Múltis usam país como base exportadora

09/01/2009

Empresas elegem o Brasil como centro de fabricação de produtos vendidos para o mundo todo; itens vão de turbinas a sabonetes.

As multinacionais estão transformando o Brasil em plataforma de exportação. Gigantes como as alemãs Mercedes-Benz, Continental, Voith, Siemens e Basf, a anglo-holandesa Unilever, as americanas Ford e Motorola e a dinamarquesa Novo Nordisk elegeram suas unidades locais como centros de produção de alguns itens dos seus portfólios para exportá-los para o resto do mundo.

Essas companhias embarcam nos portos e aeroportos brasileiros desde gigantescas turbinas, geradores para hidrelétricas e veículos até medicamentos, insumos químicos, celulares, centrais telefônicas e sabonetes.
Esse movimento, que vem crescendo desde 1999 com a mudança da política cambial, ajuda a robustecer a balança comercial do país e desenvolve competência e tecnologia locais.

Das 40 maiores exportadoras, responsáveis por 41% das vendas externas brasileiras, 22 são transnacionais. De janeiro a agosto, despacharam para o resto do mundo mercadorias no valor de mais de US$ 12 bilhões, segundo os dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

No entanto, o país está longe do que ocorre na China e na Índia, onde os governos têm políticas para atrair investimentos em novas fábricas voltadas para exportação. “No Brasil, há um processo passivo, mais ligado à estratégia das empresas do que a políticas do governo”, diz Antonio Corrêa de Lacerda, presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica).

Foi na esteira de uma união estratégica -a joint venture entre a Voith e a Siemens- para fabricar turbinas e geradores para hidrelétricas que o Brasil virou centro de excelência mundial nesses produtos, em 2000. “Naquele ano foram criadas Voith Siemens Hydro em 13 países, sendo a do Brasil a maior e a mais importante”, diz Julio Fenner, presidente no país.
“Todos os geradores vendidos pelo grupo no mundo saem do Brasil”, afirma. A empresa é a maior fabricante de turbinas para hidrogeração de energia do grupo e foi uma das fornecedoras da maior hidrelétrica do mundo, a de Três Gargantas, na China.

As plataformas de exportação começaram a surgir pelo mundo afora no início dos anos 90, quando as multinacionais passaram a definir centros de competência, por grupos de produtos, com a alocação em diferentes pontos do planeta. O objetivo era atingir mercados regionais ou explorar competências locais como parte de sua estratégia global e racionalização da produção.

Mas, na época, o Brasil ficou fora desse processo devido à inflação, ao câmbio fixo e à instabilidade econômica. Foi para os países da Ásia que as múltis voltaram seus olhos, atraídas pela política cambial e principalmente pelo tamanho dos mercados potenciais.
Um projeto de plataforma de exportação somente se viabiliza com produção em larga escala. E, para isso, é fundamental que o país escolhido tenha um grande mercado para dar sustentação ao investimento e reduzir o custo unitário de produção.
País passou a plataforma de vendas em 99

Com a mudança da política cambial, em 1999, o Brasil entrou na rota das plataformas de exportação das multinacionais. Além do câmbio, o que tem atraído essas empresas é o fato de o país ser o 9º PIB mundial por paridade de poder de compra, segundo classificação do Banco Mundial.
A Unilever, por exemplo, decidiu em 2000 instalar sua terceira fábrica mundial de sabonetes Dove -as outras são nos EUA e na Alemanha. Com capacidade para produzir 12 mil toneladas anuais, a fábrica instalada em Valinhos (SP) exporta 3.000 toneladas por ano para a América Latina. O fato de ter custos e escalas competitivas, segundo a empresa, determinou a escolha do país.
Hoje, segundo Mario Mugnaini, secretário-executivo da Camex (Câmara de Comércio Exterior), “não é só a política interna das multinacionais que as leva a colocar plataformas exportadoras no país”. “O Brasil tem atrativos que nos permitem disputar investimentos com outros países.”
Segundo Mugnaini, “estabilidade econômica, inflação estável, mão-de-obra abundante e de qualidade e um parque industrial desenvolvido, capaz de fornecer matérias-primas e componentes, atraem projetos”. Ele cita como um exemplo a decisão da alemã Continental, a maior fabricante mundial de pneus, de instalar uma fábrica no Brasil.
Há alguns dias, a empresa deu início às obras da nova unidade, em Camaçari, na Bahia, onde vai investir US$ 260 milhões. Ali, a partir de 2006, serão produzidos 6 milhões de pneus para automóveis e 700 mil para veículos de carga, por ano -70% irão para os EUA, o Canadá e o México.
Segundo a empresa, Camaçari foi escolhida entre dez opções. De acordo com Renato Sarzano, superintendente para a América Latina, o que pesou foi “a localização estratégica, a estabilidade política, a qualidade da mão-de-obra e a infra-estrutura logística”.

Folha Dinheiro