Até 2006 o Brasil pode crescer menos que a média mundial

09/01/2009

O Brasil deve crescer num ritmo de 3,1% ao ano até o fim do mandato do presidente Lula, acima da taxa observada na gestão de Fernando Henrique Cardoso, de 2,4% ao ano.

Mas, segundo o professor de economia internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Reinaldo Gonçalves, o índice de desenvolvimento econômico do País em relação à economia mundial, de 2003 a 2006, ficará em 1,4 ponto percentual ao ano menor, o que será o terceiro pior resultado desde 1901.

O índice considera a diferença entre o crescimento brasileiro e o verificado por um grupo de 16 países desenvolvidos. Quando o número é positivo (ou seja, o Brasil cresceu mais do que a média mundial) representa desenvolvimento. Se o índice é negativo, significa subdesenvolvimento.
Caso sejam confirmadas as projeções do professor Reinaldo Gonçalves, o desempenho do Brasil no governo Lula só terá sido melhor do que nos períodos João Goulart (-1,5 ponto percentual), e Fernando Collor (-3,5). “É como uma corrida, em que quem está num ritmo mais lento vai ficando para trás”, diz o economista.
Mas o economista Francisco Eduardo Pires de Souza, assessor da área de Planejamento do Bndes, argumenta que é preciso olhar a qualidade do atual crescimento brasileiro e o fato de que ele agora é sustentado. “O Brasil perdeu um pouco de posição relativa frente a outros países. Mas hoje temos um crescimento que vai se manter por anos e anos, sem inflação e com redução significativa da vulnerabilidade externa e do endividamento público”, pondera.

Carlos Langoni, diretor do Centro de economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acha que a diferença entre o Brasil e o mundo não é tão grande. Ele calcula que o País vai crescer 3,5% em 2005, frente a 4% da economia mundial; e 4% em 2006, em linha com o resto do mundo. Mas concorda que a distância cresce em relação à Rússia, que vai ter expansão de 5,5% a 6% este ano, à Índia (8%) e à China (9,4%). E não recomenda comparações com a Argentina e a Venezuela, onde o crescimento esperado para 2005, de 8%, não é considerado sustentado.

A previsão feita por Gonçalves para o PIB brasileiro, de 3,1% no mandato de Lula e de 4,4% para a economia mundial, foi elaborada com base nas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) para 2005 e 2006.
O professor da UFRJ acha que o Brasil está desperdiçando uma oportunidade de ouro, porque a taxa média de crescimento mundial ficou em 3,3%, de 1901 a 2006, mas pode chegar a 4,4% de 2003 a 2006. Trata-se de um desempenho que, nas últimas três décadas, só ocorreu na segunda metade dos anos 70.

Combate à inflação prejudicou resultados, diz economista

O economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Estêvão Kopschitz observa que, nos últimos anos, o Brasil cresceu menos porque ficou preso ao combate à inflação. Para ele, é preciso levar em conta que, se não tiveram muito sucesso em termos de crescimento, este governo e o anterior se saíram muito bem em termos de estabilização da economia.
“Melhorar a distribuição de renda deve ser o principal objetivo do País, mas este sim tem sido o maior fracasso de todos os governos. Pelo menos nos últimos 60 anos, a distribuição de renda no Brasil é incrivelmente a mesma”.

Kopschitz diz que só se consegue reduzir a pobreza com crescimento econômico, redução da concentração de renda ou combinando as duas coisas. E para Langoni, a aceleração do crescimento é possível. “O processo de ajuste brasileiro é recente e ainda incompleto. O do Chile começou há 20 anos, o da Índia há quase 15 e, o da China, em 1978”.
Langoni concorda que o Brasil já começou a colher os frutos da estabilização, depois de ter perdido as oportunidades proporcionadas pela vigorosa expansão mundial dos anos 90. Na corrida do desenvolvimento, segundo o professor da FGV, o Brasil tem potencial para ficar entre o Chile e a Índia. Mas, para isso, precisa melhorar a qualidade do ajuste fiscal – reduzindo o juro e abrindo espaço para o investimento público – e consolidar a abertura comercial. A corrente de comércio do Brasil hoje está em 30% do PIB, enquanto a do Chile chega a 60% e a da China a 70%. O assessor do Bndes comenta que, até o fim dos anos 90, o crescimento brasileiro se deu a partir de um maior endividamento, provocando forte piora das contas internas e externas.

De lá para cá, ressalta o economista do Bndes, muita coisa mudou para melhor: o Brasil fazia parte da lista do Banco Mundial de países severamente endividados, mas conseguiu sair do nível crítico em 2004; e as exportações, que cresciam a 80% da média mundial entre 2003 e 2005, superaram os demais países do mundo e ficaram em 139% da média este ano.
Nas últimas duas décadas, o ritmo de crescimento brasileiro diminuiu devido à crise do México, em 1995, da Ásia, em 1997, da Rússia, em 1998, e dos EUA, em 2001. As expectativas negativas em relação à eleição presidencial, em 2002, também foram entrave ao crescimento.

Nestes casos, lembra o economista do Bndes, o financiamento externo caiu e foi preciso aumentar os juros para obter os recursos necessários ao financiamento do setor público. Este ano, porém, diz ele, a crise política interna não provocou recessão: “O Brasil já não é mais a bola da vez”.

Fonte:
Jornal do Comercio
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