Brasil cai uma posição no ranking de competitividade mundial

09/01/2009

Os dados do levantamento são utilizados como ferramenta para demonstrar os países com melhor ambiente propício para investimentos

BELO HORIZONTE – O Brasil perdeu uma posição no ranking de competitividade do International Institute for Management Development (IMD), em 2006, chegando ao 52º da lista. Os dados do levantamento são utilizados como ferramenta para demonstrar os países com melhor ambiente propício para investimentos. O relatório é baseado em pesquisas com um total de 312 indicadores, tanto quantitativos quando qualitativos, em 53 países e oito regiões econômicas. Em 2005 o País havia subido duas posições.

Nem a boa performance das exportações brasileiras e a manutenção dos indicadores estáveis na economia ajudaram no resultado. Os dados do levantamento apontam o “efeito mensalão”, que se traduz em um certo pessimismo da comunidade empresarial em relação à imagem do governo.

Mesmo com a queda, a colocação foi melhor do que o esperado. Isso porque a expectativa dos analistas da Fundação Dom Cabral (FDC), responsável pela compilação e análise dos dados do relatório na América Latina e Brasil, era de que as denúncias de corrupção poderiam significar a perda de pelo menos duas posições.

Pior ano
Segundo o pesquisador de Competitividade e Inovação da FDC, professor Carlos Arruda, 40% dos indicadores são qualitativos, baseados em pesquisas feitas junto a 200 executivos brasileiros, que respondem a questões relacionadas à percepção do futuro do Brasil em vários aspectos.

Um dos pontos que mais pesam é justamente a imagem do governo e a corrupção. “Esse ano foi pior, porque a memória de toda a discussão política no ano passado estava muito viva quando fizemos a pesquisa.”

PIB
Arruda explicou que no relatório, um dos fatores de maior impacto é o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que interfere diretamente em outros pontos da pesquisa como produtividade, geração de emprego e outros. “Felizmente tivemos alguns indicadores que se mantiveram, cresceram e deram algum equilíbrio a esse efeito de baixo crescimento econômico”, disse.

Segundo ele, o Brasil vinha com uma avaliação mais positiva por parte do empresariado do que a indicação dos dados estatísticos divulgados por instituições, como Banco Central, Banco Mundial (Bird), Fundo Monetário Internacional (FMI), Instituto de Pesquisa Econômicas Aplicada (Ipea) e Fundação Getúlio Vargas. “Historicamente, a percepção era de que o Brasil melhoraria, mesmo que os dados não estivessem tão bons. Esse ano houve um efeito negativo, a imagem foi negativa de maneira geral.”

Avanços
Mesmo com a perda de competitividade, o relatório aponta avanços significativos na economia brasileira no ano passado. Entre eles estão a redução da dívida pública em relação ao PIB (de 7,08% em 2004 para 2,42% em 2005), o crescimento do mercado de ações e o aumento das exportações.

As vendas externas passaram para US$ 118,3 bilhões em 2005, com a comercialização de produtos com maior valor agregado (tecnologia) e serviços. “O Brasil está indo na direção adequada, avaliou Arruda.

Em 2004, em função do crescimento maior do PIB, da ordem de 5%, o Brasil chegou a galgar 20 posições no sub-ranking performance econômica, passando de 51ª colocação para a 31ª. Em 2006, porém, os fatores chave para a queda foram o baixo crescimento da renda per capita, a redução na internacionalização de empresas brasileiras e os problemas internos de corrupção e transparência do governo.

Entre os principais desafios, o relatório cita alguns já destacados no ano passado: custo do capital, taxa de juros e carga tributária. Também foram somados a esta lista uma política cambial adequada às prioridades de expansão do comércio internacional, o aumento no nível de investimento, a necessidade de maior transparência e eficiência do governo.

Incentivos
Por outro lado, os incentivos por parte do governo brasileiro para a internacionalização das companhias, segundo ele, “ainda estão muito mais no campo da discussão do que ação”. Ele lembrou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) possui uma linha de crédito para apoiar a internacionalização e poucas empresas conseguiram acesso a estes recursos.

“A Vale do Rio Doce, Petrobras, Gerdau e Natura são exceções, mas o problema é que são sempre as mesmas empresas”, ressaltou.

Em termos de infra-estrutura básica, de acordo com o pesquisador, o Brasil melhora, mas ainda não na velocidade adequada. Arruda reiterou que mais importante seria a aplicação de recursos no desenvolvimento de inovações tecnológicas e em educação que capacitaria o País para o futuro. “Esse conjunto está muito defasado. Há melhorias marginais em infra-estrutura básica, mas não há o mesmo na infra-estrutura científica e tecnológica.”

Tendência
Arruda acredita que a tendência é que o Brasil se recupere ou pelo menos mantenha a posição. “O próximo ranking deve repetir esse, talvez um pouquinho mais otimista em relação à percepção da comunidade empresarial.”

Após as eleições, ele previu que o empresariado retome a confiança no crescimento da economia. O pesquisador reiterou que não há ainda sinais de aumentos expressivos no volume de investimentos para permitir um incremento do PIB.

Outros países
Os Estados Unidos se mantiveram na liderança do ranking, graças à sua capacidade de gerir diversas competências de forma balanceada. Ainda assim, as principais deficiências apresentadas pelo país estão relacionadas às finanças publicas e ao balanço de comércio. O déficit do orçamento chegou a 2,55% do PIB e da balança comercial atingiu em 2005 o patamar de US$ 800 bilhões, média de US$ 2,1 bilhões por dia.

A China, apesar da contribuição negativa do governo, foi o país que conquistou mais posições no ranking de 2006 passando da 31ª para a 19ª, seguida da Índia e Colômbia, que conquistaram 10 e 7 posições, respectivamente.

Dentre os países que perderam competitividade os destaques são a Coréia, Nova Zelândia e o Chile.

Fonte:
Estadão.com.br
Raquel Massote