AL acumula déficits e decepções com a China

09/01/2009

Brasil, Argentina e Chile vão registrar déficit no comércio com a China em 2007, após seis anos de robustos superávits mantidos pelo apetite chinês por minério de ferro, cobre e soja. Esses países assistiram seus lucros nesse comércio minguarem por conta do aumento de até 340% na importação de produtos oriundos da China entre 2003 e 2006.

O déficit comercial é mais um elemento da decepção da América Latina no relacionamento com a China, considerada um sócio estratégico nos últimos anos. “Evidentemente houve um excesso de otimismo”, diz Maurício Claveri, economista da consultoria Abeceb.com. Ele se refere ao clima que dominou a região em 2004, quando o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, visitou a China e o presidente chinês, Hu Jintao, retribuiu a gentileza com uma viagem que incluiu também a Argentina e o Chile.

Com o compromisso de financiar obras bilionárias, Hu Jintao voltou para Pequim em 2004 com um trunfo político: o reconhecimento da China como economia de mercado por Brasil e Argentina. Mas suas promessas de investimentos ficaram apenas nas folhas dos tratados bilaterais. O continente recebeu US$ 2,8 bilhões em investimentos da China em 2005, o que significa menos de 6% dos US$ 47 bilhões que atraiu globalmente, segundo estatísticas do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). No Brasil, os chineses investiram US$ 14,8 milhões em 2004, último dado disponível, e US$ 134,5 milhões até 2004, conforme o Ministério do Comércio da China.

Com exceção de Brasil, Argentina e Chile, que são ricos em commodities, e do Peru, as demais nações da América Latina aprofundam seu déficit no comércio bilateral com a China, revelam dados do BID. O México, concorrente da China em manufaturados, registra déficit de US$ 16 bilhões com o país.

Grande produtor de minério de ferro e soja, o Brasil obteve, em 2003, o maior saldo comercial de um país do continente com a China: US$ 2,2 bilhões. Desde então, o superávit brasileiro com a China encolheu e encerrou 2006 em US$ 410 milhões. Na Argentina, a trajetória foi semelhante: o saldo positivo de R$ 1,8 bilhão de 2003 cedeu para US$ 523 milhões.

Fonte:
Valor Online
Raquel Landim