Taxa Selic deve cair nos próximos meses
09/01/2009
A retirada da expressão “por um período suficientemente longo” da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou as apostas em corte de juros na próxima reunião de setembro.
Os economistas são unânimes em afirmar que os índices de inflação já deixam espaço para a queda da taxa básica de juros (Selic). O lado negativo é a crise política, que pode ampliar a volatilidade dos ativos, como o câmbio. A perspectiva do mercado é de que o comportamento dos preços este ano, medido pelo IPCA, fique próximo à meta perseguida pelo Banco Central de 5,1%.
“Em setembro ou outubro, o BC já pode cortar a Selic. A perspectiva é de que a taxa caia para 18% até o final do ano. O BC pode até esperar mais um mês, porém a tendência é de queda”, diz o presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) e vice-presidente do Itaú, Alfredo Setúbal. A crise política, segundo Setúbal, tem tirado a pressão sobre o BC e pode justificar a manutenção da taxa por mais um mês. “Não tem porque manter um juro real em cerca de 15% com a inflação estando próxima à meta. Ao mesmo tempo a redução da Selic pode compensar a crise política, criando um ambiente mais favorável”, ressalta.
Na avaliação do economista chefe do Goldman Sachs, Paulo Leme, a Selic deveria ter caído desde a semana passada. ”Os objetivos do Banco Central já foram alcançados com a queda da inflação e das projeções, mas a política monetária não é uma ciência exata”, resume. Leme acredita que a ata deste mês abre espaço para o corte de juros em setembro. “O BC reconhece que o esforço trouxe bons resultados. A sutileza é de que a trajetória de redução será mais cautelosa do que o mercado espera, ou seja, mais pausada e não agressiva”, diz. Para Leme, o limite inferior para a Selic no fim do ano é de 17,75%.
O documento divulgado ontem também aponta riscos. Os ganhos da inflação não são permanentes. “A atividade deverá continuar em expansão, mas em ritmo condizente com as condições de oferta, de modo a não resultar em pressões significativas sobre a inflação”, conta o documento. Além disso, há o risco do aumento do preço do petróleo, estimado como “significativamente maior” do que o avaliado na reunião de julho. “O Copom enfatiza que o principal desafio da política monetária nesse contexto é de garantir a consolidação dos desenvolvimentos favoráveis que se antecipam para o futuro”, afirma a ata.
O ex-diretor do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo, da Mauá Investimentos, observa que a ata deu graus de liberdade ao Copom para que o colegiado possa tomar novos passos. “A impressão é que se iniciará o processo de queda já em setembro. O importante é o processo inflacionário que mostra a clara conversão para as metas”, destaca. Quanto ao peso da crise política na Selic, Figueiredo lembra que o objetivo é a inflação, mas este é um fator de incerteza.
A decisão do BC foi coerente com a meta. “Para atingir o 5,1% foi necessário manter os juros por mais um mês. O próximo mês depende dos aspectos políticos, se houver mudanças o mercado fica nervoso e reduz o espaço para a Selic cair”, destaca o diretor presidente do Banif Primus, Paulo Pinho. A inflação medida pelos índices ao atacado (IGPs e IPAs) mostra que o próximo ano será de preços controlados.
Krugman critica política monetária brasileira
O professor Paul Krugman, da Universidade de Princeton, um dos economistas mais renomados do mundo, criticou a política monetária brasileira no 2° Congresso Internacional de Derivativos e Mercado Financeiro da BM&F. Na opinião do economista, com juros reais entre 13% e 14%, o Banco Central poderia conseguir resultados mais favoráveis no combate à inflação. “Taxas como essas seriam impensadas nos Estados Unidos. É difícil entender porque os juros no Brasil são tão elevados”, comparou.
Na análise de Krugman, se ocorresse o corte de juros agora, a economia brasileira não entraria em um ciclo de hiperinflação. “Há mais espaço para manobras. A taxa precisa cair logo. Os juros reais acima de 10% não podem permanecer por um muito tempo. Fiquei surpreso com a manutenção da Selic, mas não acredito que algo de diferente esteja acontecendo”, ressalta o economista. Na avaliação do economista, tendo em vista o ágio em comparação com os juros europeus e norte-americanos, a taxa real brasileira, considerada normal seria entre 8% e 9%. Krugman aposta na manutenção dos fundamentos da economia brasileira e diferencia a crise política atual da que ocorreu na era Collor. Sobre o futuro, Krugman não se diz muito confiante, mas entende que o fato de o mercado não estar “apavorado” com o comportamento da economia já é um progresso considerável. Além da crise política, o Brasil corre o risco da reversão da arquitetura econômica global, diz.
O economista estima que a bolha imobiliária norte-americana deve estourar até março ou abril do próximo ano. O pico do mercado imobiliário já passou e levam alguns meses para que a crise estoure. O impacto, porém, não deve ser muito forte para os países emergentes. “Deve haver um choque desagradável na economia mundial em alguns anos. Não é nada catastrófico, mas não ficaria surpreso se isso ocorresse nos próximos três anos”, alerta (AB).
Fonte:
Jornal do Comércio
Ana Borges
26/8/2005