ONU: País desperdiça 70 mil toneladas em alimentos por ano

10/08/2008

Em tempos em que a demanda mundial por alimentos impulsiona a inflação, o Brasil desperdiça, por ano, cerca de 70 mil toneladas de comida, segundo relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). Além disso, 64% do que é plantado se perdem entre colheita, transporte, processamento e hábitos alimentares.

 

Segundo estudo da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), só no transporte rodoviário de grãos o prejuízo anual é de pelo menos R$ 2,7 bilhões. Os produtores e distribuidores não são os únicos culpados. Dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) indicam que família de classe média joga no lixo, por ano, 182,5 quilos de alimentos próprios para o consumo.

Diferentes estudos apontam estimativas variadas quanto às dimensões do prejuízo causado pelo desperdício. Os dados sobre o Brasil no relatório da FAO usam levantamento do Instituto Akatu publicado em 2003. Os cálculos do descaso: R$ 12 bilhões por ano.

O consultor de assuntos de logística e estrutura da CNA, Luiz Antônio Fayet, ressalta que é difícil estimar em números o prejuízo com as perdas na safra de grãos, devido à intensa variação nos preços nos últimos 12 meses. ­

"O Brasil é privilegiado em capacidade de produzir alimentos e bens do agronegócio",­ disse o especialista. ­"Do potencial de terras ainda por incorporar, o país tem um quarto do que o mundo dispõe. Na lavoura, fatores como a regulagem inadequada das máquinas, falta de treinamento dos operadores e manejo descuidado dos cultivos são algumas das causas das perdas."

Legislação impede doações
O presidente das Centrais de Abastecimento do Rio de Janeiro (Ceasa), Ernesto Pamplona, avalia que cerca de 10 toneladas de alimentos eram desperdiçadas por semana na Central Grande Rio, em Irajá. Para combater esse desperdício, a Ceasa implantou, há cinco anos, o Programa Panela Cheia, que recolhe, no fim do dia, doações de frutas e legumes dos comerciantes. Os produtos são distribuídos a famílias carentes e entidades sociais cadastradas no programa.

Do Ceasa, os alimentos seguem para as feiras livres ou até restaurantes, onde não há programas desse tipo, por causa da legislação que impede a doação de sobras. A xepa amontoa-se no chão e é recolhida por quem depende dela para sobreviver. ­ Nós fizemos um trabalho de conscientização dos produtores, e agora recolhemos os produtos que eles não consideram que estejam em boas condições de venda, mas que ainda estão próprios para o consumo ­ conta o presidente da instituição. ­ Antes, tudo isso era jogado fora.

 

Fonte:
JB Online