Álcool deve ficar pelo menos 10% mais caro do que em 2005
09/01/2009
A demanda nos mercados interno e externo é apontada como fator de valorização do produto e aumento do seu preço
Projeção feita para o setor sucroalcooleiro indica que o preço médio do álcool hidratado (que vai direto no tanque do veículo) terá valorização acumulada na usina de pouco mais de 10% este ano, frente o mesmo período do ano passado. O indicador Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), para o mercado de álcool, revela estabilidade nos preços praticados pelas usinas paulistas, com pequenas altas. A demanda nos mercados interno e externo é apontada como fator de valorização do produto.
O aumento de cerca de 9% para a produção brasileira de álcool na safra atual, iniciada em março, não deve estancar altas do combustível produzido com cana-de-açúcar, tanto para o consumidor quanto nas usinas. Os preços estimados pela RC Consultores, uma consultoria econômica, para o álcool no mercado interno devem se manter pelo menos 10% acima dos valores praticados em 2005.
O motivo da alta, apontado tanto pela consultoria quanto pelo Cepea, é a grande procura pelo produto no exterior e o crescimento da frota brasileira de carros bicombustíveis. A demanda nestes dois mercados puxará cenários como o de estoques baixos e uma oferta ajustada à procura.
A projeção feita pela RC Consultores estima uma valorização acumulada no ano de 10,3% para o preço médio do álcool hidratado, encerrando 2006 com uma cotação média de R$ 1,07 por litro –– valor pago à vista nas usinas, livre de impostos.
Conforme o indicador do Cepea para os carburantes, o preço médio dos alcoóis, de uma semana para outra, segue pequena variação há quatro semanas. Na semana passada, o álcool anidro nas usinas paulistas foi negociado a R$ 0,964 e o hidratado a R$ 0,85 (ambos sem impostos). Esses valores representam altas mínimas de 0,24% para o anidro e de 1% para o hidratado frente à semana anterior.
Estes fatores que impulsionam os valores para o setor devem ser equalizados em dois anos, segundo o economista da RC, Fabio Silveira. “A procura pelo combustível é crescente e a oferta é enxuta. A expectativa é que a recomposição dos estoques nas usinas aconteça dentro de dois anos”, afirma.
A Datagro, outra consultoria, estima que as exportações brasileiras alcançarão 3,05 bilhões de litros este ano, contra 2,6 bilhões o ano passado. Desse total, 2,4 bilhões de litros sairão do Centro-Sul do país e o restante do Nordeste. A Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo) prevê para esta safra uma redução de 1,9% nos embarques de álcool produzido da região Centro-Sul do país, para 1,9 bilhão de litros. Desse total, 1,45 bilhão de litros será de álcool hidratado e o restante, de anidro.
ESTÁVEL –– O aumento de 10% nesta safra para o álcool hidratado impacta o preço ao consumidor. A avaliação é do presidente da Afocapi (Associação dos Fornecedores de Cana de Piracicaba) José Coral, que acredita num repasse automático para o valor cobrado pelos postos e em preços mais estáveis, sem picos.
Desta forma, o preço ao consumidor variou muito pouco nas últimas duas semanas, em torno de 1%. Conforme levantamento semanal da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), a média para o carburante vendido em Piracicaba cedeu meros 0,77% na semana passada –– com o preço caindo apenas R$ 0,01, para R$ 1,29 o litro.
Porém, segundo os dados apurados pela agência em 35 postos da cidade, houve quedas mais significativas para o valor mais baixo (-3,4%) e para o preço mais alto (-6,7%). O combustível mais em conta foi vendido, na semana passada, a R$ 1,13 –– R$ 0,04 mais barato do que na semana retrasada. No mesmo período comparativo, o hidratado mais caro encontrado foi comercializado a R$ 1,49 o litro.
No Brasil e no Estado de São Paulo, o preço médio também não sofreu grandes variações, -1,3% e -1,5%, respectivamente. Para ambos os cenários, o valor médio cobrado do consumidor pelo álcool caiu R$ 0,02, ficando, na semana passada, em R$ 1,64 para Brasil e R$ 1,32 para o Estado.
Os consumidores consultados pelo Jornal de Piracicaba afirmam que os preços nos postos realmente estão mais altos do que no mesmo período de 2005. Pela média do preço praticado na cidade, o valor do álcool está 24% acima do que o valor pago no ano passado. Tomando como base o valor mínimo, tendo em vista que o consumidor sempre opta por pesquisar a fim de encontrar preços mais baixos, o carburante está 8,6% mais caro do que o mesmo período de 2005.
Sobre o assunto, a professora universitária Mirna Tonus, moradora no bairro Jupiá, afirma que, apesar da valorização do combustível, ainda está compensando abastecer com o álcool. “Na mesma época do ano passado eu pagava (pelo álcool) R$ 1,04. Mas, mesmo com um preço mais alto, continuo optando pelo álcool”, diz ela que é proprietária de carro bicombustível.
Já o torneiro mecânico Eude Ribeiro, residente no Jardim Costa Rica, afirma que novos aumentos vão impossibilitar o uso do carburante. “Acima do que está hoje, eu vou encostar meu carro e começar a andar de bicicleta”, afirma.
Fonte:
Jornal de Piracicaba
Cristiane Bonin Barcella