diz Antônio Carlos Morão Bonetti, presidente da Câmara de Comércio Brasil-México. Ele afirma que o setor automotivo representa 80% do comércio entre os dois países. Dados da Funcex demonstram queda de 14% e 16% na quantidade de automóveis e autopeças exportadas para o México nos 12 meses até junho.

No caso da Rússia, a queda de market share é conseqüência do embargo do país às carnes suína e bovina do Brasil, que começou em outubro de 2005 devido a um foco de febre aftosa. De acordo com Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), os frigoríficos brasileiros estão perdendo mercado para Canadá, União Européia e também produção local. “Falta muita transparência ao governo russo”, reclama Camargo Neto.

A Rússia só permite importações de carne bovina e suína originárias dos Estados do Rio Grande do Sul e do Mato Grosso. Santa Catarina, maior produtor de suínos do país, ficou de fora. As carnes bovina e suína representam 40% das exportações do Brasil para a Rússia. E o mercado russo, apesar do embargo, ainda responde por metade das exportações brasileiras de carne suína.

Apesar das perdas nesses mercados, Ribeiro considera positivo o desempenho do Brasil no mercado internacional. O país elevou sua participação total nas importações mundiais de 0,88% no acumulado de 12 meses até junho de 2002 para 1,07% na mesma comparação até a metade de 2005 e 1,14% em 12 meses até junho deste ano. Na China, a participação dos produtos brasileiros subiu de 0,67% para 0,88% e atingiu 1,07% nessa mesma comparação. Ganho também no mercado europeu: de 1% para 1,16% e 1,2%.

Ribeiro alerta, porém, que o market share do Brasil em diversos mercados “cresce apenas por conta do desempenho dos preços dos produtos exportados”. O volume dos embarques brasileiros cresceu 4,7% no acumulado de 12 meses até junho deste ano. Entre junho de 2002 e junho de 2005, a média anual de crescimento foi de 17,7%.

O crescimento dos volumes exportados perdeu fôlego para quase todos os destinos, com exceção da China. Para Estados Unidos, Japão, México e União Européia, o volume de exportações caiu, respectivamente, 5%, 1,7%, 6,8% e 0,9%, no acumulado do ano até junho de 2006. Na média de 2002 a 2005, a quantidade de exportações para esses destinos cresceu 6,2%, 8,2%, 1,9% e 13,4%.

Mesmo nos países do Mercosul, a desaceleração também ocorreu: entre junho de 2002 e junho de 2005 as quantidades exportadas para o bloco cresceram 30% ao ano. No acumulado de 12 meses até junho, a alta foi de 8,3%. Só a China foi exceção à regra. O volume de exportações para o gigante asiático expandiu a taxa anual de 30% entre junho de 2002 e junho de 2005. No acumulado de 12 meses até a metade deste ano, a alta foi de 32,5%.

O desempenho dos preços dos produtos exportados pelo país segue na mão contrária das quantidades. Entre junho de 2002 e a metade de 2005, as empresas reajustaram os produtos no exterior à média anual de 6,5%. Esse percentual chegou a 12,3% no acumulado de 12 meses até junho de 2006.

Fonte:
Valor Economico
Raquel Landim