América Latina:Visita Bush é «oportunidade refazer relações»
09/01/2009
A visita do Presidente Bush ao Brasil, Uruguai, Colômbia, Guatemala e México é uma oportunidade para os Estados Unidos refazerem as relações com a América Latina, «abandonada» pela política externa norte-americana, defendeu o académico brasileiro David Fleischer.
«Bush é um presidente deficiente e está um ´pato manco`. Perdeu o controlo do Congresso e está prestes a perder a TPA. Esta será uma oportunidade para relançar as relações com a América Latina, esquecida, assim como a África, da sua política externa, ocupada com Iraque e Afeganistão», disse hoje à Lusa o cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB).
A Trade Promotion Authority (TPA) expira em Julho de 2007, e a renovação dessa autorização dada ao executivo para negociar acordos comerciais dependerá do Congresso norte-americano, dominado agora pelo Partido Democrata, de oposição a Bush.
A TPA é considerada fundamental para o sucesso da Ronda de Doha, da Organização Mundial de Comércio (OMC), pois evita que os países tenham de negociar duas vezes com os EUA – uma com o Executivo e outra com os parlamentares.
O governo brasileiro já informou que a Ronda de Doha será um dos principais assuntos abordados no encontro dos Presidentes Lula da Silva e George W. Bush, no dia 09, em São Paulo.
Em relação à parceria que os EUA querem fechar com o Brasil na área de etanol, David Fleischer considera o acordo um ganho para o Presidente Bush, que poderá usar a bandeira do combustível limpo para tentar subir sua popularidade, hoje abaixo dos trinta pontos.
Os dois países têm interesse em cooperação tecnológica, em desenvolver unidades produtoras de etanol em terceiros países e em tornar o etanol uma «commodity» internacional.
Os empresários brasileiros querem, entretanto, coisas concretas nesta anunciada «parceria estratégica».
«Esta parceria, por enquanto, não representa nada para os empresários brasileiros. A única vantagem foi ter jogado os holofotes da imprensa mundial sobre o etanol. Não fará sentido se não houver uma discussão sobre a redução da taxa cobrada pelos EUA em cima do álcool brasileiro», disse à Lusa o secretário-geral da União da Indústria Canavieira (Unica), Fernando Ribeiro.
Os EUA aplicam uma taxa de 2,5% mais 0,54 dólares por galão (3,785 litros) sobre o etanol brasileiro.
«Não se pode conversar sobre abertura de mercado e não abrir o próprio quintal», sublinhou Ribeiro.
A posição do Brasil como mediador político para a região é outro ponto de interesse dos EUA, preocupados com a corrida armamentista protagonizada pela Venezuela, com a ajuda da Rússia.
Na opinião do secretário de Relações Internacionais do Partido dos Trabalhadores (PT), Valter Pomar, o Brasil pode, sim, cumprir o papel de «mediador» na região, mas «sem abrir espaço às pretensões imperialistas norte-americanas».
«Não contem com o Brasil para pressionar Cuba, Venezuela, Bolívia e o Equador», afirmou, acrescentando que o PT participará nas manifestações contra a visita de Bush.
Na segunda-feira, o Presidente Lula disse, durante seu programa de rádio, que não pretende conversar com Bush sobre a Venezuela.
«Não há espaço para a gente discutir problemas de outros países. Se nós conseguirmos avançar nos nossos problemas e encontrar soluções para o acordo da OMC e para o biocombustível, já estaremos fazendo um bem à humanidade extraordinário», assinalou Lula.
Segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros brasileiro, Celso Amorim, o que o Brasil tem a oferecer é a sua própria postura.
«É um país democrático, respeitador da imprensa livre, com uma política social importante e uma política externa que, embora criticada no Brasil por alguns sectores, é muito respeitada no exterior», disse.
Uma das críticas à política externa brasileira é do seu alegado anti-americanismo, como denunciou recentemente o ex-embaixador do Brasil em Washington, Roberto Adbenur.
Para o professor David Fleischer, norte-americano naturalizado brasileiro, «não existe na política externa brasileira um anti- americanismo oficializado, como na Venezuela, mas sim subliminar».
Já uma fonte militar brasileira destacou à Lusa que o facto de Brasília ter sedeado a cimeira América do Sul-Países Árabes, em Maio de 2005, foi uma «pisadela» do Brasil ao seu maior parceiro comercial.
A diplomacia brasileira garante não existir qualquer anti-americanismo, mas ressalta que não há alinhamento automático da política externa brasileira com a norte-americana.
O Brasil condenou a invasão do Iraque e quer a ampliação do Conselho de Segurança da ONU de 15 para 24 membros, reivindicando um assento permanente no órgão.
Fonte:
Diário Digital / Lusa