Área mais desmatada da Amazônia só tem 23% de florestas virgens

09/01/2009

RIO DE JANEIRO (Reuters) – A área mais antiga de ocupação humana da Amazônia possui somente 23 por cento de sua cobertura florestal intacta, mostrou uma pesquisa divulgada nesta sexta-feira.

Os resultados servem de alerta para o que pode ocorrer no futuro com o restante da floresta se não forem tomadas medidas adequadas.

O Centro de Endemismo Belém, que fica entre os Estados do Pará e Maranhão, é a área mais devastada da Amazônia brasileira, onde está grande parte das espécies ameaçadas de extinção do Pará.

“A situação hoje no Centro de Endemismo Belém dá a melhor idéia do que pode acontecer no futuro nas outras regiões da Amazônia que ainda não passaram por esse processo intenso de colonização”, disse à Reuters o biólogo José Maria Cardoso da Silva, vice-presidente de Ciência da Conservação Internacional do Brasil.

Para o pesquisador, a paisagem que existe atualmente em alguns locais é de desolação. Há municípios que não possuem mais nada de floresta e ficaram sem nenhuma alternativa econômica, além disso possuem problemas de água e o solo está se erodindo.

A região, que abrange 147 municípios (62 no Pará e 85 no Maranhão), conta com 41 áreas protegidas, sendo 27 unidades de conservação e 14 terras indígenas, que também correm risco, pois estão sob forte pressão de invasão e exploração.

A área avaliada, por meio de imagens de satélite e pesquisas de campo, é estimada em 243 mil quilômetros quadrados, equivalente ao tamanho do Reino Unido.

De acordo com os dados obtidos no estudo, feito por pesquisadores do projeto Biota Pará, uma parceria da Conservação Internacional com o Museu Paraense Emílio Goeldi, de 33 por cento dos remanescentes florestais encontrados, 23 por cento correspondem a floresta intacta e 10 por cento a florestas exploradas.

Segundo o pesquisador, como grande parte das florestas dessa região já foi destruída e não tem mais recursos a oferecer, e a população é muito pobre, estão sendo invadidas terras indígenas e reservas ecológicas.

“Isso é uma lição para as outras áreas da Amazônia, porque todo mundo diz que as terras indígenas e as reservas ou as unidades de conservação freiam o desmatamento. Isso ocorre enquanto houver floresta ao redor, mas à medida que essas florestas que estão fora das unidades de conservação ou das terras indígenas são exploradas e não estão mais acessíveis, as pessoas entram nas reservas e nas unidades de conservação, porque vale a pena invadir do ponto de vista econômico, vale a pena correr o risco”, afirmou.

“PAISAGEM SUSTENTÁVEL

O levantamento mostrou ainda que nas áreas já desmatadas, apenas 1,4 por cento apresentam ações de reflorestamento, um tipo de incitava que poderia reverter o processo de destruição na região.

A criação de novas unidades de conservação, melhora na governança na região, envolvimento do setor privado por meio de reservas particulares de patrimônio natural (RPPN), obtenção da participação efetiva das comunidades indígenas na proteção das florestas e incentivo à recuperação de áreas degradadas são algumas das recomendações feitas pelos pesquisadores para deter o avanço da destruição e recuperar as áreas já devastadas.

“É preciso criar o que a gente chama de uma paisagem sustentável na região, usando adequadamente as áreas já alteradas para produzir, para dinamizar a economia, para gerar emprego e renda, mas ao mesmo tempo planejar a conservação da biodiversidade de uma forma organizada, criando, integrando as áreas de conservação pública, as terras indígenas, as reservas privadas, as áreas de proteção permanente e as reservas legais”, disse Cardoso da Silva.

“E ainda estamos em tempo de fazer isso.”

Na semana passada, o governo anunciou que novos dados apontam uma redução de um terço no ritmo de devastação da Amazônia, durante o período de agosto de 2005 e julho de 2006. Estimativas de satélite mostram que 13.100 quilômetros quadrados foram desmatados, contra 18.790 no período anterior.

Fonte:
Reuters Brasil
Julio Villaverde
Maria Pia Palermo