O crescimento e os pobres
09/01/2009
DO “NEW YORK TIMES”
O ano passado deveria ter sido positivo para os pobres da América Latina, pois as economias da região cresceram 5,8%. Mas, excluído o Chile, o alto índice de crescimento latino-americano não é motivo para comemoração. Em lugares com distribuição de renda relativamente igualitária, o crescimento beneficia a todos. Mas nos países muito desiguais o crescimento deixa de lado os mais pobres.
A América Latina é a região mais desigual do mundo. Isso significa que o crescimento não vai reduzir a pobreza, a não ser que os governos latino-americanos o redirecionem aos pobres.
A primeira coisa que precisam fazer é continuar crescendo. Infelizmente, a maior parte dos países latino-americanos está crescendo não porque conseguiram melhoras na produtividade, mas devido à alta nos preços do petróleo e de outras mercadorias, expansões rápidas que normalmente se prestam a ciclos de contração igualmente rápidos.
Muitos países também arcam com dívidas nacionais muito superiores ao nível considerado sustentável e gastam parcela considerável de seus tesouros mantendo em dia os juros de suas dívidas. Para três países pobres -Honduras, Nicarágua e Bolívia- os bancos internacionais e os países que os financiam estão promovendo a redução de suas dívidas. Mas não há ajuda à vista para os muito endividados, como o Uruguai, Peru, Argentina e Brasil.
As nações latino-americanas geralmente arrecadam pouco em impostos. Para reduzir a pobreza com os recursos de que efetivamente dispõem, os países latino-americanos fariam bem em seguir o modelo estabelecido pelo Chile, que cortou a pobreza extrema no país em 65%, de 1990 para cá. O Chile faz pagamentos diretos aos domicílios mais pobres. Investiu na educação primária rural e na ajuda às pessoas mais pobres para comprar casas. Os programas vêm obtendo sucesso porque o governo do Chile é eficaz o bastante para medir que famílias precisam de ajuda e propiciá-la com pouca corrupção.
Outros países têm programas semelhantes, mas, em muitos deles, esses programas precisam de supervisão constante, para impedir que os políticos locais desviem as verbas.
Em termos gerais, porém, assistência direcionada desse tipo pode fazer diferença. Com o crescimento sustentado, esses programas poderiam ajudar a tirar milhões de pessoas da pobreza.
Folha de S.Paulo
29/5/2005
Tradução de Paulo Migliacci