Bancas migram para São Paulo

09/01/2009

Escritórios do Norte, Sul, Nordeste e até mesmo de Estados vizinhos a São Paulo estão fazendo um movimento inverso ao das grandes bancas paulistanas, que nos anos 1980 e 1990 se expandiram montando filiais no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador. O que tem levado esses grandes escritórios – alguns com mais de mais de 20 anos em suas sedes originais – para São Paulo é a especialização deles em algumas áreas – como os setores automotivo, de telefonia, siderúrgico, agrário e de infra-estrutura, direito do consumidor, parcerias público-privadas (PPPs), fundos de pensão e até direito de família e planejamento das sucessões.

O motivo da migração para São Paulo é que os clientes desses escritórios nas suas sedes originais, onde têm fábricas ou moram seus sócios, acabam gerando um alto volume de processos na Justiça paulista. É em São Paulo que estão as sedes administrativas da maioria das empresas clientes ou para onde acabam indo muitos dos processos, por ser a cidade a moradia de partes nas ações judiciais. Em alguns casos, é o próprio cliente que pede, indireta ou até diretamente, a “transferência” das bancas para a capital paulista. Em outros, é o custo de ir e voltar que acaba não compensando.

No fim de agosto uma das maiores bancas de advocacia empresarial do Norte e Nordeste, a Martorelli e Gouveia Advogados, instalada em Recife desde 1983, chegou à capital paulista com seis advogados e intenção de chegar a 18 em breve. O sócio que dá o primeiro nome da banca, João Humberto Martorelli, admite que o estopim para a abertura do novo escritório foi a demanda de uma multinacional que a banca já atendia na área de direito do consumidor. Para administrar a filial paulista, o sócio Paulo Eduardo Moury Fernandes foi transferido, mas outros advogados do escritório, como o próprio Martorelli, devem continuar na ponte aérea Recife-São Paulo a cada semana. Outro segmento ao qual o escritório já era familiar e que atraiu a banca para São Paulo foi o sucroalcooleiro. Segundo os advogados, há entre 30 e 40 usinas sendo estruturadas no interior do Estado.

A advocacia mineira parece ser a mais atraída pelo mercado paulista. Em maio, o Grebler Advogados, há 26 anos em Belo Horizonte e especializado no setor de construção civil e agora em PPPs, se apresentou ao mercado com seis advogados. “Antes tínhamos uma preocupação ao aceitar casos em São Paulo, pois isso requer acompanhamento diário e a presença física dá confiança e estimula os clientes menos regulares”, diz o sócio Eduardo Grebler, que atualmente tem “duas casas” e um celular de cada DDD. A banca chegou aos poucos em São Paulo, com mais freqüência após a quebra do Banco Santos, quando começou a atuar para credores “em uma base experimental”. Agora Grebler quer dar impulso à área internacional aproveitando a proximidade do Porto de Santos.

Outro mineiro que chegou a São Paulo “pelas beiradas” e acabou de se instalar na capital é o Junqueira de Carvalho, Murgel & Brito Advogados e Consultores, com atuação expressiva na representação de fundos de pensão como os da Votorantim, Johnson & Johnson e Kodak, além da Previ – do Banco do Brasil – e da Eletros – da Eletrobrás. “Ficava difícil justificar o uso de um escritório de fora”, avalia Fábio Junqueira. Com três advogados na filial paulistana, ele não descarta sua mudança para a cidade. Nesse assunto, aliás, a transferência dos principais sócios nunca é 100% descartada.

As diferenças culturais regionais da profissão são os principais desafios para as bancas que chegam a São Paulo. A maior delas é o “reloginho” – ou “time sheet”, nome do método importado dos Estados Unidos -, acionado a cada vez que o cliente liga para uma consulta, remunerando os advogados por minuto. “Isso o cliente do Norte e Nordeste não aceita”, diz Martorelli. No direito de família esse assunto é ainda mais delicado, pois há clientes que ligam para o escritório para pedir uma receita de arroz ou para desabafar porque o filho chegou da visita ao pai com a meia rasgada, diz Karime Costalunga, sócia do gaúcho Sáloa, Karime, José Naja e Advogados Associados, especializado em direito de família e sucessões. Depois de 25 anos atuando no Sul do país, o escritório está há dois meses também na capital paulista. Por enquanto, três sócios se revezam entre São Paulo e as outras filiais da banca, em Porto Alegre, Novo Hamburgo e Caxias do Sul.

Uma demonstração de que o movimento ainda está longe do fim é a previsão de chegada em São Paulo, nas próximas semanas, do Sacha Calmon – Misabel Derzi Consultores e Advogados, que fez nome ao longo de 13 anos atuando na área de direito penal tributário e produzindo pareceres, hoje com mais de 600 publicados – cerca de 70% deles para empresas de São Paulo -, segundo Sacha Calmon. A motivação para o novo escritório foi a concentração da administração da Vivo, cliente da banca, em São Paulo. “É a idéia dos imigrantes. São Paulo é a nossa Nova York, é mais fácil estar lá do que em Boston”, diz.

Fonte:
Valor Economico