América Latina cresce menos em 2005
09/01/2009
Depois do forte crescimento registrado neste ano, o Brasil e os demais países da América Latina devem avançar a um ritmo mais fraco em 2005, em grande parte devido à expectativa de desaceleração da economia global.
O banco de investimentos Morgan Stanley, que prevê uma expansão para a região de 5,1% em 2004, projeta um avanço de 3,4% no ano que vem. A boa notícia é que o desaquecimento deverá ocorrer de forma suave, e não da forma dramática como tantas vezes ocorreu na região.
No Brasil, a desaceleração global deve ter menos impacto porque a manutenção do crescimento depende mais do mercado doméstico do que da demanda externa, avalia Gray Newman, economista-chefe do Morgan Stanley para a América Latina. Além disso, a vulnerabilidade externa do país diminuiu bastante nos últimos anos.
Segundo analistas, o crescimento do país deve ficar entre 3,5% e 3,8% em 2005, abaixo dos 4,5% a 5% projetados para este ano. O principal risco a esse cenário relativamente róseo para o Brasil – e para a América Latina – é o comportamento dos preços do petróleo, fator que já leva a uma revisão para baixo das projeções de crescimento global para o ano que vem.
Para Newman, a importância do setor externo no processo de retomada brasileira é hoje bem mais modesto do que foi no começo de 2004. “Depois de representar quase dois terços do crescimento no primeiro trimestre, nós estimamos que as exportações líquidas – a diferença entre exportações e importações – responderam por menos de um quinto da expansão no segundo trimestre”, escreve ele sobre o Brasil, em relatório sobre a América Latina. O consumo das famílias é que passou a liderar o processo, afirma Newman. No meio do ano, o fator já respondia por metade do crescimento observado; no começo do ano, era um quarto.
O economista entende que o Brasil ainda não está imune ao desaquecimento global, mas parece menos vulnerável do que no começo do ano. “Mas, em linha com uma visão global cautelosa, esperamos que o crescimento brasileiro desacelere para 3,8% em 2005, comparado com 4,7% em 2004.”
O economista-sênior para a América Latina do Dresdner Kleinworth Wasserstein (DrKW), Nuno Camara, faz uma análise parecida com a de Newman, afirmando que “a demanda doméstica tem capacidade de manter a economia em expansão mesmo com a desaceleração global”. Camara prevê que o PIB vai crescer 4,8% neste ano e 3,5% em 2005.
O chefe de pesquisa para a América Latina do WestLB, Ricardo Amorim, também acredita que o Brasil está mais preparado para enfrentar solavancos na economia mundial. O país vai registrar em 2004 superávit em conta corrente pelo segundo ano consecutivo e a parcela da dívida doméstica corrigida pelo câmbio caiu bastante de 2002 para cá, afirma ele. Amorim diz ainda que, com o forte crescimento da corrente de comércio (exportações e importações), o país fica menos sujeito à volatilidade dos fluxos de capital.
De qualquer modo, Amorim não aposta numa piora significativa do quadro internacional em 2005. Para ele, o cenário externo deverá permanecer relativamente positivo para emergentes como o Brasil. Os juros globais deverão subir, é certo, mas a alta não deve ser dramática. Amorim estima que a taxa básica nos EUA, de 1,75% ao ano, pode não atingir nem 3% no fim de 2005. E, mais importante para definir o destino dos fluxos de capital no mundo, o juro dos títulos do Tesouro americano de 10 anos deve continuar inferior a 5% em 2005, bem abaixo da média de dos últimos 30 anos, de 8%. Hoje essa taxa está pouco acima de 4%.
Amorim estima um crescimento de 5,1% para a América Latina neste ano, e de 3,8% no ano que vem. Ele ressalta que parte dessa desaceleração ocorrerá porque alguns países cresceram muito neste ano – também devido à baixa base de comparação de 2003 – e não devem repetir a dose. É o caso da Venezuela, que, depois de ver o PIB encolher 9,2% no ano passado, deve crescer 14% em 2004 e desacelerar para 5% em 2005, segundo o Morgan Stanley.
Amorim também vê um 2005 positivo para os países latino-americanos porque acredita que os preços das commodities devem permanecer em níveis elevados, já que os países asiáticos, grandes importadores desses produtos, devem seguir crescendo com força.
O comportamento do petróleo é o risco porque pode levar a pressões inflacionárias. Stephen Roach, economista-chefe global do Morgan Stanley, revisou para baixo sua previsão para o crescimento mundial em 2005, de 3,9% para 3,6%, em grande parte devido à expectativa de que o óleo ficará em nível mais alto que o imaginado. Neste ano, a expansão global deve ser de 4,8%, estima Roach. O banco prevê que o barril ficará em US$ 37,50 na média de 2005, acima dos US$ 33,80 projetados antes.
Valor Online
22/10/2004