Morto pela polícia britânica era brasileiro
09/01/2009
O mineiro Jean Charles de Menezes, 27, sem conexão com atentados, foi baleado em estação de metrô na sexta
Jean Charles de Menezes, 27, brasileiro nascido em Gonzaga, interior de Minas Gerais, morava havia cerca de quatro anos em Londres. Na última sexta-feira de manhã, havia saído de casa para fazer um serviço de eletricista, mas nunca chegou a seu destino.
Pouco depois das 10h, foi morto por engano com cinco balas na cabeça por policiais britânicos dentro de um vagão de metrô. A polícia londrina assumiu ontem o erro fatal, que classificou como “tragédia”. Os agentes pensaram que Menezes era terrorista.
“Não consigo acreditar nisso. Mataram meu primo pelas costas. Atiraram na nuca dele. A grande causa da morte do Jean é a incompetência da polícia inglesa”, disse ontem Alex Alves Pereira, 28, logo após reconhecer o corpo de Menezes, por volta das 19h.
Pereira, que trabalha como motoboy em Londres, assim como outros de seus três primos que vivem aqui, estava indignado com a morte de Menezes. As autoridades britânicas haviam lhes dito que o eletricista era inocente.
A informação corrigia o que a própria Scotland Yard informara na véspera. Quando confirmou a morte de um “suspeito” na estação de metrô de Stockwell, Ian Blair, comissário da polícia londrina, havia dito que a ação “tinha ligação direta” com as investigações dos atentados ocorridos na última quinta-feira, quando quatro terroristas tentaram explodir bombas em três estações de metrô e um ônibus em Londres.
Afirmou ainda que os policiais haviam atirado porque o homem teria saído de uma residência que estava sob vigilância, se negara a obedecer instruções e teria corrido para dentro do metrô. Acrescentou que o homem baleado e morto usava “roupas suspeitas”.
Ainda na noite de sexta, a polícia começava a desvendar o que classificou de “tragédia”.
Pouco depois da 1h de sábado, Gésio de Ávila, amigo de Menezes, recebeu um telefonema estranho de um homem que se identificou como detetive da polícia e queria ir até casa.
Ávila trabalha com obras em Londres e, anteontem, sairia para fazer a instalação de um sistema de alarme em Kilburn (noroeste da capital) com Menezes, que cuidaria da parte elétrica. Pouco depois das 9h, Menezes ligou para ele para dizer que chegaria atrasado, mas estava a caminho.
Ávila diz que tentou ligar para Menezes várias vezes ao longo do dia e deixou mensagens na secretária eletrônica de seu celular.
“Deixei meu irmão no centro e depois liguei para o Jean, mas não consegui contato. Pensei que ele tinha conseguido pegar o metrô. Depois fiquei tentando o dia todo e nada. Mal sabia que já estava morto”, disse Ávila à Folha.
Segundo Ávila, os policiais chegaram à sua casa, fizeram perguntas sobre Menezes, disseram que ele era suspeito numa investigação e pediram que ele reconhecesse foto do amigo. “Dei as informações que foram me pedindo. No fim, o policial falou: “Não temos boas notícias para você. Se estamos falando da mesma pessoa, seu amigo está morto”. Eu não conseguia acreditar no ouvia.”
Ávila conta que, além do choque, estava perdido porque não tinha contato com a família de Menezes. Não dormiu à noite toda e, ontem de manhã, se lembrou de que tinha o telefone de amigos do brasileiro morto. Por deles, conseguiu o endereço do eletricista -que morava em Brixton, região sul de Londres, próxima à estação de Stockwell, onde a polícia matou o eletricista.
Acompanhado de Alex Pereira, Ávila foi a uma delegacia próxima a Brixton, onde marcou encontro com o detetive que estivera em sua casa. Os policiais mostraram aos dois fotografias do homem morto e perguntaram se era Menezes. Quando Pereira confirmou o fato, o detetive pediu que chamassem o resto da família.
Quando Alessandro Alves Pereira, irmão de Alex, Vivian Menezes Figueiredo e Patrícia da Silva Armani -três primos do brasileiro- chegaram, por volta das 16h, foram informados de que Menezes fora morto por engano na véspera. Pouco antes, a polícia soltou comunicado dizendo que o homem que matara na sexta de manhã não era ligado aos ataques terroristas do último dia 21.
“Que alguém perca a vida nessas circunstâncias é uma tragédia que a polícia metropolitana lamenta”, dizia o comunicado.
Fonte:
Folha de S.Paulo
ÉRICA FRAGA
24/7/2005