Bancos estrangeiros encontram equilíbrio no Brasil

09/01/2009

SÃO PAULO, 19 de abril (Reuters) – Quando as pessoas falavam sobre banco estrangeiros no Brasil um ano e meio atrás, geralmente tentavam descobrir qual seria o próximo a deixar o país.

Abalados pela crise financeira na Argentina e pela incerteza em relação ao futuro econômico do Brasil, onde um presidente de esquerda se preparava para tomar posse, os bancos estrangeiros estavam sob pressão para reduzir sua exposição ao país.

Mas a maré parece ter virado para os poucos estrangeiros que decidiram manter operações de varejo no Brasil, como o espanhol Santander Central Hispano SAB.MC, o holandês ABN Amro AAH.AS e o britânico HSBC Holding HSBA.L.

Para analistas, estas instituições dão sinais de que vão ficar no Brasil por um bom tempo.

Além disso, os analistas avaliam que os estrangeiros que ficaram estão agora posicionados para tirar vantagem da recuperação econômica prevista para 2004, depois de três anos de crescimento modesto ou inexistente.

E, ainda que as taxas de juros estejam em declínio, a expectativa é de que a demanda por crédito continue a subir.

“Os bancos estrangeiros que ficaram e acreditaram no país agora poderão colher os frutos do crescimento econômico”, disse Erivelto Rodrigues, que dirige a consultoria Austin Asis em São Paulo.

Nos últimos dois anos, bancos como o espanhol BBVA BBVA.MC, o britânico Lloyds TSB LLOYD.L e o italiano Banca Intesa BIN.MI encerraram suas operações no Brasil, cansados da instabilidade econômica que tende a abalar a região periodicamente.

Alguns, como o Lloyds, tinham uma longa história no país, mas outros, como o BBVA, chegaram ao Brasil nos anos 90, como parte da onda generalizada de investimento na América Latina por grupos estrangeiros que buscavam oportunidades espetaculares de crescimento.

2003: O ANO DA CONSOLIDAÇÃO

Para o ABN AMRO e o HSBC, 2003 foi um ano decisivo. Ambos reforçaram sua presença no Brasil com grandes aquisições, que ajudaram a dirimir as dúvidas quanto à disposição de manter as atividades no país.

Em abril, o ABN AMRO adquiriu o Banco Sudameris Brasil do Intesa por 688 milhões de euros em dinheiro e ações. Seis meses mais tarde, o HSBC adquiriu os ativos brasileiros do Lloyds, em uma transação de 815 milhões de dólares.

Ainda que suas redes de agências não se comparem à de gigantes locais como o Bradesco , o maior banco privado brasileiro, os bancos estrangeiros têm a vantagem de dispor de acesso mais barato a capitais, disse Bruno Pereira, analista do UBS no Rio de Janeiro.

“Acredito que começaremos gradualmente a vê-los assumir posições mais agressivas no mercado, talvez com a adoção de políticas agressivas de preço e assim por diante”, disse ele.

Pereira acrescentou que alguns dos bancos estrangeiros talvez já tenham conseguido roubar mercado dos concorrentes locais, porque demonstraram crescimento mais forte em suas carteiras de empréstimos em 2003.

As operações locais do Santander mostram avanço de 9,5 por cento nos empréstimos em 2003, e a carteira de empréstimos do ABN AMRO cresceu 15 por cento, excluídos os ativos do Sudameris, de acordo com Pereira.

Isso se compara com os sete por cento de crescimento do Bradesco e os 4,4 por cento do Unibanco UBBR11.AS, o terceiro maior banco privado brasileiro, e com a contração na carteira de empréstimos do Itaú ITAU4.AS o segundo maior entre os bancos privados brasileiros.

Ainda que o gigante norte-americano Citigroup C.N tenha operações de varejo no Brasil, o banco limitou-se a observar de longe a consolidação. Mas o novo presidente do Citigroup para a América Latina, Manuel Medina-Mora, disse que deseja expandir a presença de seu banco no país.

“É um banco que mais cedo ou mais tarde –e por ‘mais tarde’ quero dizer talvez daqui a 50 anos– vai adquirir um grande banco brasileiro”, disse Rafael Guedes, diretor executivo da agência de classificação de crédito Fitch em São Paulo.

“Eles têm os recursos necessários a uma operação luxuosa como essa”, acrescentou.

O único banco estrangeiro de varejo com destino incerto no Brasil é o Bank Boston, cuja matriz, o FleetBoston Financial, foi adquirida recentemente pelo Bank of America.

O Bank Boston continua afirmando que está comprometido com o Brasil, mas analistas duvidam que seu novo controlador mantenha esse objetivo.

BRIGA COM LOCAIS

Após a consolidação do setor em 2003, resta agora uma dúvida: será que os estrangeiros que atravessaram a tempestade incólumes serão realmente capazes de enfrentar os pesos pesados nacionais?

Ao contrário do México e da Argentina, bancos locais dominam o mercado brasileiro. Os analistas dizem que isso prova a força, a competência e a saúde geral do sistema bancário do país.

“O Itaú certamente está mais preocupado com o Bradesco e o Banco do Brasil, e vice-versa, do que com o HSBC, ABN Amro e Santander. Mas eles sabem que essas empresas dispõem de recursos consideráveis e podem se tornar uma ameaça”, disse Guedes.

Youssef Nasr, presidente do HSBC Bank Brasil, está confiante na capacidade de seu banco para enfrentar as empresas locais. Acredita, além disso, que os bancos estrangeiros desempenhem papel vital no mercado.

“Se você tem uma economia em geral fechada, não precisa muito de bancos internacionais”, disse.

“Mas, quando ela se abre, os bancos internacionais se tornam a corrente sangüínea do comércio internacional, do investimento internacional, da mobilidade internacional de pessoas, e assim por diante”, afirmou.

REUTERS Por Carlos A. DeJuana