Acordo entre Argentina e Clube de Paris beneficia o Brasil
30/05/2014
Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires
Entusiasmo, mas com cautela. Assim os analistas econômicos e empresários argentinos receberam a notícia de um acordo financeiro esperado por 13 anos. Para o Brasil, essa é uma boa notícia: à medida que a Argentina tiver acesso a dólares, deverá afrouxar as barreiras às importações. Com isso, diminuem as restrições aos produtos brasileiros. Mas isso provavelmente só ocorrerá a médio e longo prazos.
Para os economistas argentinos em geral, o acordo vai na direção correta. Isso porque ele permite o começo de um processo de futuros créditos de organismos internacionais para e de investimentos dos 19 países que formam o Clube de Paris para as filiais de empresas desses países na Argentina.
A cautela do entusiasmo é porque esse processo de retorno da Argentina ao mercado de crédito internacional não será imediato. Provavelmente não terá impacto durante o mandato de Cristina Kirchner que termina em dezembro em 2015. A economia argentina convive com uma inflação galopante e dá sinais de recessão, uma combinação que não gera confiança para os investimentos.
Por isso, a bolsa de Buenos Aires subiu apenas 1,95%. Mas o verdadeiro teste deve ser nesta sexta-feira já que uma greve bancária ontem paralisou os negócios por aqui.
Quem não teve nenhuma cautela e nem se conteve de entusiasmo foi a presidente Cristina Kirchner, quem destacou que o acordo não terá a supervisão do FMI, uma condição imposta pela Argentina.
"É a primeira vez na história do Clube de Paris que um país nas nossas condições negocia com este organismo multilateral sem a intervenção do Fundo Monetário Internacional e sem resignar a autonomia que todo país soberano deve ter para decidir as suas políticas econômicas e sociais", discursou Cristina Kirchner em rede nacional nesta quinta-feira.
Primeira parcela será paga em julho
Da dívida atual de U$ 9,7 bilhões, o governo de Cristina Kirchner vai pagar apenas U$ 1,15 bilhão. O restante ficará para o próximo presidente. A primeira parcela, de U$ 650 milhões, será paga em julho. A segunda, de U$ 500 milhões, dentro de um ano. Os juros caem de 7% a 3% ao ano.
O acordo tem uma outra particularidade: se os 19 países que formam o Clube de Paris investirem firme na Argentina, o país se compromete em pagar a dívida em até 5 anos. Se os investimentos não vierem como o esperado, o pagamento total levará sete anos.
Fonte:
RFI