BNDES eleva em 46% crédito para estrangeiros
09/01/2009
Aprovação de empréstimos para empresas com controle externo alcança 15,5%
As aprovações de novos empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para empresas controladas por capital estrangeiro cresceram 46,5% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, atingindo R$ 3,5 bilhões, equivalentes a 15,5% do valor total dos empréstimos aprovados no período.
Foi a maior participação para o período de janeiro a junho dos três primeiros anos do atual governo. Ela havia sido de 11,4% do total no primeiro semestre de 2003, e de 12,7% no primeiro de 2004.
Embora considere que a prioridade maior deve ser a empresa de capital nacional, o superintendente de Planejamento do BNDES, Aluysio Asti, avalia que o aumento da participação das estrangeiras no bolo total das aprovações não chega a ser significativo. Segundo ele, a participação anual fica, tradicionalmente, entre 12% e 15% (em 2003 foi de 12,2% e em 2003, de 12,8%). “Estamos fazendo o que a lei determina”, justificou.
A atual legislação brasileira, segundo ele, estabelece setores prioritários do capital estrangeiro a serem financiados pelo BNDES com uma abrangência muito ampla, com destaques para setores como infra-estrutura. Nos financiamentos às exportações na modalidade pós-embarque é permitido até financiar empresas estrangeiras sem sede no Brasil, como ocorre com compradores de aviões da Embraer. “Nós financiamos muito telecomunicações e energia, consideradas pela legislação como de alto interesse nacional”, explicou Asti.
Os financiamentos a empresas de capital estrangeiro pelo BNDES começaram a ser feitos nos anos 90, graças à abertura legal. Mas, filosoficamente, o capital nacional ainda é visto como prioritário. “Acho que as estrangeiras, eventualmente, têm mais oportunidade de obter recursos lá fora. Nesse sentido, a gente deve procurar dar mais apoio às empresas de capital nacional. Mas há setores importantes, como energia e telecomunicações, que têm grande participação estrangeira e que precisam ser financiados”, disse Asti.
O diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio Gomes de Almeida, diz que, embora não tenha contra o capital estrangeiro (é presidido por Ivoncy Iochpe, do grupo Amsted-Maxion, controlado por capital americano), a entidade entende que a empresa estrangeira “não precisa desse apoio”, exceto em segmentos nos quais o Brasil seja muito carente e que precise de investimentos com urgência, como na infra-estrutura.
Gomes de Almeida argumenta também que em alguns casos, como os dos financiamentos de pré-embarque feitos ao setor automobilístico no final de 2003, o BNDES ajudou a desenvolver uma forte plataforma exportadora, justificando totalmente as operações. “Mas em condições de igualdade ou de escassez de recursos, vale priorizar a empresa nacional. Por que ela é mais bonita ou emprega mais? Não, porque ela tem menos possibilidade de ter outra fonte de financiamento”, pondera.
O economista Antonio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP e especialista em estudos de empresas estrangeiras (foi presidente da Sociedade Brasileira de Estudo das Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica, a Sobeet) disse que os financiamentos do BNDES às estrangeiras se justificam, antes de mais nada, pela importância que elas têm na economia do país, sendo responsáveis, segundo ele, por cerca de 60% das exportações brasileiras. Na sua avaliação, algum tipo de restrição só se justificaria em situação de escassez de recursos. Tanto Lacerda como Gomes de Almeida concordam que algo em torno de 15% do bolo total é uma fatia que não compromete o atendimento às empresas nacionais.
Na estatísticas dos desembolsos (execução de empréstimos já aprovados e contratados, alguns em gestões anteriores) do banco estatal, o valor destinado às empresas de controle estrangeiro também cresceu, passando de R$ 3,26 bilhões no primeiro semestre de 2004, para R$ 3,56 bilhões, no primeiro de 2005 (mais 9,2%). Mas em relação ao total houve ligeira retração, de 18,1% para 17,8%.
Fonte:
Valor Economico
Chico Santos
8/8/2005